Capítulo Único

233 16 9
                                    


Era uma sexta-feira à tarde em Nova York. Havia chovido durante todos os outros dias na semana até aquela madrugada, entretanto no decorrer do dia o céu estava tão limpo que o único sinal de que a onda de temporal ocorreu de verdade se encontrava nas ruas e gramados que ainda estavam molhados. Eram 05:37PM, mas ainda era possível ver o sol brilhar entre as nuvens, tornando aquele um belo dia para visitar a quem ele tanto amava.

Como de costume, depois do serviço, Steve passou em uma floricultura que ficava a uma quadra da galeria onde trabalhava. Comprou o buquê de flores mais bonito que havia no lugar para levar para Tony, o moreno adorava girassóis, para ele não existia flor mais bonita que aquela, e Steve adorava agradar seu garoto com os girassóis mais lindos que conseguisse encontrar. Saiu de lá e colocou as flores no banco do passageiro de seu carro, dando partida em direção ao seu destino.

Ele conseguia sentir suas as mãos suando contra o volante a cada curva que fazia em direção ao local, seu estômago doía, não haviam mais borboletas ali dentro, ele sentia como se estivesse levando chutes em sua barriga sem parar, não era uma sensação agradável, sua garganta estava seca e ele nem tinha certeza se conseguiria falar o que estava preso em seu peito por tanto tempo.

Quando estacionou seu carro ele demorou exatos três minutos criando coragem para finalmente sair, pegou o buquê, o segurou firme junto ao peito e seguiu até onde Tony estava. O local estava bem vazio, apenas algumas pessoas espalhadas aqui e ali, segurando buquês de flores, assim como Steve, e apenas lamentando pelo fim da vida. Cemitérios nunca foram o lugar preferido de Steve – pra dizer a verdade eu duvido que eles sejam o lugar preferido de alguém – mas o loiro havia se acostumado com aquilo. Quando chegou ao local exato, depositou o buquê de girassóis sobre a lápide, tirou seu casaco e o colocou sobre a grama molhada para que pudesse sentar em cima.

— Ontem Dodger entrou na sua parte do closet e dormiu lá durante toda a noite, tentei trazê-lo pra cama mas ele não queria vir de jeito nenhum. Peter sente sua falta também. Ele me visita às vezes, Dodger sempre parece mais feliz quando ele está por perto, acho que ele sente o sangue Stark que corre nas veias do pirralho. Ele me mostrou todos os projetos que ele tem para esse semestre na faculdade, não parou de falar um segundo e eu não entendi uma palavra sequer do que ele disse, eu sei que ele sente falta de explicar essas coisas de gênio para o irmão gênio dele. Carol, Natasha e Bucky sempre vão me visitar, no mínimo três vezes por semana. Carol não admite, você sabe como ela é durona, mas eu vejo que ela fica com o carro parado na frente da nossa casa por meia hora antes de conseguir criar coragem para entrar, quando entra seus olhos estão vermelhos e inchados todas as vezes, não importa o tanto que ela tente disfarçar, a voz dela sempre se quebra quando fala o seu nome. As vezes eu esqueço que eu não fui o único que perdeu você. Natasha e Bucky evitam chorar na minha frente, eles querem parecer fortes para que eu não desmorone, mas sei que estão tão quebrados como eu. Você deixou todos nós assim.

Steve respirou fundo e olhou para o céu, suas lágrimas escorrendo pelos seus olhos enquanto ele tomava coragem para continuar sua conversa com Tony.

— Hoje faz oito anos e sete meses desde que nos beijamos pela primeira vez, naquela festa que o Bucky deu quando estávamos no último ano do ensino médio. Foi um dia engraçado, não foi? Eu nunca tinha sentindo tanta vergonha de outra pessoa na minha vida, você era Tony Stark e eu era só o garoto magrelo que gostava de desenhar, mas mesmo assim era para mim que todos os seus flertes da noite foram apontados. - Steve soltou uma risada fraca com a lembrança daquela noite. — Hoje faz quatro meses que eu te perdi. Aquela casa é tão vazia sem você para preencher cada espacinho dela. Sinto falta de brigarmos porque você costumava sentar no sofá branco enquanto estava todo sujo de graxa. Sinto falta das nossas brigas, cada uma delas, sinto falta de como me colocava pra dormir no quarto de hóspedes, mas no meio da madrugada você batia na porta e depois de transarmos a noite inteira, nós dormíamos agarradinhos sem nenhuma fresta entre nossos corpos, e mesmo assim, na manhã seguinte você não fazia o meu café porque dizia que ainda estava bravo comigo.

Houve um grande intervalo de puro silêncio enquanto Steve apenas se lembrava de tudo que já havia passado com seu marido. O sol estava se pondo, as nuvens estavam carregadas, Nova York vai enfrentar um temporal outra vez, pensou ele distantemente. Era quase como se o céu soubesse que Steve Rogers queria disfarçar as lágrimas que rolavam tão pesadamente de seus olhos.

— Pra ser sincero com você eu não sei como ainda não desmoronei completamente. Lidar com tudo isso está sendo demais pra minha alma solitária, mas você sempre me deu força, não é? Você sempre foi a minha força, na verdade. Só que você não está mais aqui. Eu estou tão destruído e sei que não sou o único, as vezes me sinto completamente egoísta diante de tudo o que aconteceu. Você era tudo o que Peter tinha, agora ele está sozinho também, claro que ele tem o Wade e seus amigos mas nada se compara a ter o irmão dele por perto. Parece que nossas vidas simplesmente não funcionam mais sem Tony Stark. - Steve tinha tanto a dizer, as palavras lutavam para sair e ele sentia que poderia ficar falando por horas — Eu sou tão egoísta, nunca quis que as pessoas soubessem o quanto eu amava você, o quanto eu amo você, sempre achei que um amor puro como o nosso seria demais pra esse mundo cruel que destrói toda a inocência que toca como se não fosse nada, mas não hoje. Hoje, a única coisa que eu quero é que o mundo saiba que eu amo Tony Stark com todo o meu coração, mesmo agora sendo tarde demais. Eu amei, amei você Tony e te perdi e todos os dias eu sinto isso no meu peito, queimando como o inferno. A única coisa que eu queria nesse mundo era ter você de novo nos meus braços. – Steve respirou fundo, em uma tentativa vã de acalmar-se. Numa voz mais branda, mas não menos quebrada, adicionou – Eu trouxe suas flores favoritas hoje, espero que goste. Eu te amo, Tony.

Era hora de ir embora, Steve virou-se e caminhou para fora do cemitério com um grito desesperado preso na garganta e um coração que parecia pesar uma tonelada em seu peito. Na próxima sexta ele visitaria Tony novamente.

Hurts Like HellOnde histórias criam vida. Descubra agora