Lina passou a vida tentando se provar além do peso do sobrenome que carrega. Filha de dois dos artistas mais renomados do país, ela quer que sua arte fale por si mesma - sem heranças, sem expectativas, sem sombras. Já Taehyung, um ex-pianista prodíg...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O bar estava cheio, como sempre. Luzes quentes, copos tilintando, conversas abafadas por um jazz suave ao fundo. Taehyung encostou-se no balcão de mármore escuro, observando o ambiente com seu costumeiro olhar analítico. O bar que dividia com Rosie era um espaço elegante, frequentado por executivos e empresários que buscavam refúgio em bebidas caras e sofisticação.
Ele suspirou discretamente ao ver um grupo de clientes gesticulando em direção ao balcão, chamando sua atenção com impaciência. Pegou duas garrafas da prateleira e preparou os drinks com precisão automática, sem se envolver demais nas conversas rasas sobre investimentos e viagens internacionais. A rotina era a mesma todas as noites, e ele gostava disso — gostava da previsibilidade, da distância confortável que mantinha entre ele e o restante do mundo.
— Você não vai fugir hoje, vai? — Rosie ergueu uma sobrancelha enquanto lavava um copo.
Taehyung soltou um riso anasalado. — Você fala como se eu sempre fugisse.
— Você sempre foge. — Ela sorriu. — E então? Vai perguntar o nome dela dessa vez?
Ele desviou o olhar, fingindo desinteresse. Mas Rosie o conhecia bem demais para cair nessa.
— Você sabe que já pode admitir que gosta dela, né? — provocou. — Não precisa fazer esse teatrinho toda vez que ela toca.
— E você sabe que se aproveita de mim, né? — rebateu, mudando de assunto. — Você só quer que eu cuide do Ben pra poder sair com aquele fotógrafo.
Rosie riu, inclinando-se sobre o balcão. — Não finja que não gosta do meu filho. Você adora ser babá dele.
— Adorar é um exagero. — Taehyung suspirou. — Mas tudo bem. Só dessa vez.
— Como todas as outras vezes? — Ela piscou.
Ele apenas resmungou algo inaudível, pegando o casaco antes de sair. O ar frio da noite o envolveu assim que deixou o bar. O caminho até o Moonchild era curto, mas longo o suficiente para que sua mente divagasse. Ele não sabia ao certo por que continuava indo até lá. Talvez fosse a música, talvez fosse ela.
As ruas eram iluminadas por letreiros coloridos, e a cidade pulsava com energia jovem. O Moonchild era diferente do seu bar — tinha paredes grafitadas, luzes azuladas e um público mais alternativo. Era um lugar onde as pessoas se perdiam na música sem se preocupar com aparências. Ele desacelerou os passos antes de entrar, como se quisesse adiar aquele momento.
Ao entrar, foi recebido pelo recepcionista de cabelo platinado, que apenas assentiu em reconhecimento. O bar estava cheio, repleto de gente fora do padrão, com roupas extravagantes e cabelos tingidos em tons vibrantes. O som ambiente era um contraste gritante com o jazz sofisticado do seu próprio bar. O Moonchild exalava liberdade e intensidade, e Taehyung se sentia um intruso ali — mas ainda assim, voltava.
— Ela ainda não começou — disse uma voz ao seu lado.
Taehyung virou-se e encontrou Jungkook, o garçom loiro que sempre parecia se divertir às suas custas.
— Achei que você já soubesse a programação de cor — Jungkook provocou, entregando um copo de água com gás para ele sem que precisasse pedir. Ele já sabia que Taehyung não bebia álcool.
— Só gosto de boa música — Taehyung respondeu, sem dar o braço a torcer.
— Sei. — Jungkook sorriu de canto. — "Boa música" tem nome, por acaso?
Taehyung ignorou a provocação e voltou sua atenção para o palco, onde as luzes começaram a mudar. Um tom azulado tomou conta do ambiente, e o silêncio se espalhou pelo público. Ele sentiu o peito apertar levemente, por antecipação.
Então, ela apareceu.
No palco, a mulher preparou o violino sob o olhar atento da plateia. E então, as primeiras notas preencheram o ambiente — um medley inesperado, onde Memories, do Maroon 5, entrelaçava-se com Pachelbel's Canon in D. Unir uma música pop contemporânea a uma peça clássica era um desafio técnico e emocional, mas ela o fazia com naturalidade. A transição entre os estilos, entre o moderno e o atemporal, era complexa e cativante. Não era apenas uma escolha ousada — era a essência de Lina.
Surgiu no palco vestindo azul. Um tom profundo, intenso, que contrastava com o brilho quase prateado das luzes. O violino, igualmente azul, parecia uma extensão de seu corpo. Mas não era apenas a música que a tornava hipnotizante. Ela não apenas tocava — ela dançava. Movia-se com a graça de alguém que conhecia cada nota como parte de si. Seus passos misturavam-se à melodia, a dança contemporânea fundindo-se ao som de forma quase divina.
Taehyung sentiu o ar faltar por um instante. Havia algo nela que o fazia esquecer quem era, onde estava. Como se, por alguns minutos, nada mais existisse além daquela música.
E então, alguém sussurrou seu nome.
— Lina. — Jungkook sorriu de canto. — Agora você já sabe.
Foi como se descobrir seu nome o fizesse perceber de vez que ela não era apenas uma violinista qualquer.