O Poço

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Saíram do Shorty. O clima entre Katsuki e Kyoka não era dos melhores e caminhar sem rumo nesses momentos era um clássico dos Bakugou.

Algumas ruas agora eram asfaltadas, entretanto, alguns estabelecimentos ainda dispunham troncos para amarrar os cavalos como se fosse um estacionamento de motos. Katsuki percebeu a nova regra da cidade: carros estacionavam nas guias; cavalos nas calçadas. Como a população local não subira muito, andar nas calçadas de Purgatório não era impossível, mas cobrava a mesma atenção de andar por um curral — merdas se espalhavam como minas, pedindo para serem pisoteadas e arrastadas por aí.

— Então — Kyoka quebrou o silêncio ao virar a esquina. — O que cê tá fazendo na cidade, hein? Além de, claro, pegar meu namorado.

— Nem vem com essa, eu não estava pegando ninguém, muito menos aquele moleque. Você arruma coisa muito melhor.

— Ah, cidade pequena né, não tem tantas opções. — Ela deu de ombros.

Katsuki riu sem graça.

— Eu me lembro. — Era nostálgico. Katsuki se descobriu gay no colégio, se para Kyoka, que era hétero, as opções eram poucas, imagine para Katsuki... Hanta era o único a fazer companhia na cidade pequena.

Kyoka parou ao atravessarem a rua e, como se anunciasse o fim do clima estranho, falou:

— Ei! Já se passaram cinco anos! Meu Deus, vem cá. — Puxou Katsuki para um abraço e ele retribuiu com um suspiro de alívio. — Não dava pra avisar que você vinha?

Ela afastou Katsuki do abraço, mas ainda segurava seus ombros com firmeza. Katsuki engoliu o eu não vou fugir, irmãzinha.

— Eu não vinha. — Ele apertou os olhos e desviou o olhar. — Até o tio me mandar um e-mail.

— Ah é? E o que ele disse?

Os olhos dela brilhavam. Kyoka era tão doce, uma rosa do deserto, inocente e delicada no meio do terreno infértil de Purgatório... Katsuki não desejava nada daquilo para ela, mas pelas circunstâncias não tinha escolha, deveria contar a verdade.

Eles me ameaçaram — Katsuki disse e esperou ela processar o não dito. Afinal, as ruas de uma cidade pequena, por mais vazias que estivessem, sempre tinham ouvidos.

A expressão dela mudou de curiosidade saudável e educada para ganhei-na-loteria.

— Eu sabia que não era derrame! Tá começando de novo, né? — Enfiou as mãos nos bolsos como uma pistoleirinha preparada para o tiroteio e com um sorriso acrescentou: — precisamos daquela arma.

Katsuki a encarava atônito, ela enlouqueceu enquanto estive fora?

— Olha, eu não vou fazer isso.

— A arma de Toshinori Bakugou! — Kyoka esfregou as palmas, animada.

— Menos, Jirou! Já te disse para não falar mais nisso. — Katsuki voltou a ditar o rumo da caminhada até a casa da sua tia. Kyoka apertou o passo para o alcançar.

— Eu nunca falei, tá bem? — Ela abraçou os cotovelos. — Foi o melhor conselho que me deu. O único, na verdade.

— Olha, eu era uma criança, tá legal? Porra, não conseguia cuidar nem de mim mesmo.

— E quem dirá da chata da sua irmã mais nova? — ela completou.

Katsuki recebeu a decepção do olhar de Kyoka, aquilo pesou como se jogassem um piano na sua cabeça. Sua voz saiu amena, quase cansada:

— Essa foi a melhor coisa que fiz para você.

— Me largar aqui?

— Te dar uma chance! — Katsuki vomitou as palavras e ela desviou o olhar.

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⏰ Última atualização: Mar 15, 2021 ⏰

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