cap 3

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Fomos ao lavandario naquele dia, o vasto campo era preenchido pelo lilás das flores e o sol já se estava prestes a se por deixando a paisagem ainda mais bonita.

Tirei algumas fotos rápidas, com um lugar daquele não era difícil conseguir uma boa, já havia experimentado tudo que o lugar oferecia para comer e beber e o tédio já estava prestes a me consumir quando decidi procurar meu irmão.

Andei pelo lugar grande sozinho, costumavam receber mais visitas pela manhã e no começo da tarde, então naquele horário era difícil esbarrar em algum outro visitante. Quando estava quase desistindo de procurar consegui enxerga-los de longe, Xichen segurava a cintura de meu irmão com firmeza enquanto o prensava contra uma parede de madeira, Cheng que sempre fez questão de estar por cima e não abaixar a guarda parecia não se importar em estar completamente rendido ao namorado.

Não queira esperar por eles e ao mesmo tempo não queria lhes atrapalhar, então optei por mandar um mensagem avisando que já havia ido embora sozinho e voltar para casa sem os mais velhos.

Antes de ir, passei na lojinha e comprei um chá de lavanda que paguei muito mais caro para que colocassem em uma garrafa térmica, arranquei uma flor do campo mesmo com muitas placas dizendo ser proibido e voltei para casa.

Você estava na cozinha completamente distraído com uma xícara já vazia, costumava sair do quarto quando não estávamos em casa, aproveitei que não havia notado que eu estava lá e subi rápido ao seu quarto.

Colei as fotos perto de tantas outras que já havia colocado em sua parede e deixei a garrafa com chá e a flor roubada em sua escrivaninha, como de costume deixei um bilhete, queria falar sobre como o lugar ficava tedioso depois dos cinco primeiros minutos ou como Xichen se tornava irresponsável quando o assunto era transar com meu irmão, a ponto de fazer isso em lugares públicos. Mas pensei que não eram coisas que você gostaria de saber e me contentei em escrever “ o chá é horrível, é o pior que o lugar tinha a oferecer, mas queria te trazer alguma coisa e pensei que se trouxesse um sabonete de lavanda talvez você pensasse que te acho um porquinho “

Parei para olhar um pouco sua parede e percebi que as fotos estavam extremamente organizadas, muito diferente da maneira como eu as colei, a biblioteca, o gatinho fofo que encontrei na rua, o bolinho bonito que comi em uma café novo que visitei, Jiang Cheng com a maquiagem que eu havia feito enquanto ele dormia e meu braço vermelho pelo tapa que ele me deu quando acordou e agora a foto do lavandario, você organizou e datou cada uma delas e isso me fez pensar que você gostava delas tanto quanto eu.

No dia seguinte eu acordei tarde, sai do quarto e antes que descesse as escadas escutei sua voz falando com seu irmão, não queria que notassem minha presença, mas também era inevitável não querer ouvir a conversa, então parei no topo da escada e me concentrei em ouvir o que falavam.

— Você tem certeza disso ? – Xichen perguntou segurando suas mãos com carinho e preocupada, você assentiu — Então vamos fazer isso, vou começar a procurar amanhã, vou encontrar um bom.

Você assentiu novamente e seu irmão te puxou para um abraço apertado e afagou seus cabelos com as mãos grandes.

— Dessa vez vai ser diferente – prometeu e se afastou um pouco de você, apenas o necessário para deixar um beijo em sua testa — Meu filhotinho.
— Vai sim – deitou a cabeça no peito do irmão e falou tão baixo que mal pude ouvir — Eu vou dar tudo de mim, vou fazer meu melhor.

Xichen sorriu, seu sorriso demonstrava tanta felicidade e alívio que acabei por ficar feliz também mesmo não fazendo ideia do que aquela conversa significava.

Você deixou os braços de seu irmão e andou em direção a escada, me apressei em começar a descer os degraus para fingir que não estava parado ali a tempos, você passou por mim sem dizer nada, apenas subiu rápido, mas quando já estava no topo virou para trás impulsivamente.

