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𝗠𝗲𝗺𝗼𝗿𝗶𝗲𝘀

    AS FLORES NO CAMPO mexem-se com a brisa fresca da primavera. O meu vestido flui juntamente com o meu cabelo para trás. As minhas mãos passam pelas flores brancas e amarelas, conforme corro pelo terreno soltando risadas altas. Olho para trás encarando o rapaz que corre atrás de mim. O seu cabelo salta para cima e para baixo conforme ele corre na minha direção, as suas bochechas estão vermelhas de tanto correr. Mais uns passos e ele alcança-me. Viro o meu corpo para si correndo de costas. O que não corre bem, pois o seu corpo embate no meu e ambos caímos na terra dura. Fecho os olhos com o impacto.

    Quando volto a abrir os olhos o par de olhos azul esverdeado encara-me de volta e as nossas respirações estão ofegantes. Ele retira os cabelos da frente do meu rosto antes de perguntar se pode continuar. Abano a minha cabeça que sim, ainda um pouco nervosa. A nossa primeira vez. Ele volta a beijar os meus lábios sorrindo e eu volto a fechar os meus olhos apreciando cada toque, cada beijo, cada suspiro, cada carinho, cada dor.

    Uma dor aguda atinge-me e eu sou obrigada a abrir os olhos novamente. Olho para a minha mão vendo o sangue sair do meu dedo. Deixo escapar um merda entre dentes em italiano pousando a faca no balcão e de seguida abro a torneira colocando o dedo debaixo da água. Sou uma desastrada. Ouço a sua gargalhada alta atrás de mim e encaro-o um pouco aflita com a situação toda.

    "Estás tão nervosa porquê? Já conheces os meus pais." Ele cruza os seus braços encostado na ombreira da porta da cozinha. O seu cabelo está bem penteado, no seu corpo está presente um polo de manga curta e umas calças de ganga. Algo simples mas lindo, como sempre.

    "Sim, mas eles não sabem que nós agora somos um casal." Digo olhando para o meu dedo para ver se o sangue já estancou. O rapaz aproxima-se de mim com um guardanapo na mão e enrola o meu dedo desligando a torneira. Ele acaricia o meu rosto olhando diretamente nos meus olhos dizendo que vai tudo correr bem, e que os seus pais sempre me adoraram e que independentemente de ser sua namorada ou não que vão sempre me adorar. Que não preciso de me preocupar. Dou um sorriso e ele deposita um beijo na minha testa fazendo-me fechar os olhos.

    As minhas mãos tremem, lágrimas escorrem pelo meu rosto e ele grita comigo. Abro os olhos novamente encarando o rapaz. Estamos a ter a nossa primeira grande discussão. Tudo por ter sido aceite como fotógrafa profissional da equipa inglesa vermelha e branca, Manchester United. Tendo que ir para longe dele, para longe do amor da minha vida. Ele grita dizendo que eu não podia ser tão egoísta, que devia ter falado com ele antes de ter aceito a proposta de trabalho. Porque para ele eu estou a abandoná-lo, estou a fugir dele principalmente no momento em que ele mais precisa. Eu tento explicar que não irei estar sempre no terreno inglês, uma vez que o meu trabalho requer tirar fotos em eventos especiais e jogos, que poderei acompanhar a sua carreira como sempre fiz e sempre irei fazer. Mas ambos estamos demasiado acessos. E estamos a dizer coisas que não queremos, ou que diríamos se estivéssemos a trocar apenas argumentos válidos.