a música.

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Depois do nosso café da manhã, pude perceber que ela havia voltado a ficar elétrica. Apesar de achar estranho esse seu comportamento, eu não me importei muito, pois era muito melhor tê-la do meu lado.

(S/n) pegou a bandeja, agora com todos os pratos e potes vazios, e colocou em cima da mesa de cabeceira ao nosso lado. Ela levantou e estendeu a sua mão em minha direção, sem hesitar agarrei a sua e logo em seguida levantei ficando em sua frente.

Ela passou seus braços pela minha cintura e me puxou para um abraço confortável, aquele que eu tanto desejei nesses últimos anos sozinha. Suspirei enquanto correspondia e fechei os olhos deixando-me aproveitar mais daquele momento. Senti (s/n) beijar o topo da minha cabeça e apertei a sua cintura com força. Escutei a sua risada e sem perceber já estava sorrindo também, mesmo ela não vendo.

— Eu amo os seus abraços, mas ainda preciso te mostrar o seu presente. — (s/n) disse quase em um sussurro e assenti me afastando dela.

Ela ficou atrás de mim e colocou suas mãos em meu rosto tampando a minha visão. Senti sua respiração em minha orelha e estremeci completamente.

(S/n) me guiou tranquilamente até o local, eu segurava em seus braços e sentia uma paz por tê-la ali comigo. Ela poderia me levar até o topo de um arranha-céu que eu ainda confiaria nela completamente.

— Desde que chegou aqui com os outros sobreviventes, você cantou ou tocou alguma vez? — Essa pergunta me fez relembrar momentos que queria esquecer, mas eu sabia que era hora de seguir em frente e continuar a minha vida. Já havia anos que eu tinha me "aposentado" da música e até das composições, pois eu não via motivos para continuar, porque tudo que eu cantava era sobre ela e tentava, através das minha músicas, alegrar meus fãs.

O que nada adiantaria durante os anos perdendo vidas e se escondendo.

— Não...

— Então esse é o seu presente de Natal adiantado.

(S/n) tirou as suas mãos do meu rosto e eu abri os olhos me acostumando com a claridade que as grandes janelas proporcionavam. Olhei para ela e lá estava, o piano posicionado perfeitamente para que pudesse ser tocado enquanto observa a paisagem. Meus olhos encheram-se de lágrimas e respirei fundo virando para olhar a minha esposa.

Ela sorria para mim e eu suspirei enquanto me jogava em seus braços, (s/n) sorriu e me apertou enquanto beijava minha bochecha com extremo carinho.

— Toque pra mim, Camz. Qualquer coisa. — Disse e eu concordo um pouco receosa, caminhei até o instrumento e sentei à sua frente e ela sentou ao meu lado. Olhei para as teclas e apertei em algumas delas para lembrar de algo. Porém eu estava nervosa e com medo. — Eu estou aqui e irei continuar aqui, ok?

Assenti e olhei para as teclas do piano, respirei fundo sentindo meu coração acelerar. Seria a primeira vez depois de anos e eu estava nervosa.

Toquei algumas notas enquanto tentava buscar alguma lembrança de uma música e também para escutar o som do instrumento. Até lembrar da música que fiz sobre nós e o quanto estávamos destinadas a ficar juntas.

Eu iria lançar na noite do show, no dia que o mundo nunca mais foi o mesmo. Dedilhei com delicadeza e escutando aquela melodia que meus dedos conseguiam fazer juntamente com o instrumento, senti meu corpo flutuar, era uma sensação de sentimentos. Estava com saudades daquilo, da música.

Mas logo meus pensamentos saíram rápidos de minha boca e me dei conta que cantava o primeiro verso, meus olhos se fecharam e eu apenas conseguia visualizar a minha vida ao lado de (s/n), durante a nossa infância e até o dia do nosso casamento. Eu cantava conforme a melodia e mesmo de olhos fechados, conseguia sentir a presença dela ao meu lado.

Eu estava protegida e finalmente em paz, e mesmo que cada dia se passasse tentando aos poucos fazer com que (s/n) se lembrasse dos nossos momentos, valeria a pena. Pode ser que ela não consiga recuperar totalmente, mas iremos criar novas e tão inesquecíveis quanto as outras.

Pois, ela estando ali, já era a prova viva que eu poderia lutar pelo nosso amor.

Depois que finalizei a música, abri meus olhos olhando para as teclas, foi inevitável não sorrir. Estava aliviada e em paz, depois de tantos anos reprimindo qualquer vontade de cantar ou pensar em música, hoje, por causa de (s/n) eu consegui fazer. Sem julgamentos ou vergonha.

Senti seus dedos tocarem em minhas mãos e como eu já esperava, senti meu coração acelerar agitado. Olhei para os seus olhos e os castanhos claros me olhavam com tanto orgulho e tinham um brilho que por um momento não sabia que sentia tanta falta deles. E eu me sentia como antes, o nervosismo aparecendo quando ela me olhava dessa forma, minha mente em branco e meu coração acelerado.

Eu percebi que ela se aproximava lentamente, talvez até não percebia. Senti meu estômago dar reviravoltas e suspirei, eu queria muito, mas sentia que não era a hora certa. Então me aproximei e beijei a pontinha do seu nariz, (s/n) se assustou e eu sorri enquanto me levantava.

Peguei o tablet e apertei na pasta do nosso casamento, era algo que eu via com frequência e o sistema já tinha até colocado em favoritos pois já havia perdido as contas de quantas vezes eu via os vídeos e as fotos naquele dia que foi tão inesquecível e maravilhoso para mim. Não só por ter me casado com o amor da minha vida, mas os vídeos com a minha família e amigos faziam-me diminuir a saudades que eu sentia deles, a cada momento.

Era tão injusto o que as outras pessoas fizeram, a guerra acabou com a felicidade, plantou e colheu tristeza, deixou-nos tão vazios e com tanta saudade de pessoas tão importantes para nós, que foram vítimas desse terror que permaneceu por cinco anos e exterminou quase toda a humanidade.

Hoje não existe mais fogos de artifícios, os drones na virada do ano fazem o serviço. Não são só os animais que são sensíveis ao barulho, agora nossa sensibilidade nos fazem acordar assustados e gritando com medo de abrir os olhos e ver tudo destruído novamente, andar pelas ruas e ver diversas pessoas mortas e outras dezenas machucadas pedindo ajuda. O trauma permanente e que nem a terapia consegue suavizar com facilidade.

— Você estava tão maravilhosa com esse vestido, Camila. — Olhei para a minha esposa, ela estava concentrada assistindo e tinha um largo sorriso, observei uma lágrima cair solitária e eu lembrei dos nossos votos em que ela chorou, mas seu sorriso não saía de seu rosto. — Eu me lembro quando você entrou naquela porta junto com seu pai, pensei que fosse desmaiar tamanho o meu nervosismo, mas o seu sorriso fez eu ficar ali e não perder nada. E quando seu pai me abraçou e nós duas podemos ficar de mãos dadas, eu sabia que eu finalmente estava me casando com o amor da minha vida.

Ela pausou o vídeo e me olhou, eu apenas abracei ela com força enquanto chorava, era uma mistura de felicidade, medo, tristeza e amor. Por ela estar aqui, ter se lembrado e por termos ficado bastante tempo separadas.

Mas naquele momento em diante, iríamos aproveitar cada segundo juntas, pois temos uma a outra. Enquanto a nossa eternidade durar.

Eu te amo, (s/n).

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Depois de um longo tempo sem atualizar essa fic, voltei!

Espero que o final de 2021 tenha sido ótimo para todes. Que esse ano seja melhor!

Até a próxima!

:)

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⏰ Última atualização: Jan 10, 2022 ⏰

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Back to Life {Camila/You}Onde histórias criam vida. Descubra agora