Noivos por Acordo.

Dois.

- Bom dia bela adormecida!
Ouvi a voz de Luisa e quis arremessar minha pantufa em sua cara.

- Primeiro, eu devia te bater até desfigurar esse rostinho lindo, e segundo....você dormiu aqui? Onde estava?
Quando cheguei ontem á noite não fazia idéia de que ela estava aqui.
Sou muito fácil de se matar por um maníaco sim ou claro?

- Eu dormi no outro quarto boba! - assenti, esquecendo que havia um no apartamento. - Em minha defesa, não sei por que quer me matar!
Deu de ombros enquanto passava geléia em uma torrada.

- Minha noite foi horrível e você me deve um enorme favor para recompensar isso!
Ela sorriu.

- O que houve afinal?

- Me deixe ver... - fiz uma pausa dramática para mostrar todos os pontos negativos da noite.- Meus pés estão mortos pelos sapatos que me fez usar, perdi no mínimo três táxis e o quarto quase me atropelou, cometi a gafe de julgar e rir do quadro de um estranho, sem saber que falava com o próprio e ainda tive que ouvir que só estava ali por um homem ou para achar algum, satisfeita?!
Ela me encara com os olhos arregalados enquanto me assiste roubar um pouco dos seus ovos mexidos com bacon.

- O seu azar me assusta e muito! - confirmei.- Mas pelo menos você teve alguma interação com alguém diferente do seu ciclo, isso é uma vitória e tanto, mesmo que tenha sido um completo babaca!
Revirei os olhos.

- Claro que sim, até porque passar uma vergonha tremenda na frente de alguém na primeira oportunidade é ótimo!
Caramba aquele café da manhã estava tão delicioso.

- Relaxa, você com certeza nunca mais vai vê-lo na vida! Vai ser um aprendizado!
Deu dois tapinhas na minha cabeça tal qual se faz com um cachorrinho que obedeceu um comando.

- Isso é reconfortante mesmo....
De um jeito ou de outro, ela estava certa, eu nunca mais veria aquele estranho e poderia fingir que nada tinha acontecido.

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Hoje eu estava no bar do café da livraria, na maioria das vezes era quieto e sem muito movimento, o que me dava a chance de tentar - sem sucesso - escrever algo que fosse, pelo menos agradável.

Bufei.
Fazia muito tempo que não conseguia escrever, desde que tudo aconteceu e eu me mudei.
Seria isso um trauma? Ou só bloqueio criativo?

Senti o telefone vibrar no bolso do avental rosa bebê que usava e peguei o mesmo, encontrando duas mensagens da minha amiga.

"MEU IRMÃO VOLTOU YEAH!"
"Finalmente vão se conhecer, e só pra avisar que peguei sua chave reserva e coloquei seus livros na sua estante, ele vai precisar de espaço já que preferiu ficar aqui do que num hotel!"

Sorri.
Estava feliz por ela.
Algumas muitas vezes ouvi ela falar do irmão, com um amor enorme que eu particularmente invejava, afinal, deve ser bom ter uma relação agradável com o irmão.
E agora com ele de volta, poderia finalmente conhecer o tão famoso "irmão gato" no qual ela dizia com tanto orgulho.

Respondi rapidamente e ao voltar os olhos para a porta de entrada, quase caio dura no chão.

Era ele.

O estranho babaca no qual passei a maior vergonha na frente ontem a noite.

Me abaixei rápido e me enfiei meio sem jeito num espaço embaixo do balcão, rezando para que ninguém me visse.

Fiquei olhando os pés dele se aproximarem cada vez mais.
QUE DROGA.

Ele tocou o sininho algumas vezes enquanto eu simplesmente ignorava esperando que ele fosse embora.
Qual é?
Me agarrei muito as palavras da Luisa de nunca mais encontraria aquele cara, então eu estava apavorada.