Cúmplices

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Harry acendeu as luzes do apartamento enquanto Louis tirava seus sapatos e meias, deixando-os no armário junto com seu casaco; o ômega se sentia bem quando estava ali, era como se realmente estivesse em casa, mesmo que não morasse oficialmente ali. Naquele apartamento ele podia fazer o que quisesse, falar o que quisesse, ser quem realmente era. Era por aqueles cômodos que Sophia se escondia ou corria de Harry, era naquelas paredes que havia fotos deles - substituindo algumas paisagens -, era nos móveis que havia toda a personalidade de Harry, com alguns toques de Louis, que acrescentou um ou outro enfeite, mudou uma ou duas cores.

Era ali que ele estavam sendo Harry e Louis.

O alfa se aproximou do menor, envolvendo sua cintura e deixando um beijo calmo e leve em seu ombro antes de girá-lo em seus braços. Os olhos se encontrando como sempre faziam, se reconhecendo como velhos amigos. Louis não sabia explicar aquela conexão, sabia que era forte e linda, sentia que era reconfortante e gentil...

Lera, anos atrás, que os seres humanos foram criados pelo deus grego Zeus como um só, sem gênero nem classificações, completos em toda sua existência, mas eram tão fortes e destemidos que se rebelaram contra os deuses. Tendo perdido a batalha, Zeus, como punição, decidiu separá-los em dois e assim os humanos passaram a buscar por sua metade, sentindo a saudade do que um fora parte de si. Além da tristeza que recaiu sobre os humanos, houve também uma espécie de dádiva, não era palpável ou visível, mas era algo que seus corações reconheceriam, o que seria o bastante: o dom do reconhecimento. Quando, por fim, encontrassem sua alma gêmea, eles saberiam, eles sentiriam que estavam completos outra vez. Louis não sabia se acreditava nesse conto, mas sabia que se ele fosse de fato verdade, Harry era sua metade.

- Quer tomar outro banho, love? - A voz de Harry estava rouca, baixa.

Louis não se sentia sujo, propriamente dito, mas aceitou a oferta. Ele queria outro banho, porque ele queria tirar de si o cheiro das outras pessoas. Queria em sua pele apenas seu cheiro, misturado com o de Harry, e nada mais.

Harry o conduziu pela mão até o banheiro da suíte master, Louis ficou de pé, fitando seu reflexo no espelho que ocupava toda uma parede, levando, sem ter muita consciência, a mão até o canto de seus olhos. Harry disse gostar das ruguinhas que se formavam ali quando ele sorria, mas Louis achava que elas apenas o envelheciam. Harry não falou sobre seu corpo, mas Louis não gostava das gordurinhas que escapavam por cima da sua calça. Harry não falou sobre sua bunda, mas Louis a achava flácida demais. Harry disse gostar das bolsinhas que formavam em baixo de seus olhos quando ria demais, mas Louis odiava as olheiras constantes e escuras.

- Lou... - Harry o abraçou por trás mais uma vez, deixando seu rosto ao lado do de Louis e os fitando pelo reflexo. - Sabe o que vejo quando olho para você? - Louis negou com cabeça, mesmo que estivesse com medo da resposta. - Vejo um ômega que gosta de sorrir, - tocou o canto de seus olhos - que abre mão das noites de sono para ajudar quem precisa, - escorregou a ponta do dedo para suas olheiras - que sempre busca por formas gentis de se expressar, - traçou o desenho de seus lábios com leveza - que tem um corpo perfeito, nem mais, nem menos. - Harry segurou seus braços e inclinou um pouco a cabeça, mantendo os lábios colados em sua orelha. - Eu vejo um ômega que é completo e forte sem mim, mas que mesmo assim me permitiu estar ao seu lado.

Louis deixou que a primeira lágrima lhe escapasse dos olhos. Ele não estava triste, muito ao contrário, ele estava feliz, como nunca achou que estaria, e, às vezes, a única forma de expressar isso era chorar.

- Está tudo bem, love. - Harry o virou em seus braços, beijando suas lágrimas. - Eu vou cuidar de você, hm? Vou te mimar muito essa noite.

Foi após essas palavras que Harry tirou a camiseta de Louis, observando com carinho o corpo do namorado. Harry não negaria que o desejava, tanto que até mesmo sonhara com o dia em que finalmente o tomaria para si, mas naquele momento não havia desejo. Tudo o que movia o alfa era carinho e amor. Ele queria sim que Louis confiasse seu corpo a ele, mas queria também que Louis confiasse sua mente e sua alma. Harry o amava tanto que quase lhe doía fisicamente.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora