Capítulo 2 - Ethan

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Mônaco - 🇲🇨

Eu nunca a odiei. Nunca.
Brigamos quando mais jovens pois ela queria proteger o irmão, eu sempre entendi isso. Mantive essa fachada de "Odeio uma pessoa chamada Emile, por favor mantenha ela longe" pois precisava, ela age assim comigo, e tive que fazer o mesmo, mas não é verdade.

Quando eu e Kevin corríamos com Karts, ela sempre estava lá com ele e os pais acompanhando as corridas, eu sentia inveja daquilo pois não tinha ninguém da família com quem eu pudesse compartilhar minha vitória, eu sei é bobo, mas eu era apenas uma criança. E isso foi ao longo dos anos.
Fórmula 1 é um jogo para meninos grandes, não cultivo mais a mesma raiva de quando era pequeno, agora meus objetivos são maiores assim como os de Kevin.
O período em que eu e Emile fomos amigos foram os melhores da minha vida. Os outros garotos não queriam esse tipo de relacionamento comigo pois me viam como ameaça, mas não era o que eu queria, então aproveitei ao máximo minha amizade com ela, mas acabou pois ela era irmã do meu maior rival, se Julian, o cara que me criou e meu meu atual chefe descobrisse, não iria ser nada bom.
Após o acidente que aconteceu em Interlagos, Emile simplesmente não consegue nem olhar em meu rosto, vivemos brigando e confesso que estou ficando de saco cheio disso.

– Terra chamando Ethan.- Dylan, meu melhor amigo e preparador físico me trás de volta.

– Estou escutando Dy.- Falo baixo me concentrando nos exercícios.

– Perguntei se você vai no jantar de gala essa noite.

– Tenho que ir. Se não for Julian corta minha cabeça fora.

– Certo, então por hoje é só. Já são 17:30, você tem 2 horas e meia para se aprontar.- Ele diz olhando o relógio do celular.- Sabe que ela vai estar lá, não sabe?.- Ele diz e eu simplesmente sei que é ela.

– Sim, não tenho muito o que fazer em relação a isso. Só espero que ela não invente de brigar no meio do jantar.

– Cara, aquela mulher é completamente louca.- Ele fala e eu olho feio. Não gosto que falem mal dela na minha frente.

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O terno cai perfeitamente em meus ombros, mesmo sendo sob medida e feito com o melhor material, eu me sinto exatamente desconfortável com essas roupas, prefiro mil vezes o uniforme da Star, uma calça jeans básica e tênis.

O lugar está cheio, vários potenciais investidores estão presentes, as mulheres com vestidos caríssimos e joias que ofuscam a luz do sol, circulam pelo salão.

– Ethan.- Julian, o atual chefe de equipe da Star, e meu pai postiço por assim dizer, me chama, aceno rapidamente e caminho em sua direção.- Deixa eu te apresentar, esses aqui são James e Val, serão nossos investidores do ano que vem. Esse aqui é meu menino de ouro, Ethan Vogel.- Aperto as mãos deles e sorrio forçadamente. A gravata que Dylan me obrigou a usar coça e estou fazendo de tudo para não arrancá-la e jogá-la pelos ares.

A noite decorre sem problemas. Logo somos convidados a nos acomodar na gigantesca sala de jantar. Acabo do lado de dois japoneses que conversam em sua língua materna. Quando menos espero, um relance verde musgo entra em minha visão periférica. Emile Sainz, deslumbrante com seus cabelos escuros como pena de corvo, e os olhos cor de Âmbar. Sinto meu coração acelerar só de vê-la, o poder que essa mulher tem sob mim é impressionante, sua mera presença faz me sentir assim, imagine se ela me tocasse, da menor maneira, acho que eu entraria em combustão ou me desmontaria inteiro.

– O que acha Vogel.- Um senhor de idade, o que eu não faço ideia de qual seja seu nome, chama minha atenção. Vejo os olhos de Emile recaírem sobre mim e me sinto nervoso.

