– Idiota, Hinata, idiota! – Kageyama gritou.
A testa estava franzida, e seu olhar cerrado emanava uma raiva temporária e moldada com certa preocupação, a qual ele não tinha coragem de admitir.
Hinata mal havia entrado no ginásio quando escutou aquela voz mortífera, logo se encolhendo, pois sabia, mais do que ninguém, o quão assustador Kageyama era quando queria.
As palavras escorregavam em sua mente, não sabia quais deveria deixar sair de seus lábios, decidindo então, não dizer nada, nada além de bom dia. Preferiu apenas esboçar seu sorriso de sempre, e foi o que fez, enquanto caminhava até o centro da quadra, onde os outros estavam reunidos. Mas, Hinata não pôde ver, não pôde perceber, que não sorria como sempre. Em sua mente, estava conseguindo agir como o fazia todos os dias, porém, para o resto do time, alguma coisa estava claramente errada. Até mesmo Kageyama foi capaz de perceber, por mais que não conseguisse expressar muito bem.
– Hinata? – Sugawara chamou seu nome, quase que em um sussurro. Não sabia dizer o que estava errado, mas, mesmo assim, podia sentia em seu âmago.
– Por que demorou tanto, idiota? Tá atrasado! – Kageyama continuou, diminuindo o tom de sua voz, pois, por algum motivo, gritar com Hinata sem que ele gritasse de volta o fazia sentir um embrulho no estômago.
– Você também não veio ontem... Tá tudo bem, Hinata? – Daichi complementou, mais gentilmente.
O mundo girou um pouco mais rápido para Hinata. Segurou a alça de sua bolsa escolar com força, enquanto encarava a expressão indiferente do chão. Sentindo-se ainda menor do que era, percebeu que seus dedos tremiam.
Levantou a cabeça lentamente, e tentou expressar um outro sorriso, outro que não falhasse.
– Desculpa por não ter vindo ontem, pessoal! Eu fiquei com febre sábado, achei que fosse passar até segunda, e não passou... M-mas hoje eu tô melhor! Não vou faltar mais! – Ele disse, fazendo nascer um sorriso mais convincente em seu rosto, o qual conseguiu enganar quase todos ali. Todos, menos uma pessoa.
Hinata foi correndo pegar uma bola para começar a praticar, logo indo encontrar Kageyama, que ficou apenas observando o menor. Algo coçava em sua mente. Uma pergunta. Ou uma resposta, talvez. Algo que só acordava quando Hinata estava por perto.
– Tava gritando comigo mas agora tá todo desleixado ai! – Hinata gritou, correndo em sua direção.
– O quê!? – Respondeu irritado, mas também, um tanto aliviado.
Tudo parecia ter voltado ao normal. Todos já estavam concentrados, com apenas o vôlei em suas mentes. Hinata já voltara a gargalhar e a gritar com Kageyama, como sempre fazia.
Contudo, um certo olhar se mantinha distraído, algo de errado também devia estar perturbando seu interior. Ele via, através de seus óculos, um mundo agitado e empolgado demais, isso o irritava. Ele via, através de seus óculos impassíveis, um desejo problemático, uma raiva atordoante de ter longe de si algo que não podia ser seu.
Tsukishima via o sol nascer, desfocado por uma neblina intrusa, pálida e triste, a qual já estava ali há um bom tempo, e, provavelmente, ficaria até o fim, até o anoitecer, quando o sol morresse na envergadura de um horizonte frio.
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𝐨 𝐬𝐨𝐥 𝐬𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞 𝐦𝐨𝐫𝐫𝐞 𝐧𝐚 𝐞𝐧𝐯𝐞𝐫𝐠𝐚𝐝𝐮𝐫𝐚. (𝒉𝒂𝒊𝒌𝒚𝒖𝒖)
FanfictionOnde Hinata Shoyo, atormentado pela figura paterna e por um novo vício além do vôlei, não consegue mais sorrir como antes. Ou, onde Tsukishima Kei, confuso consigo mesmo, não entende por que algo dói dentro de si quando olha para Hinata e não vê seu...