Capítulo 2

3 1 0
                                    

Minha bolsa foi para o chão, minha mão foi para a minha boca e eu me sentei na poltrona à minha frente. Não que eu tivesse tido tempo de imaginar o que havia de fato acontecido, mas não esperava de forma alguma aquela notícia. Eu apenas olhava para ele, não senti vontade de chorar ou raiva nem ao menos tive as dúvidas básicas sobre onde e como ele descobriu só o que eu fiz foi me sentar e observá-lo. Olhei em seus olhos na vã esperança de ser uma brincadeira de mal gosto, mas rapidamente notei que não era. Após alguns minutos minha mãe voltou, sentou ao meu lado e me abraçou, permanecemos um tempo desta forma. Kaique estava sentado no outro sofá e não disse mais nenhuma palavra até que minha mãe começou.

- Filha ele não quer fazer o tratamento

Nesse instante minha tristeza foi substituída por indignação

- Como assim não quer fazer o tratamento? Você está louco Kaique!

- Não Giovanna não estou, meu pai e a minha mãe morreram da mesma doença, o tratamento é horrível e não funciona

- Claro que funciona! Tem muitos casos de cura

- Meus pais não concordam

- Concordavam, se não, não teriam feito o tratamento

- Gi, me escuta. Eu vi minha mãe passar por isso por seis meses, foi rápido e doloroso. Meu pai ficou em tratamento três anos, foi ainda mais doloroso, não quero isso pra mim

- Você não tem nem 30 anos

- Acha que eu não sei? Eu sei! E é uma merda, mas já expliquei para a sua mãe. Eu quero muito viver e não importa o tempo que eu tenha, vou aproveitar ao máximo.

- Você está sendo ridículo!

- É a minha vida. Sou eu quem toma essa decisão e ela já foi tomada, agora é melhor eu ir pra casa, foi bom rever vocês, tia amanhã eu venho almoçar com a senhora

Ignorei o que ele disse, respirei fundo e olhei para a minha mãe, que já estava mais calma porém ainda chorava, eu só conseguia sentir raiva do comportamento dele, então me passou que ele estava apenas assustado e que assim que processar tudo iria voltar atrás na decisão. Fui até a cozinha e peguei um pouco mais de água para minha mãe, ela morava sozinha desde que meu pai e ela se separaram ela nunca mais quis outro homem. Eles terminaram de uma maneira tão bonita, mantendo a amizade e acho que no fundo minha mãe sempre achou que ele voltaria para casa, o que não aconteceu.

- Mãe quer que eu fique essa noite aqui?

- Não minha filha, pode ir. Sei que tem trabalho amanhã, eu fiz um chá já estou melhor.

- Certo, mas qualquer coisa me liga

Me levantei e fomos os três até o portão, me despedi de forma rápida e fui para a minha moto que por algum motivo decidiu não funcionar, tentei por alguns minutos e realmente ela nem dava sinal. Foi quando o Kaique se ofereceu para me levar em casa eu recusei algumas vezes e após sua insistência e a minha falta de opções, lá estava eu sentada no seu carro.

- Não precisava me levar

- O antigo apartamento dos meus pais fica no caminho para o seu bairro

- Mas fica antes do meu apartamento, o que significa que você terá que voltar

- Não tem problema pra mim, fique tranquila

Eu me mantive em silêncio, não queria falar com ele sobre a doença agora, tentei apagar isso da minha mente quando percebi que após anos sem nos vermos eu estava sozinha com ele em um carro isso começou a me deixar desconfortável então me forcei a relaxar, afinal eu não era mais uma adolescente. Mesmo assim meus olhos passaram pelos seus braços fortes para não ficar encarando, olhei para baixo e vi suas coxas, ele não tinha pernas finas, pelo contrário, a calça estava bem justa e então bati o olho no volume entre suas pernas e rapidamente desviei o olhar para frente, ficando sem graça com a minha própria ação. Isso não evitou que eu sentisse calor e me fez lembrar que abaixo da minha camisa de uniforme eu tinha uma regata preta que eu gostava de usar pro caso de algum botão estourar e também porque o ar condicionado era muito forte, sem raciocinar direito, tirei a camisa que estava por cima e ajeitei a regata para ficar evidente o quanto meu corpo mudou. Menos de um minuto depois eu considerei que um decote muito revelador poderia dar a impressão errada que eu estava me oferecendo para ele, então subi um pouco mais a regata, foi quando ele começou a rir me olhando com o canto do olho

- Do que você está rindo?

- De você, não mudou nada de quando eu te vi pela última vez

Obviamente considerei como um insulto, ele quer dizer que em dez anos eu não havia amadurecido? Irritada questionei

- Como assim não mudei nada? Claro que eu mudei e muito até porque tem dez anos

- Sim, tem dez anos, mas você ainda fica inquieta perto de mim e isso é engraçado

- Não estou inquieta coisa nenhuma

- Ah não? Você tá muda desde que saímos e aí começa essa bobeira de tirar a camisa de cima pra jogar na minha cara que seus peitos cresceram aí fica com vergonha e se cobre. Um pouco tarde porque eu já tinha reparado, assim como eu reparei que você tava manjando rola

- Eu o quê? Tá ficando maluco?

- Ah para vai eu vi você olhar e depois olhar pra frente assustada

- Você devia ver era a rua por onde dirige, vai acabar se perdendo

- Olha ela mudando de assunto, é só você parar de me comer com os olhos que eu me concentro

- Você é um metido e um arrogante, sabia?

- Ah eu sou é? Então você não tava querendo me mostrar que você cresceu e tá gostosa?

- Lógico que não

- Mentirosa, tá até vermelha

Eu realmente estava, porém de raiva, como ele podia falar comigo daquele jeito? Mesmo sendo tudo verdade ele tinha que ter o bom senso de fingir não ter visto. Quando chegamos na minha casa eu desci batendo a porta e indo em direção ao portão do prédio, nem ao menos agradeci. Ele correu atrás de mim e entrou comigo enquanto eu o ignorava e ele me seguiu rindo.

- Para Giovanna, não sabia que você era nervosa assim

Eu segui pelas escadas até a porta do meu apartamento, quando entrei ele ficou parado na porta me olhando.

- Não vai me convidar pra entrar?

- Eu não, você entrou no prédio sem nenhum convite, pode muito bem passar de uma porta ou o que virou um vampiro agora?

- Ah não você é dessa geração apaixonada por vampiros né

Ele entrou rindo e fechou a porta atrás dele, eu peguei o telefone para pedir um lanche afinal desde que saí do trabalho não havia comido nada. Ele ficou em pé na sala olhando em volta, me perguntei porquê ele entrou atrás de mim no prédio, às vezes ele precisava de alguém para desabafar, não queria ser essa pessoa, mas também não ia colocá-lo para fora, então respirei fundo e me controlei.

Meu Último Mês [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora