Capítulo 3

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Jenneth sempre odiou sonhar, a maioria de seus sonhos sempre foram irritantes, pessoas morrendo, pessoas se ferindo, visões do futuro que não poderiam ser impedidas, esse tipo de coisa. Mas, o sonho de hoje era diferente, era um passado feliz, Jenn se lembrava daquele dia, era um dia feliz, um dos poucos que se podia ter naquele inferno que chamavam de lar.

Quando era menor Jenneth tinha três amigos, eles eram uns 2 anos mais velhos que ela, tinham nomes engraçados, mas eram seus amigos, Blu, Lootah e Fiole, três garotos desenvolvidos. Os meninos viviam juntos arrumando confusão pelo vilarejo, Jenn se lembrava de chegar da escola e ir para a casa na árvore que eles tinham construído só para trancar a entrada e os meninos não poderem entrar alguns minutos depois, quando chegassem, depois Lootah sempre a batia, mas costumava pensar que se pudesse arrancar um sorriso deles enquanto havia tempo, valeria a pena.

Eles tiveram vários momentos tristes juntos, talvez tenham tido mais momentos tristes que felizes, mas eles nunca tiveram muito tempo juntos. Os três foram levados pelas patrulhas aos 8 anos, Jenn tinha 6.

Aquele sonho, entretanto, era um dia diferente, era um sábado, um dia sem escola, estavam os três garotos reunidos ao redor de uma mesinha de madeira na praça do vilarejo, eles deviam ter 7 anos, não pareciam muito mais novos do que quando foram levados. Jenn se lembrava daquela mesinha, eles se reuniam ali todo dia depois da escola, mais cedo nos dias sem escola, costumavam planejar suas próximas travessuras e brincar ali, era como o canto sagrado deles, Jenneth não costumava ficar muito lá, era como se aquela mesa fosse o espaço pessoal dos meninos, e só deles.

Mas claro que Jenn invadia as vezes.

- A gente tem que pegar mais tinta para a casa! – insistiu Blu.

- A gente precisa de mais brinquedos! – disse Fiole batendo na mesa.

- Nós podemos pegar os dois – disse Lootah baixinho, um tom baixo de cansaço.

- TINTA!

- BRINQUEDOS!

- Gente... – Lootah continuou tentando.

- E se vocês levassem flores? – sugeriu uma voz fina mais atrás.

Os rapazes se viraram para ver uma pequena criança Jenneth, um dente faltando na frente e várias flores sintéticas nos braços.

- 'Pra quê a gente ia querer flores? Isso é coisa de criancinha – reclamou Blu.

- Ah, porque flores são bonitas, dá para enfeitar e brincar – ela disse largando as flores na mesa.

Era uma memória curta, mas era especial, era feliz, aquele tipo de memória feliz eram as que a vidente mais presava em guardar, haviam poucas delas, mas um diamante em um rio de carvão é mais precioso que um diamante em meio a outros diamantes. Por causa disso então, Jenn estava bem triste de acordar, principalmente porque isso significou a volta da sua enxaqueca, apesar de estar bem mais leve.

- VOCÊ APAGOU ELA! – ouviu uma voz grossa reclamar, quase gritando, uma raiva clara naquele tom.

- Era mais fácil, tá legal? Ela tá viva, não tá? – uma voz um pouco mais grossa replicou, parecia incomodada com a primeira voz, mas ambas eram masculinas.

Jenn teve que piscar o olho várias vezes para se adaptar a luz do ambiente, olhou os arredores, e constatou que estava em um sofá acolchoado vermelho, tinha várias pastas de documentos e livros empilhados por toda a sala, com caixas cheias de coisas que não dava pra ver, mas supõe-se que seria papel, tinha um carpete vinho, e três rapazes em pé mais a frente de Jenneth, a frente de uma mesa de escritório de madeira empoeirada, ela tentou se levantar e uma dor atrás da cabeça a lembrou que não deveria estar ali, ela lembrou da explosão, de levar uma pancada. Ao olhar para baixo se chocou ao notar que estava limpa e em roupas novas, uma camiseta preta com um raio no meio e uma calça jeans preta, estava descalça, o que explicou o frio em seus pés, mas a espinha se arrepiou ao pensar em quem poderia ter trocado suas roupas.

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