Capítulo 3 - O feixe de luz.

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Não existia posição confortável para mim. Sentia falta até da farpada cama de palha da estalagem do velho Cravendish. Aquele maldito velho. Estou aqui na prisão por conta da flecha que tive que enterrar em seu abdômen. Ainda me lembro de sua expressão vazia, uma expressão que me aterrorizou por muitas noites.

Já haviam se passado seis meses desde o ocorrido. Estou preso em uma das celas subterrâneas que fedem a musgo e umidade. Algumas vezes sentia gotas de água pingando em minha testa. Era o verdadeiro inferno.

Os guardas apareciam de vez em nunca para deixar comida, água e uma troca de roupas limpas. Se eu tocasse meu rosto sentiria farpas de barba crescendo e meu cabelo já estava começando a me incomodar. Ele caia leve no comprimento médio da testa. Eu jamais o tinha deixado tão longo.

Os dias não passavam em uma velocidade comum. Parecia ser mais lento e ao mesmo tempo durar mais. Acima de mim, no topo de minha cela, havia uma pequena grade, responsável pela luz que entrava na parte da manhã e tarde. Alguns soldados do reino rondavam por ali para garantir que ninguém fugisse.

Me sentia um rato no esgoto.

Pude ouvir alguns passos ao longe, no corredor de celas. Pisavam ferozmente em algumas possas. Devia ser alguém pesado e alto, pois a medida que andava sua sombra se projetava ainda maior. Um molho de chaves balançava e uma enorme lança se arrastava no chão causando um som completamente agonizante. Agora eu tinha certeza que nem se eu estivesse em uma cama de plumas dormiria, talvez pelo barulho, talvez pela curiosidade.

Um homem de meia idade parou na porta de minha cela. Barba curta e bem aparada começando a assumir alguns fios brancos. Vestia um uniforme verde escuro com botas de cano longo e armadura parcial. Era alguém importante da guarda real. O que eu pensava ser uma lança era na verdade um bandeira do Castelo Escudo do Rei Arthur.

- Roy de Nafgar? - ele me lançou um olhar imponente depois de conferir um pergaminho que tinha no bolso. - Detido e sentenciado a cinco anos de prisão pela morte de Cravendish de Nilgrade?

- Eu mesmo. - disse, pela primeira vez sem nenhum orgulho.

Eu costumava adorar quando me chamavam pelo nome e cidade natal. Roy de Nafgar. Era a melhor cidade do mundo para se fazer qualquer coisa, menos para ser um órfão. Meu pai era um fazendeiro de boas posses mas nenhum homem de confiança que pudesse cuidar de seu filho. Quando ele morreu, minha casa foi saqueada e meus bens tomados. Eu tinha 13 anos e tive que fugir de cidade em cidade desde então.

- Você foi convocado rapaz.

- Do que está falando?

- Estou correto em afirmar que o senhor completou maioridade há pouco?

- Sim, há duas semanas.

- Pois então. - ele enrolou o pergaminho e enfiou novamente no bolso. - Você pode ficar aqui e apodrecer até o fim de sua pena, correndo o risco de ser sentenciado a morte caso isso pardieiro lote ou pode vir comigo e se juntar ao exército do Rei Arthur.

Meu coração instantaneamente parou. O sonho de meu pai era que eu entrasse no exército dos humanos. Mas sem sua presença essa vontade fora substituída pela vontade de beber e transar.

- Pensei que não recrutassem meliantes. - rebati surpreso.

- E de fato, não recrutamos. - suas mãos encontraram a linha de sua cintura, apoiando o estandarte no vão do braço direito. - Mas suas habilidades foram notadas por bastante tempo, rapaz.

- Estavam me espionando?

- Bom, demos a sorte de que você se instalasse com nossa melhor espiã.

As lendas de uma terra sem heróis. Volume 1 - A Flecha de Diamante.Onde histórias criam vida. Descubra agora