IMMANUEL KANT
A educação, portanto, é o maior e o mais difícil problema que pode ser proposto aos homens. De fato, os conhecimentos dependem da educação e esta, por sua vez, depende daqueles. Por isso, a educação não poderia dar um passo à frente a não ser pouco a pouco, e somente pode surgir um conceito da arte de educar na medida em que cada geração transmite suas experiências e seus conhecimentos à geração seguinte, a qual lhes acrescenta algo de seu e os transmite à geração que lhe segue.
KANT, I. Sobre a Pedagogia. Piracicaba: UNIMEP, 1996. p. 20.
Uma vez que as disposições naturais do ser humano não se desenvolvem por si mesmas, toda educação é uma arte. A natureza não depositou nele nenhum instinto para essa finalidade. A origem da arte da educação, assim como o seu progresso, é: ou mecânica, ordenada sem plano conforme as circunstâncias, ou raciocinada. A arte da educação não é mecânica senão em certas oportunidades, em que aprendemos por experiência se uma coisa é prejudicial ou útil ao homem. Toda arte desse tipo, a qual fosse puramente mecânica, conteria muitos erros e lacunas, pois que não obedeceria a plano algum.
A arte da educação ou pedagogia deve, portanto, ser raciocinada, se ela deve desenvolver a natureza humana de tal modo que esta possa conseguir o seu destino. Os pais, os quais já receberam uma certa educação, são exemplos pelos quais os filhos se regulam. Mas, se estes devem tornar-se melhores, a pedagogia deve tornar-se um estudo; de outro modo, nada se poderia dela esperar e a educação seria confiada a pessoas não educadas corretamente. É preciso colocar a ciência em lugar do mecanicismo, no que tange à arte da educação; de outro modo, esta não se tornará jamais um esforço coerente; e uma geração poderia destruir tudo o que uma outra anterior teria edificado.
KANT, I. Sobre a Pedagogia. Piracicaba: UNIMEP, 1996. pp. 21-22.
CORNELIUS CASTORIADIS
Nossa relação com a história da filosofia cria, por si só, uma questãofilosófica de primeira grandeza – o que é natural, já que toda reflexão étambém auto-reflexão, e a reflexão não começa hoje. Dos múltiplosaspectos dessa questão, um é particularmente importante aqui. Ruptura dofechamento, a reflexão tende, no entanto, demaneira irresistível, a sefechar novamente sobre si mesma. Isso é inevitável... já que, de outromodo, a reflexão se limitaria a ser um ponto de interrogação indeterminadoe vazio.
Mas a verdade da filosofia é a ruptura do fechamento,desestabilização das evidências recebidas, inclusive e sobretudo asfilosóficas. Ela é esse movimento, mas um movimento que cria o solo sobreo qual caminha, e que não é, nem pode ser uma coisa qualquer – ele define,delimita, forma e determina. 0 próprio de uma grande filosofa é permitirque se vá além de seu próprio solo, e inclusive incitar a isso. Como elatende – e deve tender – ao compromisso com a totalidade do pensável,tende a fechar-se sobre si mesma. Mas, se é grande, nela encontraremos,ao menos, as evidências de que o movimento do pensamento não pode sedeter aí e até parte dos meios para prossegui-lo. Tanto uns quanto outrostomam a forma de aporias, de antinomias, de francas contradições, denódulos heterogêneos.
CASTORIADIS, C. Feito e a ser feito; as encruzilhadas do labirinto V. Rio deJaneiro: DP&A, 1999. p. 27.
A pedagogia começa na idade zero, e ninguém sabe quando termina. O objetivo da pedagogia – falo,evidentemente, de um ponto de vista normativo – é ajudar o recém-nascido, esse hopeful and dreadfulmonster a tornar-se um ser humano. O fim da paidéia é ajudar esse feixe de pulsões e de imaginação atomar-se um anthropos, no sentido indicado mais acima, de um ser autônomo. Podemos também dizer,lembrando Aristóteles: um ser capaz de governar e ser governado.
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