Capítulo 2

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Alice. Quem é Alice? Oliver nunca tinha ouvido falar de Alice. Ela está no orfanato a quanto tempo? Ele não sabia dizer. Desde que mora em Moon Shine nunca a tinha percebido. Talvez ela não seja daqui, pensou ele. O que mais poderia ser? É óbvio. Talvez ela tenha vindo visitar o orfanato. Assim como outras pessoas fazem normalmente. Mas por que ela estaria ali? Mais uma das perguntas que Oliver não sabia responder. E ele não gostava da ideia de não saber de algo.

Oliver é inteligente. Desde que se entende por gente, sempre se esforçou, estudou até cair no sono. Ele queria provar a todos que a sua deficiência não faz a sua pessoa.

Ele ouviu os passos se aproximarem mais ainda. Oliver quis recuar. Um instinto. Depois de passar tanto tempo convivendo com outras crianças, ele aprendeu a se esquivar e a se esconder delas.

— Qual é o seu nome? — perguntou Alice.

Oliver ficou estático. E por alguns segundos tudo que conseguiu fazer foi gaguejar. Ótimo, pensou ele, vou ter que voltar para o jardim de infância aprender a falar outra vez.

Ora, faz, já, algum tempo desde a última vez que ele conversou com outra criança por livre e espontânea vontade.

— O que foi? Você não tem um nome? — perguntou a garota dessa vez curiosa.

Oliver respirou fundo antes de falar.

— M... Meu nome é Oliver — disse ele finalmente.

— Oliver — repetiu Alice como se testasse a palavra — bonito nome.

Ele não conseguiu ver, mas sentiu a risada dela em meio as palavras. Isso fez Oliver ficar na defensiva. Esqueceu-se quando foi a última vez que o elogiavam.

Alice curvou-se na direção do garoto.

— A Madre disse que você não consegue ver. Por quê? — Oliver notou curiosidade em sua voz durante a pergunta.

— Eu não sei. Eu já nasci assim — disse Oliver se encolhendo. Apenas esperando as palavras maldosas por parte da garota. Todas as crianças faziam a mesma coisa.

Mas não aconteceu. Em vez disso ela se sentou no chão, ao lado de Oliver o fazendo ficar surpreso. Uns minutos de silêncio se fizeram presente. Depois de pensar um pouco, Alice quebrou o silêncio.

— Sabe, eu ouvi falar que quem não vê pelos olhos, vê pelo coração.

Oliver ficou surpreso.

— O quê? Como assim? — Perguntou ele curioso.

— Eu também não sei — respondeu Alice rindo — acho que você vai ter que descobrir — e com um sussurro, acrescentou — quando descobrir me conta.

Oliver assentiu, mesmo sem saber se ela o estaria vendo. Não disse mais nada. Não sabia o que dizer, para falar a verdade.

Alice arrancou uma florzinha do chão e a levou ao nariz.

— Cheira essa flor. É muito cheirosa — disse antes de levá-la também ao nariz de Oliver.

Oliver sentiu o cheiro e instantaneamente espirrou. Alice fez um som de surpresa e curiosidade. Como se sentisse que deveria se desculpar, Oliver disse:

— Sinto muito, sou alérgico à grandes quantidades de pólen.

Alice riu. Nunca tinha conhecido um garoto assim. Oliver limitou-se apenas a fazer uma cara de interrogação.

— Você é engraçado — disse ela após se acalmar.

— Não sou, não — disse Oliver — ou sou? — perguntou ele agora confuso.

— É sim — afirmou ela veemente. — Oliver, o que você mais gosta de fazer?

Isso o tomou de surpresa. Ela queria saber mais sobre ele. E agora? O que eu falo? Não tem nada de interessante no que eu faço.

Ahn, eu gosto de vir aqui fora quando tem muita criança lá dentro. E também gosto muito de escutar as histórias que a Irmã Lucy lê pra mim.

— Que legal! Eu também gosto muito de ler. Você sabe ler Oliver? — perguntou ela entusiasta.

— Sei, sim. Aprendi quando tinha cinco anos. Mas não temos muitos livros em Braile, que digamos. Por isso eu apenas escuto.

— Ahh — exclamou Alice apenada — que pena — e então, rapidamente surgiu uma ideia na cabeça dela — Oliver, o que você acha de eu ler pra você? Suponho que a Irmã Lucy é bem ocupada.

Oliver ficou surpreso. Ora, não é normal conhecer uma pessoa a uns minutos atrás e já estarem conversando como se fossem amigos de por vida. Aquela garota era estranha aos olhos de Oliver. Mas por alguma razão isso o deixava intrigado. Por que ela é assim toda extrovertida com pessoas que acabou de conhecer? Por acaso não a ensinaram a não falar com estranhos? Por outro lado, se as pessoas não falassem com estranhos, nunca fariam amizades uns com os outros. Alice, Oliver se deu conta, era do tipo amistosa. Seria fácil seguir a corrente com ela ao seu lado. Pela primeira vez Oliver se sentiu bem com outra pessoa ao seu lado e não queria desgrudar desse sentimento tão rápido.

— Tudo bem — disse ele, agora sorrindo — acho uma boa ideia. Você tem razão ao supor que a Irmã Lucy é ocupada.

Quando Alice viu Oliver sorrindo pela primeira vez, decidiu que queria ser amiga daquele garoto tão estranho.

— Seu sorriso é muito bonito — soltou ela de repente.

As bochechas de Oliver se tornaram coloradas.

— Não diga essas coisas tão de repente — repreendeu ele virando o rosto — é estranho.

Alice não se segurou mais e começou a gargalhar.

— Você ficou vermelho — e continuou rindo.

— Não fiquei, não — disse ele ficando mais vermelho ainda.

— A sua cara não mente, Oliver.

Então um vento muito forte soprou bagunçando os cabelos das duas crianças. Os cabelos de Oliver eram de um dourado escuro, observou Alice. Uma cor muito mais bonita do que o loiro claro do dela.

— Acho que devemos entrar, antes que a chuva nos pegue — disse ele.

— Como você sabe que vai chover? — indagou olhando-o.

— Isso é fácil. É só sentir o quão forte está o vento e sentir o cheiro de chuva.

— Você é muito esperto, Oliver — disse ela sorrindo.

— Está bem. Agora vamos entrar.

Alice fez um som com a garganta afirmando e se levantou pegando a mão de Oliver, coisa que o fez corar, e dirigiram-se para dentro.

💗💗💗

Olá, espero que tenha gostado de ler.

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Até a próxima 😊

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