Porque não?

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*POV Maísa

-Meu Deus, que mina maluca.

Cirilo falou em um desabafo. Provavelmente estava segurando o pensamento há um tempo.

-Pois é, Sherlock.

-Ei!- ele respondeu indignado, empurrando levemente meu ombro.

-Mas fala aí, o que você quer fazer? Se quiser, eu te levo de volta pra casa.

-De que adianta fugir? Eu estudo com essa garota, não é como se não tivesse que ver ela todos os dias. Acho que o que nos resta agora é entrar e aproveitar a festa.

Cirilo então pegou minhas duas mãos nas suas e deu um de seus famosos sorrisos.

-Então vamos fazer ser a festa mais inesquecível de todas, gatinha!

Olhei nos olhos castanhos do meu melhor amigo e sorri com sinceridade. Confesso que fiquei animada com a ideia. Afinal, o que poderia acontecer de ruim se eu aproveitasse as coisas boas da vida de vez em quando?

Entramos juntos no prédio de mãos dadas, finalmente.

O lugar estava lotado, para dizer o mínimo. A cada canto que eu olhava, via massas e massas de pessoas. Via os olhares surpresos de meus colegas de classe fúteis, a "elite" do pedaço. Não só da minha escola, mas de todo o Rio de Janeiro. Eu reconhecia a maioria dos rostos da lista de solicitações de seguidores em minhas redes sociais.

Esse povo é maluco, eles acham que só por que somos ricos, temos que andar como um bando de abelhas. E claro, tem as operárias, que seguem sempre a rainha. A rainha mais rica, mais bonita, e por último, mas não menos importante, a mais poderosa.

Acho que, por minha família ser uma das mais influentes da cidade, todos esperavam que eu fosse preencher esse cargo. Afinal, meu pai era dono da maior empresa do estado do Rio de Janeiro.

O que eles não esperavam, no entanto, era minha completa falta de interesse em coisas como a falsa noção de poder e superioridade no ambiente escolar.

Por Deus, eu tenho 18 anos, uma adulta praticamente, tenho que me preocupar em como assumir os negócios da família, não com qual sapato combina melhor com a minha roupa, ou como eu era vista pelos olhos fúteis dos meus colegas.

Por isso, a digníssima Larissa Manoela, ocupou o lugar que era supostamente meu.

E além disso, fazia da minha vida um inferno sem motivo nenhum. Talvez ela estivesse me castigando por negar o lugar que ela estimava com tanta ambição.

Apesar de tudo, eu admiro a Larissa. Mesmo não vindo de uma família tão rica quanto os outros alunos, ela ainda conseguiu fazer com que todos comessem na palma da sua mão. Apenas com o seu carisma, e atitude intimidadora.

Que me faziam querer mudar que sentimentos eu tinha pela ruiva.

Mas isso é um assunto que eu prefiro empurrar para BEM fundo no meu cérebro.

Eu e Cirilo desviamos dos olhares até chegarmos ao que parecia uma pista de dança.

No teto havia um lustre enorme, iluminado com luzes de coloridas que deixavam reflexos por toda a extensão do chão de mármore.

As enormes janelas e pilastras que cobriam o grande salão estavam tapadas com decorações e faixas temáticas da festa.

Era impressionante ver como aquele edifício, que possuía uma arquitetura mais clássica, ser tomado com toques claramente adolescentes. No fundo, era possível ver um palco montado, com vários instrumentos e pessoas que pareciam se organizar para algum show. Mas como eu vim para este lugar sem nenhuma noção de como era, eu não fazia ideia de que tipo de show poderia acontecer aqui.

Meus olhos foram das decorações improvisadas para o meu amigo Cirilo, que estava focado em outro tipo de beleza. O garoto estava ali há 5 minutos no máximo e já trocava olhares galanteadores com uma menina.

Realmente, a garota era muito bonita. Seus cabelos ruivos pareciam labaredas de fogo que cobriam seu rosto cheio de sardinhas adoráveis. Seus olhos castanhos eram pequeninhos e redondos, que brilhavam em direção a Cirilo, que a fitava com uma expressão parecida no rosto.

O meu amigo então me olhou com sua cara de pidão, como se pedisse permissão para ir falar com ela.

-Pode ir, Cirilo, eu me viro sozinha.

Um sorriso enorme substituiu sua expressão de súplica e ele logo me deu um beijo na bochecha como agradecimento.

-Valeu, Má! Eu juro que volto daqui a uns 10 minutos!

-Tudo bem, Cirilo, eu sei que não posso competir com os seus instintos paqueradores.

-Por isso você é a minha favorita!

Observei meu amigo ir até a garota e susurrar algo em seu ouvido, que a fez gargalhar. Forcei um sorriso para não demonstrar o que realmente eu estava sentindo, que era pânico.

Eu nunca fui numa festa como essa, o que eu deveria fazer sozinha?

Olhei ao meu redor e tudo que eu via era a multidão formada pelas pessoas que eu mais odiava.

Eu me senti no clipe de "Here" da Alessia Cara. Por que eu aceitei esse convite idiota? Não tem nada nem ninguém nessa festa que poderia me entreter. Nunca quis tanto voltar para minha casa, para minha cama, para os meus livros e séries, onde eu entrava num universo que, mesmo que fictício, me deixava mais feliz que viver minha própria vida.

Até que eu olhei para trás e vi uma das duas pessoas que seriam a minha perdição naquela noite.

O bartender, que preparava hábilmente as bebidas e drinks da festa. A bancada do bar era iluminada apenas por uma luz neon roxa. O rosto do rapaz era pouco visível, mas ele parecia ter em torno de 25 anos. Atrás dele, haviam três prateleiras lotadas de garrafas de bebidas de todos os tipos, sabores e tamanhos.

O principal pensamento que me fez caminhar até o bar e destruir minha noite foi:

"porque não?"

E assim, com toda a simpatia do mundo, eu me dirigi ao simpático homem do bar.

-Moço, me vê um copo de whisky, por favor.

E foi ali que tudo começou a desandar.

Maísa E Larissa Manoela Caem No Soco Onde histórias criam vida. Descubra agora