Prólogo

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O gosto metálico enchia a boca de Dan Mitchell junto de uma dor imensa que rodeava seu braço, mas esta dor era facilmente esquecida pelo medo daquela imensa coisa que o atacou com uma espada de 2 metros e logo em seguida subiu voando com as suas asas negras mais alto do que as árvores que cobriam o seu redor, ele temia que a coisa que o atacou voltasse então começou a correr entre aquela floresta escura onde ele se encontrava e a cada passo que ele dava para longe da criatura mais ele ouvia seu bater de asas como um alto rugir de tambores.

- ME DEIXE EM PAZ - Mitchell gritou esperando que a criatura alada pudesse compadecer de seu sofrimento e o deixar em paz. E assim que ele terminou de gritar teve esperanças disto realmente ter ocorrido pois o ensurdecedor barulho de suas asas então começou a diminuir como se cada vez estivesse mais longe.

Então com finalmente a criatura se afastando o seu sangue começou a se esfriar e ele pôde pensar com clareza e por seus pensamentos em ordem, como ele tinha acabado em uma situação dessas era o pensamento mais recorrente em sua mente, ele não lembrava de nada, ele não gostava de andar nesta escuridão encontrada em florestas e nem gostava desse silêncio que a acompanhava, ele preferiria o barulho constante de carros andando de sua cidade e todas aquelas luzes para iluminar sempre onde quer que ele vá então por qual razão ele tinha acabado em uma floresta assim? E qual era o problema daquela criatura que o atacou? Ela tinha uns 4 metros ou mais e balançou sua espada para cima dele e ainda bem que ele tinha desviado a fazendo só acertar o seu braço. Espera, meu braço foi acertado!

Assim que Mitchell olhou seu braço e viu todo o sangue do ataque da espada a dor veio de repente, o medo e a adrenalina que o ajudaram a fugir da criatura alada tinha o feito esquecer da dor de ter toda aquela dilaceração, a pele pendurada o assustava e seu braço começava a falhar, e com o susto de ver seu braço assim ele se jogou para trás se apoiando em uma das árvores daquela floresta escura, porém assim que houve o contato de suas costas com a árvore um grande número de espinhos se formaram, e do tamanho de 70cm cada um deles o atravessaram pelo peito e barriga, seus órgãos tinham sido todos perfurados e o sangue começou a escorrer pelos buracos que se formaram e seu corpo ficou ali perfurado que nem um casaco de pele em um cabide medonho.

Naquele momento o sangue em seu pulmão o fazia engasgar e sua visão começava a ficar turva, suas forças estavam se desvanecendo e cada vez mais sua perna enfraquecia o deixando a mercê dos espinhos que se formaram na árvore. O que diabos é isso? Eu estava na cidade agora a pouco! Como vim parar aqui?

Suas lembranças retornavam e ele agora estava lembrando do que lhe trouxe até esta floresta, ou pelo menos o que houve antes dele aparecer magicamente nela; ele estava dirigindo de volta para casa de seu emprego, e um par de luzes o cegou junto do barulho de um caminhão, a última lembrança que voltou a si era deste aparente caminhão arremessando seu carro até uma outra pista com grande fluxo de carros e uma imensa dor logo em seguida. Este é o inferno?

Seu pensamento estava confuso, ele tinha morrido então não estava crendo ainda que realmente estava ali vivo, mas estava e a sensação realista dos espinhos em seu peito denunciava que aquilo não era só fruto de algum sonho bizarro então com um sorriso no rosto pensou ali ser o inferno, ele pensou ironicamente no quanto desperdiçou sua vida fazendo boas ações e doando dinheiro e comida a necessitados, se ele veio parar no inferno mesmo com todas aquelas ações de bondade então sua vida não valeu de nada, se ele soubesse que viria parar aqui então usaria todo tipo de drogas e faria todo tipo de maldade, cederia o desejo de mandar seu chefe a merda, e dentre todas as coisas pensou também em sua virgindade, ele tinha 30 anos e nunca sequer viu uma moça, do sexo oposto do qual ele era atraído, sequer desnuda, então sua vida inteira foi jogada no lixo na percepção dele, nunca houve um momento em sua vida que ele foi feliz.

O ódio de ter perdido sua vida em vão foi tomando seu corpo e mesmo com aquela imensa dor que o aflingia ele segurou os espinhos que o atravessaram com a mão tentando se arrancar da árvore, porém assim que houve um contato no corpo do espinho que atravessava pelo seu peito outros vários espinhos geraram em sua superfície atravessando também a mão de Mitchell, a árvore não queria que ele reagisse, queria que ele ficasse ali pendurado como um boneco até morrer por completo e Mitchell foi cada vez mais aceitando essa idéia, "se este é o inferno ele fez um bom trabalho em ser aterrorizante!" Mitchell pensou, mas ele não tinha perdido a esperança e em um outro pico de raiva o fez colocar os pés no chão e se jogou para longe dos espinhos daquela árvore que parecia ter consciência própria e para sua sorte sua ação deu certo.

Porém, mesmo sua ação dando certo para fugir daquelas adagas florestais ele não ficou completamente fora delas, assim que olhou para trás viu que os espinhos tomaram a forma de mãos e o seguraram pelo seu interior o deixando completamente com o intestino para fora, agarrado a árvore, e por um momento ele se arrependeu de ter fugido da criatura alada de antes, ela pelo menos o mataria de uma vez e não o faria sentir tanta dor quanto sentia agora, mesmo seu interior estando fora de si ele ainda o sentia e as mãos que geraram na arvore apertavam com imensa força, mas não o suficiente para destrui-las, isto junto de toda dilaceração fazia Mitchell urrar de dor, e em um ultimo respiro de sua vida ele teve um momento de clareza e soube que aquele lugar não era o inferno pois ele acabou por pensar que se este fosse o tal inferno ele não poderia estar morrendo como agora. Se eu morrer no inferno para onde vou?

Dan Mitchel por mais que de começo acreditasse que este era o inferno ele estava errado, tal lugar não era governado por forças sobrenaturais, era governado por pessoas, mas isto não impedia que o sofrimento de algumas pessoas fosse infernal pois o grau de sofrimento poderia muito bem ser facilmente confundido com o de um local de grande sofrimento eterno como o submundo infernal. Este era Ouroboros, uma terra de orgulho e vaidade onde seres alados e monstros demoníacos era o menor problema se comparado aos humanos.

Dan Mitchell acabou morrendo ali pela segunda vez, não tão distante da cidade Antares, na ilha de Ouroboros, em seu pós vida.

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