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Hyunjin dormia como um anjo, esparramado em sua cama, com seu lençol quentinho.

Exatamente como o outro havia imaginado.

Talvez o seu sono pesado viesse da satisfação adolescente de saber que ninguém iria lhe obrigar a acordar. A casa estava em completo silêncio, ele era a única pessoa ali. Era o único ser vivo ali, na verdade, já que seus pais também levaram as plantas e o cachorrinho.

Hyunjin sentia muita falta do amigo peludo. Nas manhãs anteriores, como acontecia naquele momento, ele acordou abraçando o lençol e choramingando com a ausência de um bom dia cheio de fungadas no rosto.

O garoto se deitou de costas com um suspiro resignado abafado pelo cobertor, que apertou contra o rosto, teria que ficar sozinho até segunda-feira. Ainda era estranho acordar e não ouvir nenhum celular tocando, nenhuma discussão idiota. Ou não ter sua mãe invadindo o quarto para sacudir seus pés até que levantasse.

Seu estômago doía de fome. Ele precisava, urgentemente, ser alimentado. Foi isso que o fez se levantar.

Assim que saltou da cama, Hyunjin sentiu seu corpo inteiro arrepiar devido ao ar gelado.
O garoto saiu pulando até o guarda roupa procurando peças quentes para vestir. Vestiu calças quentinhas e botas, mas não achou o casaco de jeito nenhum. Talvez sua mãe tivesse colocado para lavar.

Minutos depois ele já batia na porta da outra casa, desesperado por ar quente.

As mãos, pelo menos, estavam cobertas pelas mangas grandes demais do casaco de seu pai. No entanto, a roupa ficava folgada demais em seu corpo para esquentar bem seus braços.

Já estava erguendo a mão novamente quando a porta abriu.

Antes mesmo que qualquer coisa fosse dita, ele passou, afoito, pela mulher, deixando que ela fechasse a porta em seguida.

Fez uma rápida reverência esfregando os braços para afastar a frieza, o ar da casa já era um alívio enorme.

- Bom dia! — olhou em volta.

A mulher olhou estranho para o garoto tremendo em sua sala de estar.

— O que está fazendo aqui, querido? — perguntou.

Hyunjin ficou paralisado por um momento pensando no que falaria, como ele ia explicar que tinha ido lá pela comida?

— Seungmin ainda tá dormindo? — desconversou.

— Não. — Ela ergueu as sobrancelhas — Você acordou agora? Não ia com ele?

— Pra onde? — arregalou os olhos assim que a pergunta saiu de sua boca. — Ah, meu deus!

Burro, burro, muito burro, muito, muito burro! Se xingou enquanto se apressava para sair da casa.

Ele derrapou na calçada ao ouvir os passos da  Sra. Kim. Fez uma reverência rápida se desculpando e tratou de descer a rua.

Ao cruzar os braços ele sentiu o volume no bolso do casaco, tirou o celular do bolso ainda o ligando.

Tinha uma ligação perdida e cinco mensagens, mas só uma era de Seungmin.

Vc não está dormindo, né?

As bochechas de Hyunjin esquentaram graças a vergonha que sentia ao chegar na casa da Sra. Jyun. Se era por esse motivo, ele preferia que continuassem geladas.

Estou aqui

Abre, por favor.

Ele fez careta ao enviar.

Não houve nenhuma resposta, mas esperou ali fora mesmo assim. O garoto sabia que, por mais irritado que o outro estivesse, não ia deixá-lo congelando na rua.

Hyunjin prendeu a respiração ao ouvir o barulho da fechadura.

Quando viu Seungmin, no entanto, esqueceu das desculpas que deveria pedir.

Não é que ele não estivesse dando importância ao acontecido, porque ele estava. Mas como ele deveria raciocinar direito ao ver o garoto que amava de pé em sua frente com uma expressão fofa de raiva e bochechas sujas de tinta?

Ao contrário do que seria o recomendado para a sua saúde, ele deixou um sorrisinho besta surgir em seu rosto.

— Oi — se aproximou a fim de cumprimentá-lo com um beijo, como sempre fazia.

A única coisa que seus lábios encontraram foi o ar. Quando abriu os olhos viu o garoto se afastar e sumir em outro cômodo.

Caramba, ele só tinha dormido um pouco além da conta. Mas tinha ido.

Com uma dorzinha no peito ele fechou a porta e seguiu o mesmo caminho.

Ao chegar na cozinha viu uma cena que o deixou confuso. Seungmin estava colocando macarrão em um prato, logo em seguida serviu um copo de suco e deixou sobre o balcão.

— Você já comeu? — foi a primeira coisa que ele disse, sua voz estava calma.

Hyunjin ainda estava parado, com os braços pendendo ao lado do corpo.

— Não? — respondeu, inseguro. Não tinha tomado café da manhã, mas macarrão não era o que costumava comer naquela hora do dia.

Seungmin analisou seu rosto por um instante e suspirou, parecendo exausto.

— Você não sabe nem que horas são, né?

Hyunjin se xingou mais uma vez, ele tinha pegado o celular e nem tinha reparado nisso.

Estava tão frio que não havia pensado na possibilidade de estar tão tarde assim, mas se estava no horário do almoço...

— Já são três horas da tarde. — O garoto voltou a suspirar, sem encará-lo. — Ela fez almoço para nós dois. — Disse antes de dar a volta no balcão e sair da cozinha.

Deixando para trás um Hyunjin de olhos arregalados e mortificado.

Sentiu o estômago revirar com a culpa, mas também estava morrendo de fome. Então, ele sentou em frente a comida que foi posta para ele e tentou comer o mais rápido possível.

O pensamento de que Seungmin, mesmo com raiva, se preocupava com ele, deveria confortá-lo. E, realmente, ele sentiu isso o aquecer um pouquinho.

Mas lembrou da expressão que vira no rosto fofo do garoto e a culpa aumentou. 

Hyunjin deitou a cabeça sobre a superfície fria, mastigando a massa deliciosa, se sentindo uma pessoa horrível.

Olhou para a comida com vontade de enfiar a cara ali. Ele era uma decepção ambulante.

Um dia - HYUNMINOnde histórias criam vida. Descubra agora