Entre a Coroa e a Redenção

👑 Capítulo 8 ✝

Muitos pensamentos e temores invadiram a minha mente.
Lembrei-me da expressão de nojo que havia no rosto do meu irmão e da dor que eu senti quando ele disse que eu não poderei ir à seu casamento.

 Lembrei-me da felicidade que minha irmã estava, quando veio me dizer que não precisaria se casar com o conde e como seu rosto transformou-se, com a notícia que lhe dei sobre a minha “acompanhante”... pensamentos negativos encheram minha mente.

 Sou uma pessoa terrível! Arruinei a vida de uma pessoa para ajudar outra em que terra aquilo seria justo?
 
Uma angústia tomou conta do meu ser. Um nó  formou-se em minha garganta e o resultado foram lágrimas quentes, escorrendo em meu rosto.
 
— Alteza, as dores das vossas feridas estão demasiadas?
 
Tomei um susto! Abri os olhos de uma vez, e lá estava a jovem, fitando-me.
A vergonha que sentia era tanta que apenas virei meu rosto para o canto da cama. Não queria que ela continuasse a ver meu estado de decadência.
 
— Vitório — sua voz suave chamou por meu nome — não se esconda de mim. O Altíssimo tem um plano perfeito para tudo. Acho que Ele sabia o quanto sua vida era solitária e permitiu que eu fizesse parte da vossa vida — ela colocou a mão em meus ombros — deixe-me ver a vossa face, por gentileza.
 
Eu não sabia o que dizer. Então apenas puxei os lençóis e cobri meu rosto. Sim, como uma criança birrenta e mimada. Mas o que poderia ter feito? Não me aguentava de tanta vergonha.
 
 
— Por que essa porta está trancada? — a voz do meu pai ressoou do outro lado da porta.
 
A jovem saiu em passos largos, destrancou a porta e foi rápido para seus aposentos.
 
— Responda-me Vitório, porque a porta está trancada?
 
— Meu pai, tenho uma acompanhante, preciso estar a sós com ela, e isso demanda privacidade, não acha?!
 
Acho que a resposta foi satisfatória, pois ele apenas assentiu com a cabeça.
 
— Precisa sair de vossos aposentos. Sabes que  não gosto que fique tanto tempo enfiado nos vossos aposentos. Pare de fazer corpo mole e saia desse leito — ele vomitou as palavras e saiu de meus aposentos.
 
Assim que ele saiu, a jovem voltou rápido, trancou a porta e sentou-se na cadeira que ela mesma havia colocado próximo da minha cama.
 
— Mais uma vez defendeste-me, já é a terceira vez.
 
— Moça, sei que estás solitária, que isso aqui é uma prisão para ti, porém encontro-me em meu pior momento. Não consigo ser agradável contigo. Minhas palavras certamente sairão da minha boca como farpas, então só preciso de um tempo para absorver tudo, logo estarei de volta. Não quero ofendê-la, por isso prefiro manter o silêncio.
 
— Dê-me suas mãos — ela estendeu as duas mãos, para que eu colocasse as minhas mãos sobre as dela. Com muita relutância eu fiz o que ela pediu — Altíssimo Pai Celestial — ela fechou os olhos e começou uma oração — Os teus pensamentos são maiores que os nossos, bem sabemos que os vossos pensamentos e vossos planos são maiores que os nossos, como diz as *Sagradas Escrituras. Eu aceito a vossa vontade para minha vida e prometo ser uma benção na vida do príncipe Vitório. Ah, peço encarecidamente que cures as feridas do príncipe. Não me refiro as feridas das costas dele, mas sim das feridas do seu coração e da sua alma. No nome daquele que vive e reina para sempre, Jesus, eu oro agradecida. Amém.
 
Abri meus olhos meio perplexo. Ninguém nunca havia orado por mim. E como assim? Ela é uma cristã? É... o Altíssimo certamente tem um plano em tudo isso.
 
— Desde quando és uma cristã? — foram minhas primeiras palavras ao abrir meus olhos — que grosseria da minha parte. Agradeço imensamente pela oração.
 
— Bom, quando eu nasci meus pais já eram cristãos, então eles ensinaram-me o Caminho desde cedo. Quando eu tinha idade suficiente para entender, eu decidi por mim mesma, ser uma cristã.
 
— Eu ainda sou um bebê na fé...
 
— Não se preocupe, príncipe. Ensinar-te-ei tudo que eu sei. Não sei muita coisa, mas terei o prazer de compartilhar contigo.
 
— Ranzinza, porque de repente estás sendo gentil comigo? Sei que me odeias.
 
— Em primeiro lugar, meu nome é Clarabela, já és digno de saber meu nome — ela deu um sorriso de leve. — Estás cumprindo vossa palavra desde que nos conhecemos. Já protegestes a minha honra por duas vezes. Primeiro se recusando a obedecer o vosso pai e depois não permitindo que eu fosse aos aposentados dele. Já apanhastes por minha causa, já omitistes a verdade por mim.
 
— Sobre a porta... imagino que não tens tanto medo de mim, já que preferes estar trancada aqui comigo.
 
— Provastes ser um homem honrado.
 
— Agradeço — dei um sorriso tímido, não estava acostumado com palavras gentis—, ah! Os seus pais foram bem criativos na escolha do vosso nome.
 
— É um nome comum, não entendo a criatividade.
 
— Tens uma beleza estonteante! Então combina perfeitamente com a segunda parte do vosso nome. Clarabela, é um prazer conhecê-la — curvei-me perante ela e deixei um beijo no dorso de sua mão — no entanto, chamar-te-ei apenas de Bela.
 
Seu rosto de depende ficou corado. Não entendi porque àquilo aconteceu. Vejo que tenho muito que aprender sobre tudo.
 
— Bela, por quanto tempo eu dormi?
 
— Ora Alteza, desde ontem, após o encontro com o rei, vosso pai. Acho que a Aurora exagerou demasiadamente nas ervas que lhe deu para tomar.
 
— Estás dizendo-me que estou aqui em meus aposentos por mais de vinte e quatro horas?
 
— Isso mesmo, já que a hora do almoço se aproxima. Ah, por falar em almoço, quer ser servido aqui, ou irá  se juntar aos outros?
 
— Boa pergunta... — pensei por um momento — mas creio não estar pronto para me juntar a eles. Prefere ser servida no jardim ou na beira do lago?
 
— Eu?!
 
— Sim — respondi com a voz gentil — porém, se preferir juntar-se a minha família, sinta-se à vontade.
 
— Não! — ela  ergueu as duas mãos — sendo assim, prefiro o lago. Se me der licença, irei vestir algo mais apropriado.
 
Ela foi para seus aposentos. Logo chegou uma serva para saber minhas preferências sobre o almoço.
 
A jovem Bela veio caminhando lentamente em minha direção. Tenho certeza que fiquei literalmente de boca aberta. Ela tinha uma beleza estonteante.