1- Carina I

662 61 13
                                    

Minhas unhas já haviam sido completamente devoradas e meus pés estavam doendo de caminhar de um lado ao outro incessantemente, no entanto meu peito parecia doer, como se eu estivesse no meio de um ataque cardíaco. Pedro havia me visto e pior ainda, havia visto Maria Helena, que merda, ele não quis ser pai dela, não tinha o direito de parecer tão surpreso ao ver ela.

-Eu juro por Deus que se você continuar andando eu corto seus dois pés fora.-A ameaça de Julieta me distraiu de meus pensamentos. Encarei a garota sentada no tapete da sala com o notebook na mesa de centro.

Minha amiga e colega de casa estava concentrada em seu notebook, muito provavelmente finalizando algum trabalho da faculdade. Julieta Cordeiro era o que eu carinhosamente chamava de pequeno gênio, bom, não pequeno de altura, ela era alta, pequeno de jovem demais. Com apenas 18 anos ela estava no terceiro ano da faculdade de jornalismo, o que ainda me deixava confusa, antes de vir para São Paulo comigo e Maria Helena ela morava em Minas Gerais e como a absoluta atoa que ela era, fazia o equivalente a dois anos de curso em apenas um ano.

Bufei voltando a andar de um lado ao outro.

-EU JURO POR DEUS CARINA!-Ela gritou puxando uma almofada e jogando em minha direção.

-Eu tô nervosa Julieta!-Exclamei de volta puxando a almofada e me jogando de cara no sofá.

Maria Helena estava na escolinha e isso era um alívio pra mim, há duas semanas havia dado de cara com Pedro em um shopping em São Paulo. EM SÃO PAULO! Quais as chances disso? Uma em um milhão provavelmente. O fato era que Pedro pareceu chocado demais com a presença de Maria Helena agarrada em mim para dizer qualquer coisa, será que ele simplesmente havia ignorado tanto a minha carta que simplesmente esqueceu que ele tinha uma filha espalhada pelo mundo? Isso é se a Maria era apenas a única filha dele.

-Se está tão nervosa fala com ele ué.-A garota a minha frente comentou me fazendo levantar a cabeça do sofá.-Vai lá e pergunta qual é a dele.

-Você realmente não sabe lidar com seres humanos não é?-Perguntei franzindo o nariz vendo Julieta dar de ombros, já era um passo e tanto ela estar me aconselhando.

Ela geralmente não se metia muito na falta de pai de Maria Helena, eu entendia a falta de comentários dela, existiam limites para algumas coisas e eu realmente não gostava de cruzar eles com Julieta. Suspirei batendo o pé contra o chão. Ela fechou o notebook e se virou para mim cruzando os braços na frente do corpo, olhei em volta procurando o motivo dela estar me encarando daquela forma, às vezes ela me assustava.

-Vai, fala.-Ela disse balançando as mãos como se me mandasse andar rápido.

-Você acha que ele pode estar arrependido e agora, depois de quatro anos, querer ser pai da Maria?-Essa era de fato minha maior dúvida, Pedro poderia ser um bosta como ser humano e eu sabia disso, mas gostava de pensar que ele tinha algo de bom no fundo da alma podre dele.

-Sei lá, eu não tô na cabeça dele.-Julie respondeu dando de ombros em seguida me fazendo lhe encarar mortalmente. Eu ia matá-la!

Revirei os olhos ficando de pé e pegando minha bolsa e telefone. Eu iria resolver isso por conta própria.

-Busca a Maria pra mim, vou resolver isso agora mesmo.-Disse vendo Julieta concordar com a cabeça e se virar novamente para seu notebook.-Não esquece a minha filha.

-Pode deixar!-Julieta exclamou enquanto eu fechava a porta e respirava fundo descendo até a garagem. Abri o carro e entrei no mesmo batendo a porta e logo me dirigi ao shopping.

Encontrar Pedro não foi difícil, ele estava sentado em um banco logo de frente para a entrada olhando a porta de cinco em cinco segundos. Quando me viu ele se levantou de uma vez se aproximando de mim, ele não era conhecido por ter a cara mais saudável do mundo, mas estava muito pior do que eu me lembrava. As olheiras grandes e escuras contrastando com a pele clara e pálida demais, havia algo nele que me lembrava Maria, apesar dela ser a minha cara, ela tinha muito de Pedro.

-Você realmente tá aqui.-Constatei surpresa.

-Todos os dias desde que te vi.-Ele disse encolhendo os ombros, seus olhos procuraram algo atrás de mim e eu respirei fundo.-Ela não veio hoje?

-A Maria tá na aula.-Respondi e ele sorriu de canto.

-Maria Helena, como você sempre sonhou.-Ele me conhecia bem demais para a minha sanidade.-Vamos tomar um café?

Assenti com a cabeça seguindo ele para a lanchonete e escolhendo uma mesa quase no fundo do local, após os pedidos entregues ele respirou fundo e me encarou fixamente. O Pedro de quatro anos atrás jamais teria voltado nesse shopping, mas o Pedro ainda era o Pedro, o que não me deixava adivinhar seus próximos passos, seus pensamentos e suas atitudes. Quando Julieta disse que não sabia porque não estava na cabeça dele, ela nem pensava que possivelmente nem o próprio Pedro sabia o que passava em sua cabeça.

-Eu preciso...eu preciso saber, quantos anos ela tem.-A súplica dele me fez arregalar os olhos surpresa com a audácia daquele filho da puta.

-Quatro, você é tão ruim de matemática assim que não consegue somar a data daquela merda de carta com a data do parto da nossa filha?!-Perguntei batendo a mão na mesa e Pedro me encarou franzindo a testa.

-Que carta caralho?-Ele perguntou e eu bufei puxando a carta da bolsa e jogando nele. Pedro analisou a carta ainda selada e fechada e franziu a testa encarando a mesma.

-Você nem se dignou a abrir essa desgraça.-Respondi bufando de raiva daquele babaca.-Típico de você, não sei se esperava algo diferente de fato, um babaca como...

-Meu endereço tá errado!-Ele me interrompeu com um sorriso calmo nos lábios.-A minha casa é número 542, não 245.

Fudeu...


Demos início a temporada Pedro Orochi aqui nesse perfil, um babaca muito engraçado. Vamos ter mais de Julieta por aqui também, ela é tudo pra mim, a história dela talvez seja a mais sentimental e pesadinha de todas, mas eu gosto assim.

Maria Helena também aparecerá bastante por aqui, o que faltava nesse universo, uma criança fofa.

Me contem o que acharam até agora de Um Sinal.

Um Sinal- Orochinho Onde histórias criam vida. Descubra agora