Foi durante os últimos dias de outono, quando os jornalistas já afirmavam que o frio do inverno já estava por vir. E por causa disso Tsukishima estava trocando as suas roupas de verão pelas de inverno, consequentemente, Haru também. Enquanto arrumava o seu roupeiro, o loiro pensava com quem deixar o menino à noite, pois fora convidado para jantar na casa dos Kageyamas e não sabia se o filho desses estaria presente. Seus pensamentos foram repentinamente interrompidos pela entrada de um jovem de dezesseis anos no seu quarto, com um casaco em mãos:
- Pai, esse casaco é seu? Ou é uma das roupas que o papai deixou aqui em casa? – Perguntou o mais novo, aproximando-se e mostrando a peça de roupa para o de óculos. Esse pegou o casaco e o observou cuidadosamente.
- Nenhum dos dois filho, esse casaco é do meu melhor amigo. – O mais velho reconheceu rapidamente a peça.
- O tio Tobio? – Perguntou o acastanhado, sentando-se ao lado do pai.
- De onde você tirou que aquele idiota seria o meu melhor amigo? – Perguntou o loiro com um tom de voz sarcástico.
- É que fora o papai e o tio Kenna, os únicos que vêm aqui em casa são o tio Shoyou e o tio Tobio. Esse casaco com certeza não serviria no tio Shoyou, então a conclusão parecia óbvia. – Falou o mais novo olhando para as pilhas enormes de roupa em cima da cama.
- Mas está errado. – Respondeu, olhando fixamente para o casaco em seu colo. – Esse casaco pertenceu, ou melhor, pertence ao Yamaguchi.
- Quem? – Perguntou o menino voltando o seu olhar ao pai.
- Você não deve lembrar dele, ele se mudou quando você tinha apenas seis anos. O Yamaguchi é o garoto que aparece em todas as minhas fotos de infância e adolescência. – O loiro respondeu olhando para um ponto aleatório no quarto. – Ele esqueceu esse casaco quando lhe fizemos uma janta de despedida aqui em casa.
- Eu posso prová-lo? – O menor perguntou, enquanto pegava o casaco das mãos de seu pai.
- Claro, acho que Yamaguchi não se importaria. - Tsukishima respondeu com o celular já em mãos. O menino colocou o casaco e o mais velho, logo em seguida, tira uma fotografia.
- Ei! Por que você tirou uma foto? - Perguntou o mais novo.- Para mostrar ao Yamaguchi caso algum dia nós nos reencontrarmos. Ele acharia um máximo, porque, bom, ele é seu padrinho então... - O loiro encarou a imagem tirada a poucos minutos atrás no seu telefone. Enquanto isso, Haru colocou as mãos no bolso interno do casaco e achou uma carta plastificada, endereçada ao de óculos.
- Pai, eu acabei de achar uma carta dentro do bolso interno do casaco e eu acho que está endereçada a você. – O mais velho direcionou seu olhar rapidamente para o filho, surpreso, ele se levantou e pegou a carta nas mãos.
Ele viu o seu apelido escrito na parte de trás do papel, com aquela caligrafia cuidadosa que ele reconheceria em qualquer lugar, mesmo depois de anos. Aquele apelido, o apelido que só ELE tinha o direito de usar. Tsukki, era assim que o esverdeado o chamava. Tsukishima arrumou os óculos com as pontas dos dedos, não que eles estivessem fora do lugar, mas o loiro precisava confirmar que aquilo era real.- Haru, você poderia voltar para o seu quarto? Ainda tem muita coisa para ser feita okay? Depois a gente conversa mais. – O loiro falou ao filho. Esse só concordou com a cabeça, deu meia volta e saiu do quarto.
Tsukishima se sentou em sua cama e encarou a carta em suas mãos. Naquele momento uma enxurrada de lembranças boas dos dois juntos o atingiu, memórias da sua infância, do ensino médio e da época que moraram juntos. Momentos em que somente os dois compartilharam. E a saudade dele e o arrependimento vieram junto com elas, o arrependimento de não ter se esforçado para manter aquela relação, por ter deixado o esverdeado ir embora e de perder contato com a pessoa que mais confiava nessa vida, aquela que sabia todos os seus medos e segredos. Todavia o loiro tinha que admitir que estava extremamente curioso pelo assunto da carta. Durante a longa amizade de Tsukishima e Yamaguchi a troca de cartas era algo comum, tanto quando moravam juntos quanto durante as aulas. Mas essa carta estava plastificada, parecia ser algo importante, por que o esverdeado não teria perdido o seu tempo cuidando de algo se não fosse importante.
