Era o seu primeiro dia naquela escola. Como sempre ela chegou na cidade muito tempo depois que as aulas tinham começado, mas pelo menos dessa vez não foi no meio, nem no final do ano letivo. Ainda tinha chances de se enturmar. Estava contemplando a nova paisagem pela janela do quarto, tinham se mudado para um cidade com muitas reservas florestais e sua casa ficava muito próxima a uma delas, era uma vista tão incrível que naturalmente a garota abriu a janela e inspirou fundo para sentir o cheiro fresco, logo se arrependeu porque estava chuvoso e o ar gelado parecia ter congelado os pelinhos do nariz. Rapidamente levou as mãos até o rosto e notou que a chuva que caía desde cedo, tinha parado. Ótimo, pensou.
Se olhou no espelho mais uma vez, ajeitou a franja, verificou o delineador nos olhos orientais castanhos escuros. Julgou a calça justa de um tecido vermelho fechado e grosso de elastano que delineava suas pernas até as canelas e se abria numa boca de sino mediana. Se não fosse por essa boca de sino tudo ficaria bem, estava bem difícil usar seus all star coturno naquela calça. Ela considerou a ideia de cortar e improvisar uma bainha, seu coturno cano médio poderia cobrir o corte mas iria se atrasar muito, fez uma nota mental para fazer isso outra hora.
Chegando na cozinha, viu que sua mãe havia lavado a louça do café da manhã e provavelmente já estava no quintal enterrada no seu novo projeto, literalmente, da janela dava para vê-la coberta de terra. Resolveu não perturbá-la e se preparou para sair. A caminho da porta, ajeitou a mochila nas costas e sentou no sofá alisando a cabeça felpuda de Chita, uma pastora alemã preta que era sua fiel companheira de quatro patas. A cadela prontamente deu uma boa espreguiçada e se levantou para caminhar a seu lado até o ponto de ônibus. Essa era uma das coisas que nunca mudavam em sua vida, Chita sempre a levava até onde Day permitia e ia buscar ela na volta. Não importava para onde se mudavam. Era muito estranho uma cadela ser tão esperta e isso às vezes a deixava encucada.
No ponto de ônibus, Day se sentou no banco da pequena estrutura, tirou seu kindle da bolsa e olhou de um lado para o outro em busca de pessoas suspeitas por perto, ninguém à vista, começou sua leitura.
- Isso não parece muito seguro - Uma voz masculina e jovem fez a garota pular do banco e ao mesmo tempo tentar equilibrar o aparelho que quase escorregou de suas mãos. Olhou irritada para os lados até perceber que a voz vinha de trás da placa de madeira da estrutura em que estava encostada. Ela não conseguia vê-lo e pensou um segundo se deveria correr, olhou para sua cadela que estava tranquila olhando o outro lado da rua e entendeu isso como um sinal de segurança. Sentou de novo.
- Assustar pessoas desconhecidas também não é lá uma das coisas mais seguras a se fazer, garoto. Eu poderia ter reagido de forma bem perigosa ou simplesmente ter morrido do coração. - Retrucou ao estranho oculto enquanto guardava o aparelho na mochila, só por precaução.
- Perigosa, de que maneira? - O jovem falou rindo e se revelando uma figura muito alta e bonita, sua expressão era simpática e carregava um case nas costas do que parecia ser um violão.
Day não perdeu tempo e fez uma análise rápida e quase indiscreta do perfil do garoto enquanto ele encarava Chita, que o encarava de volta com curiosidade. Ela constatou três coisas, o cheiro que vinha dele era muito bom, cheiro de sabonete, ele era muito gato e mais importante... Sua farda era igual a dela. Quase deu um pulinho de felicidade, era o cenário perfeito! Se ele fosse minimamente sociável, e pelo visto era, já teria ao menos um conhecido antes de chegar na escola. Dependendo de quem fosse aquele rapaz, isso seria uma mão na roda para ela se entrosar com a galera, ou talvez um grande problema, rapazes bonitos geralmente traziam um letreiro escrito "confusão alert!" porque sempre eram motivo de conflito entre as garotas, coisa que ela odiava.
Day tinha grandes problemas com isso porque às vezes dificultava um pouco a sua vida no começo, os garotos adoravam uma garota nova e ela tinha muita experiência nisso de ser a novata da escola. No fim da sua breve análise, ela classificou ele como um problema iminente, além ser um gato aparentemente também era músico, outro letreiro imaginário se acendeu em cima da cabeça dele, "crush alert! ". Fez questão de fixar isso no seu quadro mental e abriu um largo sorriso para o jovem simpático, afinal de contas, já era um começo.
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CHIP Z - Universos Paralelos
Novela JuvenilAs vezes parece que as pessoas vivem em realidades completamente diferentes da nossa. Outras vezes, elas realmente vivem. O que você faria então se descobrisse que existem dimensões diferentes e a pessoa que você gosta não pertence ao mesmo univers...