Lilith.

Da Morte...

Aurora dormia tranquilamente em meu braço esquerdo, meu esconderijo por assim dizer ficava no subterrâneo, um pouco acima do submundo. Proibido a entrada de anjos, mesmo assim a guarda de querubins me procurava dia após dia, já perdi as contas de quantas semanas estamos aqui.
A respiração tranquila me trazia uma paz inexplicável e inevitável, Aurora me fazia entender o mais puro amor, não acho que esteja de fato apaixonada mas é puro. Profundo. E se eu for um demônio como dizem, pra alguém que já está quebrada não acho que seja importante.
O movimento ao meu lado me fez sair de meus pensamentos, os olhos verdes feito água mais cristalina já encontrada em qualquer lugar do universo. Me olhou como se eu fosse a coisa mais bela do mundo, sem saber que para mim só existia sua beleza.
Aurora crescia mais a cada dia, seu corpo me chamava atenção, não consigo mais ignorar o que cresce dentro do meu peito.

- Olá, princesa.
-Olá, minha Deusa. Espero não ter lhe atrasado.

Talvez sua voz seja a mais bela melodia que já pude contemplar em minha existência não tão longa, tenho tido uma sensação estranha com relação a isso. Não me sinto errada, me sinto feliz, mas sinto dor por ela.
Aurora é um anjo, não deveria viver assim comigo. Talvez eu não seja o melhor para ela, talvez ela deva retornar aos céus e ser o ser mais lindo daquele lugar.

- Em que tanto pensas?
- Em você. - Me olhou com seus lindos olhos arregalados, como se esperasse uma explicação para tal ato. Levantei-me, e fui em direção a borda da pequena caverna subterrânea e ali me apoiei.

- Sabe Aurora, você é um anjo. Não vejo porque de querer ficar aqui comigo, isso pode soar como traição. Talvez se.-  Minha fala foi interrompida por um pequeno anjo me abraçando de forma apertada.

- Lili, só você pode pensar em algo assim, eu amo estar com você aqui. Você me é algo muito maior que um par de asas, você significa liberdade lilith, você me dá asas pra viajar.

O pequeno adjetivo me tirou o coração e colocou de volta em seu lugar, não poderia perdê-la em nenhuma circunstância, Aurora e seus galáxias verdes me levaram para outro planeta qual nunca mais quero retornar.
A abracei tão forte que talvez a estivesse machucando, ela era um lugar seguro para baixar minhas barreiras. Aurora me mantém salva, ela é meu sol.

Os dias passaram e logo Aurora se tornou uma mulher completamente, e eu bem... Me coloquei em meu lugar de amiga, porém já não suportava viver com tamanho sentimento dentro de mim, estava distante dela, talvez ela estivesse magoada mas era necessário.

- Sabe Lilith, nunca ouvi um silêncio tão alto em minha curta vida. Não entendo, tento lhe juro que tento mas não consigo. O que está fazendo conosco? Se cansou de mim é isso?

Palavras machucam mais que ações, Lúcifer uma vez me disse que você pode chicotear alguém até a morte e talvez ela esqueça, mas palavras? Palavras são pesadas, palavras ferem a alma e mesmo pós morte não nos esquecemos de coisas que foram faladas e ouvidas.

- Me desculpe, eu apenas estive pensando em coisas que não fazem sentido, me desculpe pequena.
- Não, fazem dias lilith, DIAS. Eu confio em você desde que entendi que era uma pessoa. Você tirou minha fé de mim, me trouxe pra cá e pra que? Me diz? Para me ignorar é isso? Para nunca mais me deixar ver a luz do sol? Eu me lembro de quando você falava que eu era o seu sol.

Tudo desmoronou, Aurora não me ouviu e saiu, não tive tempo de segurá-la, no segundo seguinte ela estava no chão, a guarda de querubins a acertou em cheio, sem chance para defesa. Meu mundo se foi, corri até ela tentando lhe salvar, como se tudo dentro de mim morresse de vez. E estava de fato morrendo, peguei a mulher da minha vida em meus braços e lhe falei baixinho.

- Fica comigo, pequena fica comigo. Meu sol, você sempre vai ser meu sol, não me deixa aqui, me perdoa... Me perdoa.
O corpo dela então foi pego de meus braços e  a voz se fez presente.

- Lilith, sua ambição novamente lhe tirou aquilo que mais amava, eu lhe dou o que mais queria, a vida eterna sem o que mais te importa, o amor. E lhe condeno a quinhentos anos no submundo, se era isso que queria eu lhe dou.

As lágrimas em meu rosto já chegavam ao chão, como se o meu amor mais uma vez fosse pecado... Eu te busquei mais... Não vi seu rosto... Não.

O senhor sabe quanto eu protegi ela, quanto eu a amei, com toda minha alma, não me importo de ficar presa para o resto da minha vida miserável, mas traga ela novamente. Eu sei que pode fazer isso, traga Aurora para mim, me tire a vida se for preciso para dar a ela novamente.

- A vida dela é a sua, Lilith sua vida eterna é a vida perdida de Aurora, seu amor era tão forte que agora ela deu a vida para você. Não vamos perder tempo, levem ela até o submundo, estrela da manhã a espera.

Meu pranto se tornou raiva, ela foi sacrificada para me dar a vida eterna mas de que me serve uma vida sem ela ao meu lado? Trancada em uma cela escura, não posso crer  que ela se foi, Aurora não está mais comigo e eu nem sequer tive tempo para dizer que a amo, e se eu tivesse lhe dito que estava perdidamente apaixonada será que estaríamos juntas...

"Querida, onde estiver saiba que te amo,
Todo meu ser lembra de você,
Todos os dias..."
semana um.

" Seus olhos,
Galáxias inesquecíveis,
Espero que esteja me esperando."
Mês um.

" você é minha única direção"
Ano um.

- Sabe Lili, devia pedir perdão. Pode viver comigo, sem nada a ser cobrado.
- ora Lúcifer, você engana esses tontos que comanda, não eu.

A risada alta foi ouvida por todo o local, enormes paredes cinzas e frias, sem torturas nem fogo, mas sim um lugar gelado e triste, sem chances para nenhum que ali habitava manter a cabeça em boas condições.

- Deveria esquecer que Aurora um dia existiu.
- Quem sabe quando você parar de correr atrás de Eva eu lhe dê ouvidos. - Mais uma risada alto foi ouvida por mim.

- Ora Lilith, não me provoque que você ficará aí mais cem anos.
- Lucinho, o que vier é lucro. - Rimos bastante e assim mais um dia se foi.

" Descrever como luzes,
Você era minha luz,
Um dia a menos para te encontrar."

Notas: 😭 😭 😭 😭 😭 tristeza, solidão e trevas.

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