Kurama entregou ao homem atrás do balcão uma nota e depois pegou as revistas. Ele ainda tinha um trabalho escolar para fazer e o dia livre, então já tinha uma ideia de como se ocupar.
Voltou para casa e trocou de roupa, vestia agora uma simples blusa branca e uma calça jeans. Disse a mãe que passaria a tarde na biblioteca local, mas seguiu seu caminho para o Reikai.
Não falou com Koenma sobre isso, temia que o pequeno governante o proibisse - não que isso fosse realmente para-lo, mas preferiu não arrumar confusão-. Ele se apresentou para os homens que guardavam aquela área e depois de se entreolharem os dois assentiram e deixaram o ruivo passar.
Kurama caminhou calmamente pelo corredor, onde havia várias portas dos dois lados. Ignorou aqueles espaços e as energias gritantes que dali saiam e continuou andando até o fim do corredor para passar por outra porta.
Esse lugar estava mais tranquilo, apesar da ironia em saber que em praticamente cada uma daquelas celas abrigava um criminoso realmente perigos.Deu mais uns passos e virou a sua esquerda para encontrar uma das prisões e a moça lá dentro.
Yumi ignorou a presença da raposa e continuou deitada em seu banco duro. Não havia sido exatamente maltratada desde que chegara ali, na verdade nem se lembrava. Acordou em um lugar totalmente branco e atrás de grades, mas suas feridas estavam limpas e enfaixadas.
Kurama deu uma batidinha nas barras de ferro com os nós dos dedos. – Eu sei que está acordada. Venha aqui.
A alva levantou-se preguiçosamente e se pôs a frente do jovem. – Veio me buscar?
O ruivo inclinou um pouco a cabeça. – Como?
– Quero dizer, pro meu julgamento. Execução ou seja lá o que farão comigo. – Ela disse em um tom de voz entediado enquanto desviava o olhar.
– O que? Não, você entendeu errado. – Ele balançou a cabeça em negação. – Eu não sei o que o Reikai quer de você, mas eu não tenho permissão alguma para te tirar daqui. – Kurama disse enquanto se sentava no chão em frente a ela. – Por isso trouxe isso até aqui...
Ele empurrou as revistas por baixo das grades.
– O que é isso?– Yumi se agachou e começou a folhear as páginas de uma delas.
– Temos um trabalho lembra? Não quero fazer tudo sozinho. – Ele tirou da mochila dois cadernos e passou um para ela também. – Vamos fazer anotações.
A alva pela primeira vez deu um sorriso. – Quer mesmo continuar isso?
– Eu não vou ficar sem nota por sua causa... – E passou a folhear uma revista também.
Ela soltou uma risadinha e se acomodou no chão também.
Após alguns minutos de silêncio, Yumi anotou alguma informações no caderno e passou para o ruivo olhar.
– O que você acha de colocarmos os acontecimentos da guerra como em uma revista de fofocas? Tipo, dando mais ênfase e escândalo do que realmente foi. – Ela disse apontando para uma das páginas de uma revista teen.
– É uma boa, pelo menos você tem alguma ideia. Não consigo me interessar o suficiente por nada do que leio aqui...– Ele jogou a que tinha em mãos para o lado e pegou outra.
– Me sinto até um pouco mais “garota normal” fazendo esse tipo de coisa. – Ela deu um sorriso sincero. – E por falar em normal, eu ainda não entendi o que um garoto como você ganha ajudando o Reikai. Como chegou a isso, Minamino?
– É uma história longa. – Ele desviou os olhos das páginas para finalmente olhar para ela. – E pode me chamar de Kurama.
A alva arregalou os olhos. – Uau... Kurama. – E ficou em um silêncio que o ruivo estranhou.
– O que foi?
– Não é nada. – Ela trocou de revista. – Só acho diferente, esse seu apelido. – Yumi soltou uma risadinha. – E ainda confiando a uma garota que praticamente acabou de conhecer, o que planeja com isso Kurama? – Ela levantou uma sobrancelha para reforçar sua brincadeira da última frase.
Ele ignorou a piada e continuou. – Não é um apelido, é meu nome. E o que tem de tão estranho?
– Bom, não é um nome comum. Eu mesma só encontrei uma pessoa conhecida por esse nome.
Kurama sorriu para si mesmo, sabendo que rumo essa conversa estava tomando e soltou o lápis em cima do caderno que estava em seu colo. Se apoiando nos braços, ele soltou um pouco o corpo para trás. – É mesmo? Quem?
– Um ladrão... – Foi a sua resposta.
O ruivo riu. – Yumi, sou eu.
Ela o olhou confusa. – É o que?
– Estou dizendo que sou eu...
Yumi ficou alguns segundos imóvel e o encarando ainda confusa, para logo depois sua expressão se transformar em algo totalmente divertido e ela soltar um riso alto.
– Aiai Minami- digo, Kurama... – Ela recuperou o fôlego. – Essa foi boa. – Ela apontou ainda rindo um pouco.
A expressão do ruivo caiu. – Qual a graça?
– Não, é só que... estamos falando da mesma pessoa? – O sorriso nunca a deixando seus lábios.
– De quem mais estaríamos?
– Olha, sem querer ofender nem nada. Mas Kurama Yoko era um grande Yokai, o lendário ladrão do Makai... Vocês não tem nada a ver.
– A é mesmo, é? –A raposa revirou os olhos.
– E mais, parece que Yoko Kurama já morreu a um bom tempo. – Ela anotou algo no caderno enquanto falava. – Um caçador o pegou ou algo assim, uma pena... Ele era incrível.
A última frase mesmo que murmurada não passou despercebido pelos ouvidos de Kurama e ele levantou uma sobrancelha para a alva. – Incrível é?
Ela corou um pouco. – É-é... Quero dizer, ele era uma lenda no mundo dos ladrões. Eu o admirava, não... Eu ainda admiro quem ele foi.
O ruivo soltou um riso abafado. – E o que tem de admirável em um ladrão?
– Um bom ladrão reconhece o outro...
– Espera, tá dizendo que você sabe roubar?
– Eu precisei. Depois que meu pai morreu e eu fiquei sozinha, um ladrão me acolheu e ele passou a me ensinar. Ele tinha um bom coração... – Um sorriso doce cruzou seus lábios com a lembrança. – E modéstia à parte, eu sou muito boa.
– Certo... – Ele a olhou de cima a baixo. – Mas voltando para o Yoko, como pode dizer isso ser nem ao menos o conhecia? Ouvi que ele sempre foi muito cruel, roubando e matando por puro prazer...
– A é o que dizem. Ele não foi cruel comigo.
– Conheceu ele? – Perguntou e ao mesmo tempo vasculhando na memória onde a teria visto em seus tempos como Yoko.
– Sim. – Ela afirmou com um largo sorriso. – Eu era bem novinha, tinha uns 4 anos e ele tentou roubar a espada de meu pai. Sorte que não conseguiu, papai teria acabado com ele...
Com essa informação um sentimento de frustação lhe veio a tona. A espada Yokai de Inu no Taisho, sim ele tentou pega-la, mas não obteve sucesso e o grande Yokai cachorro levou tudo como uma brincadeira, já que se conheciam a um bom tempo.
Ele vasculhou ainda mais e achou a lembrança da garotinha que acompanhava o homem naquele dia, mas depois da morte de Inu no Taisho ele pensou que uma criaturinha como aquela jamais sobreviveria no Makai e quem diria que estaria conversando com ela agora, uma mulher.
– Entendi...
Ele observou ela voltar a tarefa de folhear uma revista para analisa-la melhor. A imagem da pequena Yumi era nítida em sua cabeça, com seus cabelos alvos bem curtos e grandes olhos escarlate, naquela época eles transbordavam inocência e olhando para ela agora não parece que mudaram.
Mas a memoria da alva naquele dia varreu completamente essa ideia de sua cabeça e ele só pode lembrar dos pequenos rubis rodeados pela escuridão que eram seus olhos, quando sem pensar duas vezes cortou a cabeça daquele cara com a espada que um dia pertenceu ao seu pai.
Espera, a espada de seu pai?
– Yumi, naquele dia no cassino... Aquela espada não era a do Grande cão yokai?
A alva levantou a cabeça para encara-lo. – A que eu estava usando? É sim, porq-
Choque cruzou suas feições e ela se Lembrou que perdera a espada naquela luta e desde então não a viu mais. Soltou o lápis que ao cair no chão, fez um ruído que ecoou pelo local.
– A minha espada... A espada do meu pai...
Ela passou os braços pela grade e para a surpresa de Kurama, agarrou os ombros do mesmo. – Diga Kurama. Vocês recuperaram a minha espada, né?
O desespero em seus olhos era nítido e pela primeira vez o ruivo viu uma emoção diferente vindo dela. – Sinto muito Yumi, mas nós não a trouxemos conosco... Só se o Reikai passou lá.
– Por favor Kurama, deixe-me ficar com ela. Eu não farei nada, eu prometo!
– E-eu-
Sua voz foi interrompida quando as portas do corredor foram abertas com violência e surgiram Koenma, acompanhando de Jorge e mais dois soldados do Reikai.
– Kurama! O que pensa que está fazendo?!
O ruivo franziu o cenho em desagrado. – Qual o problema?
– Esta mulher é uma prisioneira! Isso aqui... – Ele apontou para o chão. – É uma prisão, não uma biblioteca! Somente pessoal autorizando pode ficar aqui e eu não lembro de você estar incluso nisso.
– Ei! Você! – A alva finalmente soltou Kurama e se dirigiu a o governante no corpo de uma criança. – Onde está a espada do meu pai? Me deixem ficar com ela!
– Espada? Não sei do que está falando.
– É a única coisa que prova que eu sou a herdeira de Ino no Taisho, por favor... – Seu rosto era realmente suplicante.
– Não ligo pra quem você seja, isso não importa aqui. – Ele deu meia volta e marchou em direção a saída. – Vamos! E Kurama, lembre-se de não voltar mais aqui.
Ele recolheu suas coisas e antes de ser obrigado a acompanhar os soldados não pode deixar de encarar Yumi. Seu rosto estava retorcido de ódio e ela apertava as grades com força, entortando um pouco as barras que logo voltavam a se refazer graças a magia do Reikai.
Encarava a porta por onde o pequeno governante passou e novamente o ruivo lembrou que aqueles olhos não continham mais aquela inocência.
Sem conseguir encara-la mais, Kurama apenas saiu. Deixando a moça mais uma vez sozinha, jurando para si mesma que sairia dali não importa como.
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E foi isso. Até que não ficou tão longo mas eu gostei mesmo assim, tô até pensando em algum momento fazer tipo um "extra" inspirado nesse capítulo ( na vdd eu vou fazer sim, fdc kkkk só não agr)
Eu espero que tenham gostado, Bjss!
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Jogo de azar.
FanfictionOs detetives espirituais recebem mais uma missão envolvendo o mundo dos demônios. Uma nova aventura, uma novo companheira... KuramaXOc Escrito como uma nova saga entre a " prisão dos 4 monstros" e " Saga da Yukina