Acordei com vozes diferentes no corredor, há anos acordo assim, uma vez que minha família possui uma pequena pensão na pequena cidade onde moramos, chamada carinhosamente de Pequena Rodhes, existe uma grande Rodhes, em homenagem a um grande cara, Gorges Rodhes, um revolucionário. Pequena Rodhes tem esse nome pois foi onde ele nasceu, mas isso não vem ao caso, vamos continuar com meu acordar, como dizia, temos uma pensão, porém a existência dessa cidade tem sido cada vez mais esquecida, e consequentemente, não tínhamos clientes a algum tempo. Assim acordei animado, pois meus pais já estavam vivendo de outras atividades e apenas minha velha avó ainda tenha esperanças para esse negócio já não tão lucrativo quanto em seu primor.
Os novos moradores eram normais, um casal, uma senhora, e 4 jovens, da minha idade talvez, deles, 3 eram garotos, parecidos entre si, porém partilhavam de semelhanças com a senhora apenas, presumi que fossem sobrinhos daquele casal. E a quarta pessoa é uma garota, que estava olhando ao redor com uma expressão um tanto entediada, ela tinha semelhança com o casal, então deveria ser a filha arrastada contra suas vontades. Já trocado e arrumado, me aproximei para oferecer ajuda aos recém chegados, mostrei-lhes seus devidos quartos, lhes entreguei os aparatos apropriados como toalhas, sabonetes e seus cartões chave.
Enquanto caminhava de volta para a hall de entrada senti um ar gélido me arrepiar, daqueles que só se sente quando algo muito estranho está acontecendo, um estranho ruim, mas ignorei e continuei até minha mãe, que agora parecia um pouco mais feliz enquanto fazia seus famosos quitutes, os quais vendia na feira em Grande Rodhes duas ou três vezes na semana. Assim que me sentei na mesa, ela voltou suas atenções para mim e lançou alguns comentários baixinhos, sobre como a mulher era fria e a garota mal educada, assenti, não houveram agradecimentos quando os levei aos seus quartos, muito menos expressões amigáveis. Minha mãe também lançou alguns comentários sobre o que poderia fazer no almoço, uma vez que temia pelos gostos daquelas pessoas, por último fez um lamento sobre gostar dos velhos tempos, quando os hospedes eram melhores, e eu concordei dizendo que já não faziam hóspedes como outrora.
Me encaminhei para meu quarto nos fundos da pensão, como fui o último a vir, fiquei com o quarto mais ao fundo, logo após o dos meus pais, me deitei na cama novamente e fitei o teto tentando me lembrar de algo que deveria fazer hoje, não cheguei a nenhum resultado depois de alguns minutos, então deixei o quarto rumo ao quintal. Me sentei na calçada em frente à pensão, a vista era única aqui, montanhas e campos verdes se estendiam a minha frente, e me distrai até ouvir passos atrás de mim. Era a garota, com fones de ouvido e caminhando distraidamente, pareceu se surpreender em me encontrar ali, mas ao contrário do que eu esperava, ela suspirou e tirou os fones para dizer algo.
- O que faz aqui ? - Ela disse erguendo uma sobrancelha.
- Estou apenas esperando - Dei de ombros - Seja lá o que eu deveria fazer hoje, não me lembro.
- Como você pode esquecer o que deveria fazer em um dia ? - A garota parecia meramente curiosa, talvez o tédio esteja grande demais - Você não tem uma agenda ou algo assim?
- Perdi as minhas, então desisti - Fiz uma pausa para ter certeza de que não falava sozinho - Foi um compromisso marcado a um certo tempo.
- Certo, posso? Ou devo pagar alguma taxa para me sentar no meio fio da calçada ? - A garota se sentou ao meu lado e guardou o fone no bolso - Não me entenda mal, estou entediada, talvez uma conversa me salve de agonizar infinitamente.
- Tudo bem, me deve 50 pratas pela guia - Eu disse tentando gerar algum laço amistoso entre nós dois.
- Vou embora - A garota virou a cara de forma ofendida - Aliás, meu nome é Reina, devo dizer, que você não é tão robótico quanto eu esperava.
YOU ARE READING
Caçadores
FantasyEssa história se passa em um mundo onde nada é como o esperado, ao mesmo tempo que tudo que esperamos acontece, basta se lembrar da magia.