– Desculpe senhor, pode repetir?

– Disse que esse ano a Delta está com tudo. A nova diretoria caiu bem para equipe, você não acha?

– Delta sempre foi uma equipe muito boa, mas sim, esse ano eles vem com tudo.- Falo calmamente, olho para Emi que tem um sorrisinho no canto dos lábios pintados de vermelho sangue.

No meio do jantar me sinto sufocado e decido sair e respirar um pouco. No lado de fora da casa tem um enorme jardim com uma fonte central. Me sento na borda da fonte, a água caindo atrás de mim me acalma, a noite estrelada me faz sentir saudades do Texas, e acabam me levando de volta ao passado.

Ethan, 8 anos

Desde que me entendo por gente minha vida é assim. Meus pais brigando, meu irmão mais velho sempre bebado.
Nós moramos no Texas, em uma cidadezinha do interior, não temos dinheiro suficiente para sustentar uma família de 6. Meu irmão é viciado em álcool, é o que a vovó diz, e ele usa o pouco dinheiro que ganha ajudando seu Omar, nosso vizinho, com bebidas, e por causa disso nossos pais vivem brigando.
Ele era meu melhor amigo, até a vida dele virar de cabeça para baixo.

– É tudo culpa sua Neville, tudo! Foi você que ofereceu a primeira garrafa de cerveja para Charles.- ouço minha mãe gritar. Estou trancada no quarto, vovó faz carinho nos meus cabelos enquanto choro baixinho. A casa é toda de madeira e faz um barulho estranho, acabamos por escutar em alto e bom som tudo o que acontece na sala, principalmente os soluços e o choro alto de meu irmão.

– Por que eles só vivem gritando vovó?.- Pergunto. Minha voz está rouca e meus olhos ardem.

– Isso vai passar bambino. Vai passar, eu prometo.

E nunca passou. Só piorou.
Aos 9 anos fui tirado de casa pelo conselho tutelar. Fiquei em um abrigo durante 6 meses, depois voltei para casa e tudo tinha mudado. Meus avós morreram, meu irmão saiu de casa e ficamos só eu e minha mãe.
A única coisa que me alegrava era o Kart.

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Jogo a gravata no chão e passo as mãos pelos cabelos.

– Ethan?.- Ouço a voz inconfundível dela ao meu lado, viro o pescoço tão rápido que me impressiono de não tê-lo quebrado.– Está tudo bem?

– Desde quando se importa?.- Pergunto massageando o pescoço e fazendo careta.

– Não vim aqui pra brigar.- Ela se senta ao meu lado e respira fundo.– Pelo visto isso não mudou nadinha.

– Do que está falando?

– Você odeia gravatas.- Ela aponta para o acessório largado no chão.- E ainda gosta de olha as estrelas.- Ela disse e um pequeno sorriso se forma em seus lábios, os quais sinto vontade de beijar.

– Só quero ir para o hotel. Já estou farto desse jantar.

– Por que está tão mau humorado?

– Não é da sua conta.

– Certo...- Ela se levanta.- Só vim para ver se estava tudo bem com você.

– Já viu. Agora pode ir.

Vejo ela sair. Droga, eu sou um idiota completo.

– Espera! Emile me desculpa.- Ela se vira para mim lentamente.– É só que...- Tento organizar meus pensamentos.– Ataque de pânico.

– O que tem?.- Ela pergunta preocupada.

– As vezes eu tenho. Estava sentindo que tinha algo de errado, por isso resolvi sair de lá a tempo.

– Eu sinto muito Ethan.- Vejo um lampejo da garota que ela foi um dia em seus olhos.

– Não, tudo bem. Sério.- Falo meio sem jeito.- Pode voltar para o jantar.- Aponto para a casa. Ela me olha ainda preocupada.

– Até mais.

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