ENTRE LAÇOS E AMASSOS

Capítulo 1

Dentre todas as cidades, estados, países, até mesmo através do tempo, só tem uma coisa que liga a todos.

A música.

Não importa a sua idade, personalidade ou seja lá qual for a coisa mais diferente presente no seu privativo, ainda vai ter uma música, ou um estilo musical, um instrumento, algo que você escuta e faz tudo mudar, o seu coração acelera, você fecha os olhos e consegue sentir a música. Uma música que te marca tanto, a um ponto de que você não só escuta aquela melodia, seu coração bate conforme o ritmo, de repente, sua serotonina aumenta e parece que seu corpo é movido unicamente por aquele som. Ele se torna seu combustível para continuar respirando e existindo.

Era assim que eu me sentia em relação a música, era um dos motivos da minha existência.

Quando eu era pequena, me lembro do primeiro show que fui, meus pais me enfiaram em botas estranhas e desconfortáveis. Um casaco estranho e de cor feia. Não me protegia do frio, sempre ficava muito frio em junho, mas mamãe queria muito que eu me vestisse conforme o evento, eu parecia um projeto de vaqueira bebê, parecia que eu ia a um ensaio de book.

Lembro de ficar chorando o tempo todo naquela exposição, o cheiro ruim de esterco de gado, misturado com o suor das pessoas, andando todas juntas. Eu, no colo desconfortável da minha mãe, que estava mais dedicada a prestar atenção no meu pai pegando dois milk-shakes. Eles me tiveram muito cedo, minha mãe mal tinha 18 anos quando engravidou de mim. Não culpo eles por estarem levando uma criança a um evento tão movimentado, queriam se divertir. Eu não queria atrapalhar, mas é meio complicado cuidar de si mesmo aos 4 anos de idade.

Eu não conseguia entender, mesmo estando frio, ainda cheirava mal pelo número de pessoas dividindo o mesmo espaço enquanto usavam roupas desconfortáveis de couro, com calças jeans largas, sendo seguradas por cintos com medalhões gigantes e reluzentes.

E então, um silencio.

Em meio aquele todo barulho desaparecendo, minhas pequenas orelhas só conseguiam focar na melodia vinda de uma grande caixa preta. Música. Música ao vivo. Eu conseguia ouvir a respiração entre a letra e a melodia, era perfeito, era bonito, eu gostava.

A partir daquele dia, música era tudo que vinha a minha cabeça, o tempo todo, passando de novo e de novo, vividamente nas minhas lembranças.

Meu presente de cinco anos de idade, foi um mp3 que eu vi uma prima mais velha usando em um almoço na casa da Vovó, anos depois, um notebook, conseguia baixar minhas próprias músicas, conheci muitos estilos, eu amava todos eles, todo tipo de música me fazia... levitar? Talvez seja um exagero, mas eu só queria passar o resto da minha vida perdida na minha playlist.

Minha adolescência não foi o que eu chamaria de ruim, eu nunca cheguei a sofrer bullying nem nada do tipo, acredito eu. Sinceramente, eu só ignorava todas as pessoas existentes e fazia o que me mandavam, meus maiores problemas foram com coordenadores e a péssima mania deles de confiscarem meus fones de ouvido, que sempre ficavam no meu pescoço, era uma péssima mania, eu sei, eu praticamente pedia pra levar bronca.

Depois de um breve resumo da minha entediante vida, chegamos ao momento atual. Tenho 19 anos e acabei de mudar para a cidade capital do meu estado, a grande Goiânia. Toda a minha vida, eu passei em uma pequena cidade do interior, com pouco menos de dez mil habitantes Todo mundo se conhecia, eu não fazia questão de conhecer ninguém, queria que as pessoas pensassem da mesma forma sobre mim, evitaria muitas confusões comigo sendo levada como grossa.

Agora, vai ser uma nova página, posso seguir em frente, mas pra onde eu quero ir exatamente?

Estou em busca de um sonho que ao menos eu nem tive ainda, infelizmente, minha paixão pela música não é correspondida, acreditem, eu já tentei de TUDO. Violão, piano, violino, bateria, guitarra, cantar. NADA, eu não sou boa com música, infelizmente, a música sempre vai ser apenas algo que eu amo, mas nunca algo que eu produzo, é uma pena, queria ser capaz de fazer as pessoas se sentirem como eu me sinto quando escuto qualquer boa melodia.