Kei abriu a carta com cuidado, temendo rasgar o papel. Depois de tirar o plástico e o envelope ele a leu:
“Para TsukkiEu não sei quando você lerá essa carta, eu posso ter acabado de sair da sua casa ou pode já ter-se passado dias, semanas, meses e quiçá anos.
Eu só tenho uma coisa a pedir: não fique bravo comigo após lê-la, porque caso isso acontecer o meu mundo estará acabado, eu não conseguiria viver sabendo que você me odeia. Então, por favor, não me odeie.
Uma pessoa uma vez me falou que escrever é o melhor jeito de expressar os seus sentimentos, e como eu sou escritor achei esse conselho super válido. E por isso estou escrevendo essa carta: para dizer tudo o que eu sinto por você, e caso ainda tenha dúvida, não é pouco.A verdade Tsukki é que eu te amo, mas não o amor fraternal, mas sim uma mistura do amor Ágape e do amor Eros. Mas lhe peço que não fique com pena de mim, pois eu sempre soube que a nossa relação nunca passaria da amizade. Pois veja bem, você é incrível, inteligente, talentoso e lindo. Enquanto que eu sou simplesmente eu, um covarde que não consegue nem se confessar ao seu amado, a pessoa mais comum que você deve ter conhecido na sua vida. E se caso nós realmente tivéssemos um relacionamento além da amizade, eu somente atrasaria você, pois você se sentiria obrigado a seguir o meu ritmo; eu não posso pedir isso, você merece ir longe Tsukki, alcançar a Lua.
Como eu sei que você odeia mentiras eu preciso me desculpar de algumas que lhe falei: que estava feliz por você quando começou a namorar o Kuroo, que não ficaria chateado por você ir morar com ele, que eu ficaria bem; que estava feliz por você ter sido pedido em casamento por ele; que me sentia honrado em ser seu padrinho de casamento; que as lágrimas caindo dos meus olhos durante a cerimônia eram de felicidade pelo o seu matrimônio; que estava me sentido mal do estômago durante a janta na qual vocês anunciaram que adotariam uma criança e por esse motivo eu teria que ir para casa mais cedo e que seria o melhor padrinho do mundo para o Haru. Contudo, em minha defesa eu realmente queria que tudo o que eu te falei fosse verdade, mas o meu coração, infelizmente, não costuma seguir as ordens do meu cérebro.
Eu convenci a mim mesmo que se você estava feliz, então eu também estaria; que se o Kuroo te fazia bem, eu deveria desistir, pois o seu bem era o que realmente importava. Então eu sempre permaneci no meu lugar de amizade, servindo de ombro amigo quando você precisava de algum lugar para chorar após alguma DR; servindo como conselheiro de relacionamentos por mais que nunca estive em um e sempre tentando te incentivar quando você estava para baixo. Eu sempre estava lá, para tudo o que você precisasse, pois é isso que um bom amigo faz.
Porém chegou um momento que eu percebi que o meu amor acumulado por você poderia algum dia vir à tona e, consequentemente, estragaria o seu casamento e a nossa amizade; eu nunca arriscaria a sua felicidade por causa da minha presença, então a decisão de mudar-me foi óbvia para mim.
Desculpa por deixar-te, mas tenho certeza que a minha falta não é algo tão importante assim. Desculpa por não ser o padrinho perfeito para o Haru, ele merecia ter alguém melhor nessa posição. E por fim, desculpa por apaixonar-me por ti e por qualquer prejuízo que eu possa ter trazido para a sua vida.
Desejo tudo de bom a você Tsukki, porque você é uma pessoa incrível, eu tenho certeza que logo achará um novo melhor amigo que reconheça todas as suas qualidades assim como eu reconheci. Você é a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido na minha vida, obrigado por deixar-me ser seu amigo.
Ass: Yamaguchi Tadashi”
A folha na qual a carta estava escrita estava cheia de pingos, Tsukishima logo concluiu que Tadashi estava chorando enquanto a escrevia. Depois de lê-la o loiro não sabia mais quais eram as suas lágrimas e quais eram do esverdeado. Tsukishima chorou por nunca ter percebido que o menor se sentia daquela forma, pela falta que sentia dele e por demorar tanto tempo para perceber que seus sentimentos eram recíprocos. Achou incorreto que Yamaguchi se sentisse inferior a ele, pois o esverdeado era a pessoa mais gentil e importante que o de óculos conheceu durante toda a sua vida.
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Last Passion
RomanceOnde Tsukishima e Yamaguchi são melhores amigos desde de crianças e são apaixonados um pelo outro desde a adolescência, só que nenhum dos dois nunca se declarou. O loiro acabou namorando, se casando com Kuroo e adotando um filho com ele. E o esverde...