estrada

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Posso estar errado, mas raramente arrumar um óculos escuros que pende similarmente defeituoso como o sol ao seu incontável pôr-de-dia desde o começo do mundo já intoxicado, para quem facilmente abriria um berreiro interno ao céu dependendo do quão reta se encontra a linha do horizonte é no mínimo duvidável. Mas sempre, independentemente do fato do anoitecer se estender por poucas horas durante seu sono, terás a certeza de que foi misteriosa e intimidadora o suficiente para que eu calasse a minha pergunta corriqueira entre todas as outras conspirações circulando teus suspiros inaudíveis soprando bolhas frágeis de reflexão (que amolam ainda mais os alfinetes do viver desprendido das raízes humanizadas ao modo padrão), inalcançáveis e imaginárias, adentrando sonhos chuvosos como o sábado passado. Com a cabeça apoiada no braço direito, ela observa cautelosa a atmosfera que se faz presente entre os dedos dançantes no pouco e quase nada de vidro da janela ainda aparente. Tenho o presente medo de saber o que pensa sobre toda a imensidão que não se esvai, mesmo com a certeza de que o aborrecimento tedioso é quem tem enrolado teus cabelos nos últimos quatro dias de rodas fazendo o que lhes é ditado: movimentar um veículo sem muito rumo moral, tentando (no nosso caso em exceção) consolar o quase hilariamente inconsolável nuance juvenil fluorescente nascendo originalmente de palpites cardíacos mortais se levados ao pé da letra ou da estrada que seguem.

- Você ainda não disse nada suficientemente interrogatório hoje.

- Deveria?

- Com certeza.

A realidade se resume no equilíbrio entre o chifre e as patas alinhadas de um unicórnio de asas quebradas: caso ele ameace alçar voo, tudo vai sair rolando destrambelhado pela grama fresca, a tornando ilusória de novo até o efeito atingir o tempo excedido. Ou foi isso que aprendi depois da queda montanhosa em seus olhos (espero que apenas em seus olhos, pois não me lembro muito do antes de tê-la me ditando direções). E é muito mais fácil desenhar uma fantasia do que um ferimento grotesco que jorra sangue indesejado e dói. Muito.

- Por que unicornios?

- O chifre.

- Cervos também possuem chifres.

- Não deveria crer tanto em devaneios, querido. Eles não são como o sol.

- Mas se assemelham.

Orbes. Sem corpo nem alma. Apenas orbes completamente vazias e agora ameaçadoras, desviando para a frente novamente.

- Como pode saber?

- Sonhos.

- Não brinque com isso. Não me faça mais perguntas.

- Mas...

- Se eu precisasse de um chifre similar ao sol, eu faria um para mim, Lee.

Inevitavelmente a estrada não chega ao fim depois de um desconforto digno de fim de cena.

Posso sentir o sangue escorrer da minha testa agora que sua expressão toma traços reais.

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bah tá pegando fogo

unicórnios ultra(su)rrealistas | (g)i-dle + seventeenOnde histórias criam vida. Descubra agora