10. Extra III

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HARRY TIAGO MALFOY-POTTER - P.O.V

Nunca pensamos muito quando estamos envelhecendo.

Quer dizer, você só tem essa visão quando finalmente vê seus filhos crescidos e namorando, totalmente alheios a você ou focados demais nas próprias vidas.

Foi de forma sutil que minha crise existencial começou a vir se rastejando até cair sob minha cabeça como um balde de água fria.

Hoje era meu aniversário de 40 anos e consequentemente meu aniversário de casamento. Os gêmeos estavam vindo de seu primeiro ano em Hogwarts e Lily em uma viagem de treinamento das Harpias.

Ela havia terminado Hogwarts ano passado e já havia sido recrutada para ser uma das jogadoras profissionais por indicação de Ginny que também era uma jogadora incrível.

Nem preciso dizer que a briga entre Draco e eu para deixar nossa filha ser jogadora foi longa. Envolveu muito sexo, persuasão e consciência da minha parte para colocar a ideia na cabeça do meu marido.

Mas depois de anos me dedicando inteiramente aos meus filhos — ótimos anos de que eu não me arrependo —, eu frequentemente sentia necessidade de mais.

Eu pela primeira vez precisava de mais.

Não no sentido de me sentir infeliz com a minha família e meus três filhos, mas comigo mesmo. Eu não era mais Harry Potter; eu era pai dos meus filhos e marido de Draco.

Em algum momento minhas necessidades foram negligenciadas e ficaram por assim mesmo, e o pior, é que foram negligenciadas por mim mesmo na busca de ser um pai incrível a todo momento.

Certo ponto eu percebi que estava infeliz comigo mesmo porque de certa forma fui apagando traços das minhas vontades e preenchendo com as vontades dos meus filhos e de Draco.

E claro, o fato de todos eles terem esquecido meu aniversário não ajudava muito. Estavam tão imersos na correria da própria vida que esqueceram. Draco estava trabalhando em um caso muito importante que o estava estressando ao máximo, Lily dando atenção ao namorado, os meninos descansando da viagem de Hogwarts.

E quando Draco me indagou se podíamos ser pais de novo, eu apenas me permiti assentir sem muita felicidade e inventar qualquer desculpa para me refugiar em qualquer bar trouxa.

A constatação de que Draco estava alheio à minha infelicidade me fez questionar muitas coisas. Uma delas é que eu precisava impor mais meus sentimentos para ele, da mesma forma que ele fazia, e achar desesperadamente algo que me fizesse feliz de novo.

Não que eu não seja, só que... eu não queria ser lembrado apenas por ter vencido a guerra e passado a minha vida em função dos meus filhos.

Draco além de ser um pai incrível, também era um advogado espetacular. Eu pensei em voltar a ser auror, mas percebi que nunca foi uma posição que me trouxe muita felicidade.

Eu não queria só mergulhar em outra função que era me importar demais com outras pessoas ao ponto de arriscar minha vida. Queria algo pacífico e que me alegrasse, como meus filhos sempre fizeram.

Suspirei frustrado.

— Noite difícil, amigo? — perguntou o barman, enchendo meu copo novamente.

— É meu aniversário — respondi desanimado.

Ele me deu um breve olhar de compreendimento misturado com pena e por fim disse:

— Vai algo mais forte aí?

Eu apenas aceitei.

Uma, duas, três, quatro, cinco doses da bebida trouxa que descobri ser tequila. Quando vi já estava dançando louco na pista e rindo da confortável sensação de estar com a cabeça livre de problemas.

Why? | DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora