Capítulo único

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Hoje faz dois anos desde o fim da Quarta Grande Guerra e cá estou eu, mais uma vez, flutuando sobre o telhado de uma casa antiga, observando a noite se estender pelo céu, como se fosse um imenso véu negro, e as luzes das casas de Konoha se acenderem aos poucos. Pode parecer estranho o que falarei agora, mas hoje também faz exatamente quatro anos que eu morri. Sim, caro leitor, aqui quem voz fala é o fantasma do Sannin Lendário, o Sábio da Montanha e o mais lindo Galante, Jiraiya. Apesar de meu corpo físico jazer no fundo do mar, provavelmente devorado pelos peixes ou esmagado pela pressão da zona abissal, a minha alma ainda está aqui, vagando pelo plano terreno. Talvez eu saiba o motivo, mas não irei falar sobre isso assim logo de cara. Afinal, durante estes quatro longos anos, fiquei observando a todos de longe, na minha forma translúcida e invisível para os olhos humanos.

Vi Konoha ser reerguida das cinzas e vi muitos shinobis se sacrificarem para trazer a paz de volta ao mundo. Também vi figuras históricas do passado serem trazidas de volta à vida e até mesmo um suposto ser alienígena poderoso surgir diante do lendário time sete. Meus olhos negros captaram tanta coisa em minha forma fantasmagórica que poderia passar esse relato inteiro dizendo sobre as mazelas e bonanças que pressenciei dutante esses quatro agitados anos. Mas meu foco principal aqui é falar de duas pessoas muito queridas para mim, que irei carregá-las em meu coração até o paraíso.

Sobre meu discípulo cabeça oca, Naruto Uzumaki, pude presenciar o menininho desprezado por todos, crescer e se tornar um herói, sendo acolhido nos braços de todos após sua vitória contra o Pain. Vi também ele duelar com seu rival, Sasuke Uchiha, naquela espécie de revanche no Vale do Fim. Aquela luta boba resultou na perda de um dos braços do loiro, mas, com os esforços de toda a equipe médica e científica de Konoha, Naruto tinha uma prótese novinha em folha! Também vi aquele moleque cortar o cabelo mais curto, coisa que não me agradou, afinal, se fosse por mim, Naruto deixaria seu cabelo comprido, que nem o de seu pai, Minato. Também o vi amadurecer e, após anos, reconhecer que a Hyuuga o amava e a correspondeu com todo seu amor.

Também o vi sofrer pela minha morte, chorando sempre quando se lembrava de mim ou via algum livro meu. Afinal, eu fui uma espécie de pai para ele e meus ensinamentos o ajudaram a chegar até onde ele estava hoje. Mesmo que ele não conseguisse me ver, eu sempre estava ao seu lado no momento de dor, o fazendo se acalmar e deixasse que aquele sentimento de perda não o fizesse sofrer tanto assim. Afinal, odiava ver Naruto triste, totalmente diferente de sua habitual alegria que irradiava como o sol por onde passava. Agora, Naruto superou sua dor e amadureceu, lembrando sempre de mim com carinho e nostalgia, não mais com aquela dor terrível que lhe corroía o peito. Eu havia me tornado uma lembrança agradável para o Uzumaki, e assim queria ser.

Meu querido discípulo até fez um túmulo para mim! Mesmo meu corpo físico nunca tendo sido encontrado, Naruto enterrou alguns pertences pessoais meus que havia deixado no meu antigo apartamento em Konoha, que infelizmente fora destruído durante o ataque de Pain, e enterrou no solo úmido do bosque, colocando algumas pedras polidas por cima e algumas fitas, simbolizando o túmulo. Achei meio humilde para uma grandiosa figura famosa como eu era mas, ter aquele cantinho como memória, já fazia minha alma ficar mais leve e voar de alegria por aí. Às vezes, Naruto vinha até o túmulo improvisado e ficava horas ali, conversando com aquelas pedras, falando sobre seu relacionamento com Hinata, seus estudos para se tornar Hokage e algumas coisas cotidianas. Qualquer um que passasse por ali poderia julgá-lo como sendo um lunático mas, eu ouvia tudinho o que meu discípulo dizia, flutuando transparente por sobre aquelas pedras.

Às vezes a enorme vontade de abraçá-lo me vinha à mente porém, os fantasmas como eu não tinham mais o privilégio de sentir o contato de um corpo físico, cabendo apenas a mandar uma brisa gélida, que bagunçava os cabelos e causava um calafrio na espinha para os mais medrosos mas, sabia que Naruto, quando sentia aquela brisa afagar seus cabelos loiros espetados, conseguia perceber que eu o estava ouvindo e ao seu lado, para todo o sempre.

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