— Wuxian – chamou alto, eu nem sequer tinha noção que sabia meu nome, mesmo morando na mesma casa a duas semanas nunca havíamos conversado até aquele momento — Eu gosto muito de chá de lavanda, obrigado.

Se curvou levemente e voltou a dar as costas para mim e andar até deu quarto. Eu corri até a sala, estava tão sorridente e eufórico que nem sequer havia dado falta do meu irmão pela casa.

— VOCÊ VIU ÀQUILO ? – perguntei animado — ELE FALOU UMA FRASE INTEIRA COMIGO!

Eu dava pulinhos animados e Xichen ria de minha animação, no fundo eu sabia que estava tão animado quanto eu.

— Xichen, posso te perguntar uma coisa ? – falei mais baixo deixando a animação um pouco de lado, ele assentiu — Tem algum motivo pro Wangji ser assim? Não estou criticando o jeito dele é só que... é meio triste.

— Nossos pais foram assinados a alguns anos atrás l, Wangji só tinha dez anos na época e foi difícil fazer ele entender, quando ele finalmente entendeu que eles nunca mais voltariam ele entrou em pânico, não queria mais me deixar sair de casa, toda vez que precisava sair ele chorava implorando pra mim ficar – suspirou fundo e continuo — Com o tempo ele entendeu também que eu não poderia e não queria viver aqui dentro, mas ele nunca mais saiu daquele estado de pânico, faz seis anos que ele não sai de casa, algumas vezes escuto ele chorando de madrugada, tentamos tratamento com um psicólogo uma vez mas ele acabou por piorar as coisas, falou que meu irmão era dramático e medroso, que era pior que um filhotinho de um animal qualquer.

Nos olhos de Xichen era claro a raiva que sentia ao citar o psicólogo.

— Transformei filhotinho em um apelido carinhoso pra que ele não ficasse com isso na cabeça, agora ele disse que quer tentar tratamento de novo, está muito decidido, mas vou fazer diferente, vou arrumar alguém que realmente me ajude a cuidar da cabecinha do meu filhotinho – sorriu novamente, estava feliz pelo irmão ter dado um passo tão grande depois de tanto tempo — É a minha vez de te perguntar uma coisa Wuxian, por que se animou tanto quando meu irmão falou com você?

Me senti bobo por todos os motivos que passaram por minha cabeça que poderiam ser usados para responder aquela pergunta, mas acabei por escolher contar o maior deles.

— Eu sempre tive muitos sonhos Xichen, mas desde cheguei aqui, Wangji tem estado comigo em quase todos eles, você também aparece, meu irmão, minha irmã e as vezes pessoas que não conheço também, mas o Wangji ele....ele tá sempre lá entende? Tenho sonhado com um lugar bonito, mas cheio de regras, nos sonhos eu vivo quebrando elas e por isso sou punido, no de hoje eu e Wangji apanhamos com um bastão muito pesado, foi tão real que quando acordei fui direto olhar minhas costas para ver se tinha algum hematoma.

Eu sorri como se aquela fosse uma história real, por algum motivo falar de meus sonhos sempre me deixava nostalgico. Xichen pareceu estar pronto para comentar sobre o que havia acabado de contar, mas meu irmão entrou com as mãos cheias de sacolas pesadas do mercado e ele foi rápido em levantar para ajudar.

Fiquei sozinho no sofá tentando entender o que fez Wangji querer melhorar, de qualquer forma o motivo não importava.

Talvez ele apenas tivesse tido um surto de coragem, porque assumir que precisa de ajuda exige muito que ignore seus medos para que depois aprenda a lidar com eles.

Talvez estivesse com saudade de conviver mais com o irmão mais velho.

Talvez quisesse conseguir conviver mais com o cunhado.

Talvez tivesse saudade de ir a bibliotecas, visitar cafés e comer bolos bonitos, encontrar gatinhos fofos na rua.

Ou talvez ele quisesse ajuda porque se lembrou que gostava muito de chá de lavanda.

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