Capítulo 1

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Era estranho estar de volta

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Era estranho estar de volta. Quer dizer, para mim é como se fosse a primeira vez a pisar solo americano. E o estranho é que era mesmo a primeira vez que estava a pisar este solo, visto que a última vez que estive em Nova Iorque era apenas um bebé. Ou seja, na realidade eu não estava "de volta", eu estava, pela primeira vez em 17 anos, a visitar a minha terra natal. O que era estranho, como já tinha dito.

O meu nome é Maia Flynn e estou completamente perdida no meio do aeroporto. Era para eu ter encontrado o meu avô assim que o meu avião aterrou, mas como nada corre bem na minha vida quando saí do portão de desembarque não o encontrei e achei que seria uma boa ideia, notem a ironia, sair a nadar pelo aeroporto à procura dele. Obviamente não correu bem.

Depois deste fiasco decidi sentar me numa das mesas do Starbucks que tinha no aeroporto, assim pode ser que o veja passar por aqui se ainda estiver à minha procura.

Passaram alguns minutos até que vejo o senhor James a entrar pelas portas do aeroporto com uma cara preocupada a olhar para todos os lados. Já devia de ter calculado que ele ia chegar atrasado, é típico do meu avô. Quando me vê abre um sorriso radiante e vem até mim em passos largos, eu apenas reviro os olhos e dou um sorriso de canto. Não é como se eu não gostasse do meu avô, antes pelo contrário, ele e a minha avó são as pessoas mais importantes da minha vida, apenas não sou muito dada a este tipo de demonstrações de alegria que, na minha opinião, são desnecessárias sendo que ainda ontem nos vimos por vídeo chamada antes de eu entrar no avião.

Quando já estava perto de mim levantei-me para lhe dar um abraço rápido, mas ele puxou-me e deu-me o maior e mais apertado abraço que alguma vez um ser humano deu a outro.

Lembram-se de eu ter dito que não era muito dada a demonstrações de alegria? Também não sou muito dada a demonstrações de afeto, principalmente em público.

- Avô.... Vou acabar por morrer se me continuas a apertar tanto, mal consigo respirar. – Disse enquanto me tentava soltar dos seus braços.

- Desculpa, querida, é que estava com muitas saudades tuas. – Disse depois de me soltar e passar as mãos na minha cara – Já não te via há tanto tempo.

Eu apenas revirei os olhos e soltei uma risada enquanto pegava em algumas das minhas malas e ele levava o resto.

- Vimo-nos ontem por vídeo chamada avô, quem te ouvir falar pensa que já não nos vemos há anos.

- Deixa de ser resmungona, ver-te através de um aparelho eletrónico não é a mesma coisa de te ver aqui, à minha frente e de te poder abraçar.

Não vou mentir, era muito bom poder estar perto do meu avô e não a 15.993,11 km de distância. Nunca diria isso em voz alta, como é obvio, mas a coisa boa do meu avô era que eu não precisava de dizer nada, ele sabia sempre o que eu estava a sentir.

- A minha moto já chegou? – Perguntei, esperançosa da resposta ser sim porque já estava com saudades de conduzir a minha preciosidade.

Tenho uma Yamaha YZF-R6, comprei-a com o meu próprio dinheiro o ano passado. E antes que se questionem como é que arranjei o dinheiro para comprar uma moto destas eu digo-vos: Boxe. Pois é, sou lutadora de boxe desde os 13 anos. Nos dois primeiros anos participava em lutas clandestinas, até porque não tinha onde nem com quem treinar. Comecei a participar em lutas oficias com 15 anos. Ou seja, sempre recebi dinheiro em cada luta que participava e ainda mais em cada luta em que eu saía vencedora. Comecei automaticamente a juntar todo o dinheiro que recebia, não gastei um tostão até conseguir o dinheiro para comprar a moto e deixar algum de lado para enviar aos meus avós todos os meses.

Como é que uma menina de 13 anos, delicada e loira de olhos azuis se meteu no boxe? A minha mãe morreu no dia em que eu nasci e o meu pai fugiu logo a seguir. Vivi estes últimos 17 anos da minha vida na Austrália com a minha tia, irmã da minha mãe, o que não foi de todo a melhor companhia que tive. Desde que tenho idade suficiente que tive de me virar sozinha e definir o meu caminho.

- Já chegou sim querida, chegou ontem. A tua avó quase teve um ataque quando viu que a tinhas trazido. Ela pensou que a ias deixar na Austrália e começar a ser uma "pessoa normal", segundo ela, e começar a conduzir um carro ou a usar transportes públicos.

Revirei os olhos face à excessiva preocupação da minha avó. Nunca tive um único acidente em cima de uma moto, não entendo o porquê de ela achar que me vai acontecer alguma coisa.

- Sem chances, a avó já devia saber a neta que tem. – Disse e dei algumas risadas da cara de concordância que o meu avô fez.

Não dissemos mais nada enquanto colocávamos as minhas malas no carro. Eu entrei e deixei me repousar no banco confortável do carro do meu avô. Também não dissemos mais nada até chegarmos a Brooklyn, passei os 30 minutos de viagem a olhar pela janela a observar a movimentação das ruas e a pensar em como consegui chegar até aqui.

Nunca pensei que todo o esforço, todo o sangue e suor que derramei durante 4, quase 5, anos me trariam onde estou agora. Mas contra tudo o que toda a gente pensava de mim aqui estou eu, com 17 anos e finalmente em Nova Iorque, devido a uma proposta irrecusável para treinar e lutar num dos melhores institutos de boxe do mundo.

Os meus avós sempre falaram da força e da dedicação que a minha mãe colocava em tudo o que fazia e amava, acho que herdei isso dela.

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