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          Já tinham se passado duas horas, quando finalmente termino de avaliar os relatórios do dia. Há semanas que o trabalho tem sido puxado, extremamente cansativo. Eram oito e meia da noite, provavelmente Sakura já tinha jantado, e me sinto angustiado só de lembrar dela.
          Sinto saudade das noites em que ela invadia meu escritório, brigava para jantarmos, ou para dormir um pouco, alegando que eu era descuidado com minha saúde. Saudade das suas insistências para que façamos algo juntos, como um mero passeio de dez minutos no jardim, ou um simples diálogo para atualizarmos um ao outro sobre como estávamos. Saudade de qualquer coisa que a envolva, até das brigas.
          Ela parecia não fazer mais questão, não vinha mais saber porque não desci para jantarmos, ela já está na cama quando vou para nosso quarto. Ela não me convida mais para andar com ela pela mansão, e só tem falado o mínimo comigo.

— Hum — estico a coluna, terminando com o último gole de bourbon.

          Não sabia o que fazer para contornar essa situação, nunca falei com ninguém sobre minha relação com ela, nunca precisei. Eu temo que ela já esteja pensando em divórcio, à essa altura do campeonato. Eu nem lembro quando tudo ficou assim, não teve um pontapé inicial, um motivo evidente.
          Passo direto pela cama, percebendo que ela ainda estava acordada, lendo um livro, escorada na cabeceira da cama. Dou um suspiro, me livrando dos sapatos, seguindo para o banheiro. Tomo um banho gelado a fim de me aliviar daquela tensão. Sei que teríamos que falar sobre isso, eu nem sei do que se trata “isso”, mas nossa relação não poderia continuar dessa forma, com ela tão distante de mim. Não sei como começar esse tipo de conversa, com alguma reclamação seria estúpido, nunca que fui de mendigar afetos. Se ela não estava me dando atenção era porque ela não queria, ou não sentia mais vontade.
          Amanhã faria três meses, da noite em que pousei uma mão em sua cintura, num convite discreto para que tomasse banho comigo, e ela simplesmente saira do banheiro. E foi a última vez que tentei “tocá-la”.

— Amanhã... — sua voz estrondou no silêncio dominante do quarto, por mais que soasse manhosa. Sentei-me com os músculos rígidos, ansioso por ela me dirigir a palavra. — É aniversário do Mizuki, Sasori decidiu fazer um jantar em família e nos convidou.

          Mizuki é seu sobrinho, filho do seu irmão mais velho, Sasori. Ele recentemente perdeu sua esposa, após o parto ela ficara meses doente, fraca, não resistindo há dois meses. Sakura se ofereceu para cuidar do bebê enquanto seu irmão se recuperava do luto, alegando que Mizuki lhe faria companhia durante as férias do hospital, e foi então que percebi o quanto ela tem se isolado de todos, e não só de mim.

— Amanhã a tarde terei uma breve reunião com os americanos — percebo seu cenho franzir. Com a falta de nossos diálogos, ela estava por fora de muitos dos meus negócios. —, mas vou tentar chegar à tempo de lhe acompanhar.

— Tudo bem — ela assente apagando seu abajur, e se deitando. Sei que ela não se contentou com minha incerteza, mas eu realmente não poderia fazer muito sobre isso. A reunião estava marcada há um mês, os representantes devem ter desembarcado do vôo essa noite, prontos para a reunião.

— Comprou algo? — ela para de se mexer, ao notar o som da minha voz. Eu havia perdido o jeito de falar com ela? Que patético.

— Hum? — ela faz, obviamente não entendo o que falei.

— Você comprou um presente pra ele? — Não havia visto a mesma sair, e os seguranças também não me relataram nenhuma saída sua.

— É estranho comprar um presente pra uma pessoinha de um ano de idade. — Me vi rindo, na leve penumbra do cômodo. — Deixei pra procurar algo amanhã.

— De última hora, como sempre... — comento, me acomodando no meu lado da cama.

— É... — ela sussura, será que ela pensou que eu estava reclamando? — Mas Sasori também não sabia se iria fazer algo, ele acabou se convencendo de não deixar a data passar em branco.

— Entendo. — Meu coração bateu forte ao vê-la me dar as costas, queria falar mais algo para continuarmos aquela conversa.

          Não queria falar sobre nosso relacionamento agora, mas queria dizer alguma coisa, mas nada me vinha a mente. E isso me chocou. Não tínhamos mais nada em comum? Ou não éramos mais íntimos? Me senti assustado. Com um aperto estranho no peito. E assim a noite se passou, não consegui dormir direito, o que me acarretou numa manhã bem azeda.
          A irritação começou pelo o meu atraso, Sakura não estava mais na cama, meu irmão me esperava na empresa para discutirmos assuntos irritantes. Almoçamos juntos para decidirmos outros detalhes da reunião, e então quando estava saindo do restaurante, Ibiki me avisa sobre Sakura estar saindo com seu carro no mesmo momento. Ela deve ter ido procurar um presente para Mizuki, eu suponho. E então volto para a empresa.








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Do outro lado da cama | SasuSakuOnde histórias criam vida. Descubra agora