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AVISOS SOBRE O CAPÍTULO: Contém cenas que podem ser sensíveis à algumas pessoas.

Abuso físico-sexual e psicológico.


Há uma antiga lenda chinesa que diz que o mundo foi criada a partir de um ovo negro chocado por 18 mil anos, e que desse ovo nasceram Yin, Yang e Panku. Yin era o mais pesado dos três e dele foi criada a terra, Yang por sua vez subiu e assim foi criado o céu; Panku, de peso médio, ficou entre ambos, separando o céu da terra até sua morte, milhares de anos depois. As árvores, os rios, as montanhas, o vento e a chuva foram todos originados dos restos de Panku, inclusive as mais diversas espécies a habitar o mundo. Tudo e todos descendem de um ser mitológico que dedicou a vida a separar a terra do céu, a defender onde cada um deveria estar por medo do que a reunião de seus irmãos poderia formar, e que sucumbiu sem ao menos imaginar os seres que seu corpo poderia gerar.

Será que se ele soubesse que os humanos surgiriam das bactérias que permeavam seu corpo ele teria se dado ao trabalho de manter Yin separado de Yang? Se ele conhecesse a mesquinhez e egoísmo da raça que viria a ser predominante naquele planeta, ele arriscaria a experiência de saber o que mais poderia criar junto à seus irmãos? Ou teria ele, simplesmente, não rompido a casca do ovo?

Não haveria respostas para aquelas tolas questões, mas o jovem de aguçados olhos azuis não conseguia impedi-las de surgirem em sua mente; era apenas tão natural quanto respirar, especialmente quando se encontrava a observar pessoas desconhecidas para si interagindo como se fossem amigas íntimas, sendo que ao virar as costas e iniciar uma nova conversa, dedicariam-se a denegrir a imagem da pessoa anterior que estiveram falando. Odiava aqueles ambientes. Festas requintadas banhadas à champanhe e sorrisos plásticos, mas não poderia negar-se a comparecer; não podia negar-se a coisa alguma.

- Louis, querido, quero lhe apresentar uma pessoa. - A mulher de cabelos castanhos e olhos tão azuis quanto os do jovem se aproximou acompanhada de um homem que Louis jamais vira antes. - Este é John Milles, o alfa prodígio de Walter. - Ela lhe dedicou um leve arquear de sobrancelhas e voltou-se para o rapaz. - Estávamos verdadeiramente curiosos em conhecê-lo, John. Walter o tem em tão alta estima que não poderia ser diferente. - Louis tinha sua atenção forçadamente focada no pequeno diálogo de sua mãe com o recém-apresentado John, e entendeu perfeitamente o motivo de ser apresentado ao ouvir o nome de Walter. Walter Adkins era o único homem mais importante do que Mark Tomlinson, pai de Louis, nas corporações Azuz; era, portanto, o homem que Mark mais queria agradar, então ser afável com seu "garoto prodígio" estava na lista de prioridades de Mark, melhor ainda se o tal for um alfa solteiro pronto para cortejar seu filho ômega. Louis sentiu seu estômago embrulhar quando flagrou os olhos negros de John correndo por seu corpo. - Bem, vou deixá-los conversar, com certeza haverá mais assunto entre vocês do que comigo, afinal são praticamente da mesma idade. - Com um olhar cheio de significados para Louis e uma meia volta graciosa, Johannah os deixou.

- É um prazer conhecê-lo pessoalmente. - John lhe estendeu a mão, e Louis não exitou em aceitá-la; ele precisava agradar, precisava sorrir e ser gentil. - Tem lindos olhos, Louis, mas estou convencido de que é um elogio que já ouvira diversas vezes antes. - O pequeno elogio, mesmo que não original, fez com as bochechas do ômega corassem. - Você é muito mais belo do que seu pai consegue descrever, preciso acrescentar. - Apesar de ter a leve impressão de que não deveria ser surpreender com suas palavras, não conseguiu conter-se e evitar que seu olhos se abrissem um tanto mais ao constatar que sim, seu pai falara sobre si. O que ele teria dito? Sobre como ele está acima do peso? Sobre como ri de forma escandalosa? Sobre como sua voz é muito aguda? Sobre como não consegue ao menos manter-se minimamente afinado ao cantar? - Não se surpreenda tanto, ômega, seu pai deve lhe rasgar elogios...

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora