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Ele estava sentado de pernas cruzadas no chão quando ouviu passos hesitantes.

— Eu acho que o celular não despertou, sei lá.

Seungmin não sabia se o garoto acreditava mesmo nisso ou só estava procurando qualquer desculpa para se explicar.

O quartinho era mau iluminado por uma pequena lâmpada. As sombras de Hyunjin se projetaram pela parede ao adentrar o local e parar ao seu lado.

Seungmin ficou em silêncio por alguns segundos, com os olhos focados na pintura que estava fazendo. Não tão focado, já que desde que começou aquilo tinha borrado umas dez vezes.

— Aposto que você esqueceu e desligou o celular. — disse, pegando outro pote de tinta.

Seu tom de voz amargurado pareceu pesar no pequeno cômodo, o lugar parecia ainda mais abafado.

— Desculpa, Minie. — Disse enquanto se agachava — Você sabe que eu não fiz de propósito, né?

Ele respondeu com um aceno, ainda magoado.

Tinha certeza de que se fosse ele, teria pensado nisso o dia todo. E teria checado o alarme umas três vezes, pelo menos, antes de dormir.

Os dois se conheciam tempo o suficiente para que soubessem quase tudo um sobre o outro. Ele sabia que Hyunjin não faria uma coisa dessas de propósito, mesmo que não fosse grande coisa.

Mas para Seungmin era uma grande coisa. E ele não conseguia deixar de lado a decepção que sentia no momento.

Nas últimas semanas não tiveram muito tempo a sós, ele sentia falta das conversas longas que tinham. E de quando não passava mais de uma hora sem a presença de Hyunjin o provocando ou apertando suas bochechas e lhe dizendo que era a pessoa mais fofa.

Talvez estivesse carente demais.

Ele se remexeu no chão gelado. Estava inquieto com o olhar que tinha sobre si.

Ainda em silêncio ele se afastou um pouco para que o outro pudesse sentar ao seu lado em frente à caixa de madeira. Hyunjin se sentou com um sorriso feliz e só então prestou atenção no que ele estava pintando.

— Que fofo. — disse, com as mãos sobre os joelhos. — Por que você tá pintando?

Ele olhou mais de perto o carrossel de brinquedo, rindo em seguida.

— O que você fez com os coitadinhos?

A tinta azul clara estava quase toda descascada e desbotada. Então Seungmin teve que raspar ela toda com uma lixa de unha e pintar tudo de novo.

Ele reconhecia que o resultado não estava muito bom. Além de não enxergar direito, ele estava distraído.

— Pinta você, então. — jogou o pincel sujo de tinta no colo do outro.

O garoto escancarou a boca e olhou para o casaco com um gemido desesperado.

— É do meu pai. — choramingou, pegando o pincel com a ponta dos dedos.

A barra do casaco agora tinha uma listra de tinta azul que, com certeza, não sairia nunca.

Seungmin já tinha visto várias vezes seu vizinho com esse casaco, provavelmente era seu preferido.

Ele sentiu um pontinha de culpa porque o pai de Hyunjin não tinha nada a ver com isso. Mas ao invés de se desculpar, o garoto soltou uma risadinha cruel.

— Tomara que ele te dê uma surra. — Deu de ombros.

Hyunjin se jogou para trás de braços abertos, com um choro falso.

Ele olhou satisfeito quando Seungmin deu uma risada genuína. O garoto logo tratou de ficar sério e desviou o olhar.

Hyunjin se endireitou começando a pintar o brinquedo com um suspiro.

— Porque está sendo tão mau comigo? — perguntou, manhoso.

O garoto queria responder que ele é que estava sendo mau, mas preferiu ficar calado. Sentiu ainda mais raiva por Hyunjin não perceber o que realmente estava acontecendo.

Será que prestava tão pouca atenção nele?

Com o silêncio de Seungmin, Hyunjin continuou pintando. Pensou em qualquer outra coisa para dizer.

— Ela te deu isso? Ou você está pintando pra ela? — ele estava curvado sobre a caixa com o rosto quase encostando na tinta fresca.

— Ela me deu — Seungmin se levantou procurando outra coisa para fazer.

Achou alguns livros velhos e manchados em uma prateleira. Não tinha mais nenhuma caixa vazia para guardá-los.

— É tão bonitinho... — ele ouviu o garoto murmurar.

— Eu tava pintando pra você — Respondeu depois de um tempo.

Ele sentiu que Hyunjin estava o encarando, mas continuou abrindo as caixas de papelão a procura de um lugar para os livros.

— Seungmin... — foi até ele.

O garoto parou o que estava fazendo ao sentir uma mão apertar seu ombro.

Ele não se virou, então Hyunjin o puxou para poder ver seu rosto. Seungmin estava cabisbaixo e envergonhado. E estava ainda mais irritado por se sentir envergonhado.

— Desculpa.

A mão que estava em seu ombro logo subiu para a bochecha.

— Você é tão fofo! — o garoto disse com uma voz infantil, beijando seu queixo.

Depois fez uma expressão dramática se jogando para trás, encostando as costas da mão na testa, como se fosse desmaiar.

Seungmin tentou segurar, mas acabou sorrindo. Mesmo que isso fosse irritante, era Hyunjin, até as coisas que o irritavam faziam ele gostar ainda mais do garoto.

— Posso te abraçar? — ele sorriu abaixando a cabeça e o olhando de esguelha  com as mãos encolhidas contra o peito.

Seungmin ainda sentia uma dorzinha no coração e um pouco de medo pela conversa que não puderam ter, mas se sentiu esperançoso ao ver Hyunjin preocupado.

Ao invés de responder ele se aproximou e o beijou, o deixando surpreso. Era para ser só um beijo rápido, mas Hyunjin ficou o puxando para lhe dar vários selinhos.

Seungmin mordeu o queixo dele antes de o abraçar.

— Ai, amor! — reclamou.

— Cala a boca! — ele disse com a voz abafada pelo pescoço do garoto. 

Surpreendeu a si mesmo ao sentir lágrimas encherem seus olhos. Ele apertou mais os braços em volta da cintura de Hyunjin.

— Min? — o garoto chamou, tentando afastá-lo — Seungmin? Você tá chorando?

O garoto fungou bem na hora.

— É esse seu cabelo fedorento — respondeu com a voz anasalada.

— Tá bom — Ele riu e afastou os fios escuros dos ombros, deixando um beijo em sua cabeça.

— Promete que vai passar o dia comigo amanhã?

— Prometo.

Seungmin respirou fundo, torcendo para que Hyunjin cumprisse com o que disse.

Este último jurou pra si mesmo que ia dar toda a atenção para o garoto no dia seguinte.

Um dia - HYUNMINOnde histórias criam vida. Descubra agora