Ainda irmãos?

Não mais

A resposta veio das sombras e S/n deu um pulo de sua cama, afastando se até a janela depressa, em posição de ataque. — Sou eu, se acalme.

— Mas que porra é essa, Niragi? — Ela não se permitiu gritar, mas estava trêmula e raivosa. — Está querendo me matar ou me fazer ser despejada?

— Desculpe. — Ele mostrou as mãos em sinal de redenção e se aproximou mais para perto da luz, e S/n não deixou de perceber que sua expressão estava mais relaxada. — É uma tremenda falta de educação deixar as pessoas para trás daquela maneira. — Disse despreocupado, suspirando fundo e colocando novamente as mãos no bolso da calça. — Sabia que pode ser assaltada deixando a porta destrancada?

— Não quis ocupar mais do seu tempo. — Respondeu dando de ombros para seus avisos. — Não querendo ser grossa, mas oque veio fazer aqui?

Ele hesitou por um momento é soltou o ar pausadamente.

— Acho que precisamos conversar.

— Para mim já está tudo resolvido. Não é o fim do mundo só porque demos um beijo, você me conhece e sabe muito bem que odeio dar importância para coisas tão superficiais.

— Eu pensei muito em entrar quando notei que a porta estava aberta ou apenas deixar para lá. — Ele andou até sua estante organizada com algumas fotos enfeitando as laterais. Tudo muito delicado, assim com ela. — Eu tenho necessidade de resolver as coisas com urgência quando elas consomem meus pensamentos.

— Sabe que não tem nada que eu possa fazer para voltar no tempo e concertar oque fizemos. — S/n riu com suas próprias palavras, porque mesmo que pudesse jamais faria tal coisa. — Não fomos para a cama, Niragi. Você que está dando esse nível tão alto de importância.

— Porque não me parou quando viu que eu dei continuidade? — Era a única pergunta que queria fazer desde que descolaram seus lábios mas achou que aquilo prolongaria o assunto naquele momento. — Eu só aceitei porque estava fora de mim.

— Eu iria parar — S/n manteve os seus olhos fixos nos dele, mostrando que não continha arrependimento algum. — Mas quando eu olhei você ali, tão perto e indefeso eu quis. E quer saber de uma coisa? Eu não me arrependo. Tudo bem se você se arrepende ou não quiser mais falar comigo, mas não leve isso como uma culpa, pois você não fez absolutamente nada de errado.

Ele respirou pesado e manteve o olhar pesado mas ao mesmo tempo intimidador.

— Não entra na minha cabeça. Vivemos  juntos desde sempre e você nunca demonstrou nenhum interesse.

— Porque eu realmente não tinha.

— Porque está falando no passado?

— Ora... — Ela apertou os dentes contra o lábio inferior desviando o olhar para seus dedos inquietos. — Qual foi a desse interrogatório agora? Vai acabar me fazendo me arrepender por causa das suas paranóias.

— Eu tenho medo de tê-la magoado com algo que disse, e por isso precisava me certificar de que foi apenas algo momentâneo, porque você sabe que eu não faria nada para machuca-lá.

— Eu sei.

Niragi pareceu incomodado por um minuto, como se não soubesse mais oque dizer, mas não tivesse dito tudo. Na verdade, por maior que fosse sua inteligência, era um fracasso com sentimentos e mulheres na mesma situação.

— Quando iniciei o beijo senti que deveria parar o quanto antes pois aquilo era um erro. — S/n venceu o silêncio, parecendo constrangida, quase incerta em dividir aquilo. — Mas você é tão atraente. Foi sempre tão doce e prestativo comigo, tão gentil, que por um minuto eu quis saber como seria a sensação de ser tocada por um exemplo de homem. Eu passei minha vida inteira esperando o príncipe encantado, me baseando em um conto de Jane Austen ou naquele filme Diário de uma Paixão, mas ele nunca apareceu para me livrar da curiosidade do mundo real , para ser mais específica estou falando do lado sexual. Cresci vivenciando você indo de encontros em encontros com garotas lindas e experientes que também quis aquilo, mas talvez não com o homem que criei em base nos contos de fadas, talvez aquele que eu precisava tocar esteve sempre comigo. Eu até posso dizer para mim mesma que não é algo importante, mas lá no fundo eu sei que é. Eu só queria ser beijada.