Anjo de Asas Leves

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-Olha só, vejam oque temos aqui. Se não é a mais recente tenente da Irmandade do Aço! - Falou o homem de curtos cabelos acinzentados, com um tom de empolgação na voz e um sorriso no rosto pálido e esbelto. Ele estava em um quarto empoeirado, com pouca mobília e muito mofo. À sua frente havia uma mulher dotada de grandes músculos, que mal eram vistos por conta de sua armadura de cota de talas, seu rosto era severo marcado pelas batalhas no campo de guerra, seu cabelo era curto e castanho.
-Se eu não te conhecesse muito bem diria que você é um anjo, - Falou a mulher. - mas acontece que te conheço muito bem, então para de enrolar e vá direto ao plano.
-Calma, meu amor... - Replicou o sujeito com voz meiga - Acontece que sou um anjo sim, mas minhas asas são leves e acompanham o vento, é com este que você deve tomar cuidado. De qualquer forma, prossigamos...

Todo a cidade que rodeava o Forte Grock estava perplexa e ardendo de agitação, ninguém ousava acreditar que Zaglif dos mil furtos fora capturado e estava ali, diante de seus olhos, sendo carregado por um batalhão de soldados por através de uma fila na multidão. Caminhando à passos pesarosos enquanto seus captores o empurravam acorrentado para o caminho de sua cela, de onde mais tarde sairia para se levado à forca, onde seria executado, dando assim, fim ao seu legado de incapturável. Porém, se ninguém ousava acreditar, muito menos ousava expressar essa descrença, confiante de que sua voz seria ouvida por um sentinela de plantão, e logo considerados traidores da Irmandade.
Era em meio à toda essa atenção que Zaglif caminhava, e, embora parecesse gelar de terror por fora, seu sangue pulsava de excitação a cada passo, seu rosto mal capaz de reprimir um sorriso.
-É bom que você não fuja sem antes pagar por tudo oque roubou, desgraçado. - Falou a tenente de cabelos castanhos, em seu peito estampado um Pássaro Branco com Chamas Negras saindo de sua barriga. -Mas duvido que depois de pagar você vá conseguir ao menos respirar.
-Isso é oque veremos. - Sussurrou Zaglif, sendo repreendido com um soco nas costelas por parte da tenente.

Após ser jogado na cela como um saco de batatas, Zaglif pega a chave que fora colocada gentilmente pela dama de cabelos castanhos em seu colete velho. Puxa um caco de espelho do bolso e o usa para garantir que o corredor está livre. Após isso, ele abre a porta e sai em disparada, apagando imediatamente o único guarda que estava de vigia no local.
-Que audácia! Pedi pra pegarem leve na segurança, mas isso é uma desgraça para meu nome, tenho uma má reputação à zelar! - Reclama Zaglif enquanto troca suas roupas com a do guarda... Após sair do local ele troca de turno com outro soldado, que não percebeu nada de errado. Sai andando pelo calabouço até encontrar a saída, após alguns minutos ele a encontra. Sobe as escadarias despretensiosamente, porém, com um objetivo em mente, a Sala do General responsável pela segurança da prisão. Após pouco tempo subindo ele a encontra, uma sala cuja entrada consiste de uma porta de madeira reforçada com barras de metal fundido, e na qual o nome do general está escrito. Logo depois de garantir que não há ninguém em volta ele bate na porta, sem resposta... Porém o perigo se aproxima, ele ouve som de passos quase virando a esquina. Pega um par de arames dos sapatos e rapidamente abre a porta, a fechando logo em seguida atrás de si, poucos centésimos antes de um soldado inocentemente virar a esquina para seguir o corredor e descer as escadas, passando em frente à porta sem nem imaginar quem poderia estar lá. Zaglif caminha até uma escrivaninha de madeira e começa a remexer as gavetas, pega alguns documentos de uma delas, logo em seguida tatea a mobília e em poucos minutos encontra um compartimento secreto na lateral. De lá ele retira algumas cartas, uma das quais estava ainda fechada, e em nenhuma delas havia a assinatura do remetente ou destinatário. Ele as guarda no bolso.
-Tudo bem, onde ele disse que estaria mesmo? Sim, naquele monte de papéis em branco.
Ele se dirige à uma cadeira no canto da sala, sobre a qual estava uma pilha de folhas de pergaminho ainda em branco, retira uma parcela delas de cima e as põe na superfície da escrivaninha, revelando, sobre o local de onde elas estavam, um punhado de diamantes tão cristalinos quanto as águas claras de uma nascente intocada. Ele os pega e volta à escrivaninha, anotando algo numa folha de pergaminho e logo em seguida pulando a janela que havia no cômodo.

Os guardas e civis abaixo, que se espremiam em busca de um luga na praça de execução ficaram atônitos com a cena que presenciaram. Um sujeito, condenado à forca logo mais cedo, saindo à toda vista da sala de um general da Irmandade do Aço! Depois de esfregar os olhos, um dos guardas ordena aos outros que persigam o homem. Porém estes não podiam fazer mais nada, Zaglif desaparecera pulando no meio da multidão, após gritar aos quatro ventos que "Fora uma honra fazer negócios com o general." e jogar moedas de platina no ar, causando ainda mais tumulto nos cidadãos, cada qual desesperado para garantir um trocado... Ou fora isso que a Tenente disse em seu relatório ao General.
-Você acha que eu vou engolir essa história de merda assim, Tenente?! Eu sei muito bem que você tramava com ele a minha queda para tomar meu lugar! Porém... - o General agita os dedos da mão e os fecha em um punho, fazendo-o estalar. A Tenente se inclina para falar e pergunta relutante, com suor escorrendo pela face e a voz presa à garganta:
-P-porém?... - Ela engole em seco.
-Porém eu agora tenho problemas para resolver, e é bom que você o traga de volta. Porque lhe garanto que vou por o seu pescoço naquela corda se ele não a vier ocupar. Saia, está despensada! - Grita o General em tom ríspido, e com as veias pulsando no rosto, apontando para a saída.
A Tenente sai da sala aos tropeços e tranca a porta atrás de si, furiosa. Mal capaz de contar as lágrimas e o acesso de raiva ela se pergunta como ele sabia que fora ela quem tramara aquela situação. Ela já sabia a resposta, e ela vinha em junto de um rosto em sua mente. "Acontece que sou um anjo sim, mas minhas asas são leves e acompanham o vento."

Anjo de asas levesOnde histórias criam vida. Descubra agora