Ao pé da minha janela, sentada no meu puff preto de nuvem vermelhas bem almofadado, junta de uma brisa calorosa misturada com meus pensamentos e um olhar perdido pela janela do segundo andar numa quente madrugada, observo o céu pouco estrelado tendo apenas a lua incandescente como fonte de claridade e as altas palmeiras que rodeiam meu lar.
Não sei ao certo se deveria chamar aqui de "lar" para começo de conversa, pois ser abandonada pela mãe na casa dos avós numa ilha vazia ao sul de Yakushima não era o que eu mais ansiava desde a infância. Mas não tenho muito o que reclamar. Mesmo sem muita vida social, tenho o amor da minha querida avó e do meu avô. Que apesar da idade cuidam de mim da melhor maneira possível, ou ao menos tentam, apesar de que eu tenha que muitas vezes dar broncas neles por fazerem esforços desnecessários. Mas acho que é mal de gente velha, só falta querer subir no telhado pra ver se alguma telha saiu do lugar após a tempestade. Depois que entrei no ensino médio, eles querem de todo modo me fazerem ter uma boa educação para finalmente sair daqui.
Claro que é o que desejo, mas não posso abandona-los aqui nesta ilha sem cuidado algum. Nunca me perdoaria se fizesse tal coisa, eles são tudo que me restou.
Depois de ser deixada para trás pela minha mãe, e meu pai ter falecido no Brasil, não há ninguém para cuidar dos meus avós.
Mamãe era filha única e eu sou a única restante.
– Abraço minhas pernas numa tentativa falha de acalentar a dor que sinto ao me imaginar perdendo até mesmo meus amados avós…
Antes mesmo de iniciar o período letivo no ensino médio, meu grupo de amigos se dissolveu. Não éramos em muitos, mas eram os únicos que conseguiam tirar boas risadas de mim.
Até então, repentinamente, Akami, Ibari, Ryn e Roy me despacharem de suas vidas.
Akami foi para o exterior estudar num colégio no centro de Tóquio, Ryn e Roy os gêmeos, foram separados por causa do divórcio dos pais, deixando os distantes tanto de mim como um do outro, Ryn para o Japão em Osaka, e Roy para Sendai.
Ibari meu melhor amigo desde a infância ficou estranho do nada e passou a me evitar sem nem ao menos uma explicação decente, teve uma mudança de personalidade radical, e começou a ser um idiota e babaca, refazendo todo o seu ciclo de amizades.
E eu, bom, me fechei para o mundo e a todos em minha volta, me tornando um tanto quanto anti-social, ficando viciada em animações 2D, ou melhor dizendo, em animes japoneses e mangás em menos de dois meses da mais profunda solidão. Não é algo do qual eu tenha muito orgulho, mas não me causa arrependimentos.
Aprendi o quão confortável o silêncio pode se tornar, e o quanto alguém pode se esquecer de como se viver uma vida normal.Mas ainda sim sinto falta de ter alguma companhia além das noites de filmes com meus avós. Apesar de que boa parte do meu dia eu esteja em volta de um mundo 2D no meu notebook, a presença deles não é real, mas não seria de todo mal se tais se tornassem. Como se algo assim fosse possível. – Marco um riso icônico no rosto ao notar quantas bobagens a mente humana pode formular para fugir de sua realidade.
– Um arrepio passa por minha espinha ao ter uma brisa forte batendo no meu rosto vindo de fora.
Às vezes, eu desejo não ser tão solitária...
Queria bons amigos, daqueles que não me abandonassem. Um namorado como o protagonista de um shounen. E uma melhor amiga para contar todos os meus segredos, apesar de não ter muitos.Eu não me importaria em ser uma personagem secundária, uma coadjuvante.
Desde que eu me tornasse um pouco menos solitária.
Uma luz transcende meu quarto causando uma iluminação irritante aos olhos. Era uma estrela cadente...
Vovô diz que quando se vê uma, há de se fazer um pedido.
Observo o rastro que a estrela está fazendo pela nossa órbita e praguejo:
— Eu desejo ser menos solitária... — Deixo uma risada sem humor por tal ato tão infantil. Afinal, fazer desejos para um pedaço de pedra não estava na minha lista de coisas a fazer no ensino médio.Continuo observando o céu escuro e majestoso que me envolta. Talvez seja apenas um pensamento bobo, mas olhar essa imensidão densa faz-me sentir tão minúscula. Tão insignificante. Sentindo que estando viva ou não o mundo continuará a acordar com o nascer do sol.
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𝓝𝓪𝓰𝓪𝓻𝓮𝓫𝓸𝓼𝓱𝓲 ᶠᵃⁿᶠⁱᶜ ᵈᵉ ᵃⁿⁱᵐᵉˢ
FanfictionComo levar de volta personagens 2D para sua realidade? - Não é uma resposta que apareça no Google, eu garanto. Uma habilidade totalmente desconhecida pelo mundo, caiu nas mãos de Emori-san. Uma adolescente de dezesseis anos que mora no Japão. Ainda...