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Arrumou o óculos em seu nariz, virando mais uma página de seu livro, cheio de tédio.
Entardecia, e o sol quente lá fora fazia esforço máximo para marcar presença. Isso era uma questão que poderia estragar o dia de Jeon Jungkook. O calor infernal lhe obrigava a usar roupas de tecidos finos. Mas ele não gostava.
Não gostava do sol, da cor dele, do calor, da tarde fresca, do barulho das árvores balançando suas folhas e do silêncio insuportável de alguém que morava só numa casa enorme.
Cansado de segurar o livro grosso que lia em mãos, mirou à sua frente. Estava no quarto e agora olhava através da varanda o dia que com certeza ele acreditaria ser o mais belo. Dias não tinham tanta diferença para o homem.
Sentado na única poltrona do quarto, sem camisa e virado para a vista que alcançava seu jardim, suspirou insatisfeito. Tirou o óculos do rosto e, junto ao livro, jogou em cima da cama. Não resistiu em checar a hora no seu relógio de pulso, e passavam-se das três da tarde. Ele se atrasou, de novo.
O piano estava aberto à espera do menino. Ele prometeu tocar algo que mais gostava para si. Queria ouvir. Ouvia tudo que ele tocava, porque parecia que seus dedos eram mágicos e comandavam o soar da música facilmente. Era um bom aluno.
O único e mais perfeito aluno que já teve. Como professor, não havia muito à que ensinar ou orientar, na verdade, aprendia mais do que ensinava.
Aprendeu que o som do chacoalhar das árvores poderia ser irritante, mas o som da voz doce que sussurrava seu nome enquanto sentava bem devagarinho em si poderia ser a melodia mais linda. E o calor poderia ser seu inimigo às vezes, mas a quentura e suor dos dois corpos em sua cama era incomparável.
Fechou os olhos, imaginando a saudade que estava dele. Era assim que ficava, louco para sentir o cheirinho e choro no cantinho de seu ouvido enquanto fodiam por toda casa. Ali, no quarto, no banheiro, na cozinha, na sala, na garagem, dentro do carro, no jardim...
Deus sabe de todo seu descontrole quando o viu pela primeira vez. Manso e quietinho, bem obediente ao responder, todo comportado em todas aulas de piano. Ele realmente era. Park Jimin não tinha nenhuma máscara, não era nenhum garoto fingido. Tinha sua pureza e doçura verdadeira.
Entender isso foi o estopim do fim da sanidade do professor de trinta anos. Um universitário que deseja se aperfeiçoar no piano e precisava de alguém. Como um perfeito pianista famoso e que quis se aposentar, por acaso da vida, encontrou um pequeno quase fã.
Entretanto, nunca foi amigável, mas quis ser bom para ele. E então, as aulas particulares começaram, ofereceu sua própria casa e seu piano caro. Quando o ouviu tocar pela primeira vez, foi como um veneno doce afetando todo seu corpo e mente. A beleza não era a única coisa que o enlouquecia nele, o talento era nítido.
Quis treiná-lo, levá-lo ao sucesso, fazê-lo a próxima celebridade da música. Mas o menino não queria isso. Sua simplicidade era tão óbvia, o jeito terno de olhar o mundo, mas sempre tentando esconder-se dele.
Ah. Jungkook o queria tanto, todos os dias, sempre ali, dormindo e acordando, se amando, se beijando, bem pertinho dele.
Sempre lhe fazia deixar uma camisa diferente em seu quarto depois que faziam amor, porque quando ele ia embora, inalava seu cheirinho o dia todo, se possível. Porque para um homem solitário como ele, aquilo seria sua única distração de uma vida pacata.
E, hm, se os pais dele soubessem o que faziam nas aulas nada formais...
Acendeu um cigarro e levou até os lábios finos, inalando a fumaça tóxica enquanto ele não chegava para lhe dar seu pescoço para cheirar e corpo para beijar, qualquer local que pudesse ocupar sua boca. Era abstinência, sabia.
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POISON
Fanfiction"E tudo que penso, de amor que transborda minha mente, nada irá superar nós dois, exibidos ao sol fraco da tarde, juntos no jardim, dançando colocados num balanço lento dos corpos à melodia de Mariage d'amour". onde jungkook era o professor particul...