Quem disse que dormir aquela noite? Quem conseguiria dormir depois de dar o seu primeiro beijo em outro homem? Eu me martirizava, me culpava, me achava um grande idiota por não ter a atitude que sempre sonhei, que sempre desejei. Tive e não tive. Quando o dia estava amanhecendo, Eduardo se levantou, vestiu a roupa, e preparava-se para sair.
- Já vai? - perguntei.
- Já, né? Tenho que pegar meu material pra ir pra escola.
- Ah tá. Até daqui a pouco, então.
Eduardo saiu, e naquele dia não foi para escola. Nem no seguinte, e assim foi até o final da semana. Ele estava confuso, eu também. Eu queria meu amigo para poder desabafar, mas ele não estava disponível pra mim. Então, comecei a ser um perseguidor desgraçado. Sabia que aos finais de semana, ele trabalhava em um restaurante no nosso bairro. Então, fiquei seguindo ele, pra ver se ele estava bem. Ele estava ótimo pelo visto, afinal Vanessa não saia do seu lado um segundo, eles trabalhavam juntos.
Na segunda-feira finalmente ele apareceu na escola, mas mal olhou para a minha cara. Eu falava com ele, e ele só respondia "sim", "não", "tá". Estava ficando agoniado com aquilo já. Na hora que o sinal final tocou, ele saiu em disparada. Mas, se ele achava que iria se livrar de mim, ele estava muito enganado. Saí correndo atrás dele, e em frente a escola toda, eu segurei em seu braço, o impedindo de continuar fugindo de mim.
- Qual é o seu problema? - perguntei, quase gritando.
- Solta meu braço, porra - ele falou ainda calmo.
- Só solto quando você me disser o que está acontecendo. - falei quase chorando.
- Já vai chorar? É uma bichinha mesmo!
- O quê?
- Mano, sai da minha aba. Não sou teu namorado não, veado. Me esquece!
Eu preferia que ele tivesse dado um soco na minha cara do que ter dito aquilo. Ele me humilhou na frente da escola inteira, seu medo era tão grande, que ele não se importou comigo, com meus sentimentos. O cara tinha me dito dias atrás que me amava, e agora isso. Fui pra casa correndo.
Peguei vários remédios e tomei. Antes disso, escrevi uma carta para minha mãe dizendo os motivos de estar me matando. Motivos que hoje que não fazem o menor sentido, mas naquele momento era a minha deixa para um grandfinale. Coloquei a carta em uma de suas gavetas e me deitei.
Enquanto os remédios começavam a fazer efeito, me sentia aliviado por estar tirando todo aquele peso que tinha sido a minha vida até aquele momento. Minha sexualidade, minha paixão pelo Eduardo, meus medos. Até que adormeci. Um sono profundo.
Um sono de uma vida, tudo o que eu tinha vivido até aquele momento passou como se fosse um filme. Nem uma comédia, nem um drama, nem uma tragédia. Era mais um filme brasileiro, barato e mal feito. Mas era a minha vida de adolescente e seu primeiro amor.
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VIRANDO HOMEM - (ROMANCE GAY) uma quase autobiografia
RomanceTom conta sua história, seus amores, da adolescência até a vida adulta. Uma história com tantas viradas, que podaria ser uma série da Netflix. Será que é real? Será que tudo isso aconteceu? Herói ou vilão? Talvez só um filho da puta. Nessa quase aut...