1/3

1.3K 119 157
                                    

São Francisco, CA. 2004

Eu tinha sete anos quando me mudei para São Francisco.

Meus pais haviam recebido uma proposta de trabalho boa demais para ser recusada, então dentro de um mês deixamos Nova York e fomos para o outro lado do país.

Minha mãe tentou me animar com a mudança, falando do calor da Califórnia e de como poderíamos ir à praia e tomar sorvete sempre que eu quisesse. Aquilo me deixou ansiosa e eu praticamente contei os segundos até chegar em nossa casa nova.

É claro que na prática as coisas foram bem diferentes.

Era final de agosto e o dia estava excepcionalmente quente. Eu estava deitada em minha cama, no meu novo quarto, encarando as hélices do ventilador de teto girarem, totalmente entediada. Por termos nos mudado durante as férias de verão eu ainda não conhecia outras crianças da escola, então não possuía nenhum amigo.

Me levantei e saí do quarto, descendo as escadas até chegar ao andar inferior. Minha mãe estava na cozinha, andando de um lado para o outro enquanto conversava com alguém ao telefone, uma mão segurando o aparelho e a outra usando uma tampa de plástico como leque. Ela parecia estressada, o que fez eu me arrepender da minha decisão de ir até lá. Dei meia volta e retornei ao segundo andar, dessa vez me dirigindo até o escritório onde meu pai provavelmente se encontrava.

Abri a porta do cômodo sem fazer barulho e, como esperado, lá estava ele, os olhos fixos no computador a sua frente. Ele parecia concentrado, mas não estressado como minha mãe.

Me aproximei dele e parei bem ao seu lado.

- Papai. - Chamei.

- Hm? - Ele respondeu sem me olhar. Suspirei pesadamente e isso o fez me encarar. - Qual é o problema, princesa?

- Tá muito quente. - Respondi, de maneira manhosa. - Vamos na praia?

- Princesa...

- Por favorzinho. - Fiz um biquinho, sabendo como isso afetava meu pai, e entrelacei as duas mãos. - Por favor, papai. Você prometeu.

Foi a vez dele de suspirar.

-Você sabe que eu tenho que trabalhar, Lisa. - Ele disse, a voz cheia de remorso. - Já falou com sua mãe? - Fiz uma careta ao ouvir aquilo e meu pai riu de leve. - Olha, no fim de semana nós podemos ver isso, ok?

Não consegui esconder a decepção ao ouvir aquilo, então apenas assenti antes de voltar para o meu quarto.

Sentei na poltrona perto da janela e fiquei observando a rua pouco movimentada. Morávamos em um bairro residencial muito tranquilo e meu quarto tinha vista direta para a rua e para a casa da frente.

Desde que eu havia me mudado, as cortinas do quarto da casa da frente estavam sempre fechadas, o que servia apenas para me deixar curiosa.

Olhei para o jardim daquela casa e vi um menino brincando sozinho, segurando um avião roxo de brinquedo, enquanto corria pelo gramado. Vez ou outra ele passava a mão livre pela face, em uma tentativa de se livrar dos cabelos escuros que teimavam em cair sobre seus olhos.

Não era a primeira vez que eu o via ali, na verdade, quase todos os dias ele saía para brincar no jardim, às vezes sozinho, às vezes na companhia de uma garota loira, que devia ter a mesma idade que ele. Mesmo assim, eu nunca tinha tido coragem de ir me apresentar, por mais que eu quisesse fazer amigos.

Apoiei minha cabeça no batente da janela enquanto o assistia correr por todo o jardim. De repente, seu olhar acabou caindo sobre mim e ele parou de correr imediatamente. Um sorriso enorme apareceu em seus lábios e ele levantou a mão livre no ar, acenando para mim animadamente. Aquilo me pegou de surpresa, mas logo acenei de volta timidamente.

don't you see me? (i think i'm falling for you) // jenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora