Você é meu único

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  Kexing estava exausto.

A vida era cansativa e nada do que ele queria, dava certo, aparentemente. Agora, sua única felicidade nessa vida se foi e ele não podia fazer nada, prostrado diante do seu túmulo recém-fechado debaixo daquela chuva fria e indigna.

E ele não era igualmente indigno?

A-Xiang já não sentia mais dor e isso ao menos lhe acalentava um pouco, contudo...

Sem ela, como conseguiria continuar?

Sem aquela criança travessa que lhe trazia sorriso nos dias tristes e coragem nos dias difíceis?

Sem ela... Como encontrar motivos? Como...?

Seu celular tocou naquele momento e ainda de joelhos diante do tumulo luxuoso ele só desejou jogar aquela coisa pesada e infernal fora e fugir.

Sim, fugir. Ele não tinha mais nada que o prendesse ali, nada pelo o que valesse suportar aquele mundo e aquelas pessoas.

E então foi assim, sem um segundo pensamento ou grande reflexão que Wen Kexing abandonou aquela sua existência e fugiu, levando apenas a si mesmo e deixando aquele objeto barulhento para trás, jogado de qualquer jeito na lama que se empoçava rapidamente.


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Zishu não gostava de multidões.

Uma porque seus olhos não podiam ver cores e isso lhe incomodava quando era perguntado sobre coisas referidas a isso e outra porque além de não ver cores, barulhos lhe incomodavam enormemente.

Desde seu nascimento ele sabia quem era e o que era. Um monocromático, um herdeiro de uma linhagem secreta e envolta daquele tipo de situação genética. Estava acostumado aquilo, na verdade, seus parentes distantes que moravam nas montanhas de Gusu sempre respeitaram sua decisão de não viver entre eles e sim pelo mundo, livre, sem prisões que o levasse a grilhões desnecessários. Zishu só queria viver em paz, caminhar por esse mundo sem parar em lugar nenhum e viver em paz uma boa vida.

Contudo ainda assim não gostava de pessoas, por isso, quando o bar em que estava começou a encher, ele logo saiu dali em busca de silêncio do outro lado da calçada e foi nesse cruzar de rua que o viu.

O homem caminhava a esmo, como se parte de sua vida tivesse lhe abandonado e parecia na verdade, um cãozinho perdido e choroso. Os fios negros e curtos, molhados, grudavam praticamente em seu rosto e suas roupas também pareciam coladas no corpo como alguém que tinha acabado de sair de uma tempestade. Acontece... Que não chovia há dias em Sidney.

Zishu sabia que não deveria se intrometer, ele nunca o fazia. Pessoas passavam por provações todos os dias, era assim que o mundo era, era dessa forma em que a vida acontecia... Contudo, contudo algo em seu coração que nunca tomou as rédeas, aliás nunca sequer deu as caras, lhe fez parar e agir.

Simplesmente não podia deixá-lo naquela situação, não podia.

Se recordou de outra coisa da qual fugia, mas que no fundo sabia que estava em deu DNA e não no local em que vivesse: O potencial devastador de se tornar possessivo, desejoso, consumista por outro alguém.

Assim um arrepio percorreu sua espinha ainda que todo o seu ser fosse impelido para o estranho. Não havia explicação para os porquês, não havia razão lógica, apenas... Sentimentos.

O que era inesperado, pois sabia o quão frio era ou mesmo como pouco se importava com os outros. Cada um devia cuidar da própria vida, mas agora...

Alma gêmeaOnde histórias criam vida. Descubra agora