Todas as minhas amigas me deram vivas quando terminei com você. Quando lhe abandonei. "Já estava na hora", diz Alice rindo. "Achei que estivesse apaixonada", diz Eleonora, provocando uma onda ainda maior de risos entre nós. Ri e bebi junto delas, mas estava inquieta. Na hora em que te deixei, achei que estivesse certa. Estava assustada com a ideia de me importar demais com alguém que não fosse eu. Antes de você, nunca tive um relacionamento que durasse mais do que uns poucos dias. Uns tentavam demais, outros de menos. Nenhum sorriso me encantava, nenhum beijo me fazia querer outro como o seu, nenhum abraço me fazia sentir tão calma e segura. E então você chegou. Virou minha vida de ponta cabeça. Baladas na sexta, ir ao cinema no sábado, curtir o domingo em um banco de praça vendo o pôr-do-sol. Você, tão parado e quieto, estava sempre disposto a fazer qualquer coisa ao meu lado. Então lhe mostrei minha mais secreta rotina. Lhe mostrei aquele lado de minha vida que nenhuma "amiga" jamais sonhou conhecer. Você conheceu meu lado romântico. Um lado que nem eu conhecia antes de você. Aos poucos, comecei a te amar. E te amei cada vez mais. Todos os dias tinha você ao meu lado. Eu te jurei o sempre, pois eu realmente acreditei que dessa vez eu conseguiria deixar a opinião dos outros de lado. Eu acreditei que estava madura e determinada o suficiente para me prender a alguém. Me prender a você. Mas eu falhei. Falhei terrivelmente com você e com meus sentimentos. Você foi, você é, o meu primeiro amor. O único fora do meu núcleo familiar a me conhecer do jeito que eu sou. Sem máscaras, sem fingimentos. Apenas eu. Não quero pensar em você. Simplesmente não suporto a tristeza, a vergonha que sinto por tudo o que fiz. Quando estou junto de minhas amigas te esqueço, mas quando estou só, não consigo. Quando estou sozinha é impossível pensar em outra coisa. É só em você que penso. Como isso é possível? Elas são meus anjos e meus demônios. Graças a elas te abandonei, mas sem elas eu sequer teria lhe conhecido. Passamos poucos meses juntos, mas sou grata por cada momento que passei ao seu lado. Faço de tudo para te esquecer, mas isso tem se mostrado cada vez mais improvável. Até porque te vi na rua ontem. Eu estava rindo de verdade pela primeira vez em dias. Mas, ao te ver, toda a tristeza voltou. Você parecia bem. Não parecia estar triste por não me ter mais ao seu lado. Eu estava junto de meu irmão. Você o reconheceu das fotos ou imaginou que eu tinha seguido em frente? Você sequer nos viu? Fiquei te encarando até você sumir de vista, mas nada. Você não me dirigiu o olhar uma vez sequer. E isso doeu demais. Aqui, sozinha, não consigo parar de pensar: e se... E se eu nunca tivesse passado tantas horas lendo Nicholas Sparks no sofá, ainda assim teria me apaixonado? E se eu não tivesse rido de todas as suas piadas na esperança de que o som de minha risada ficasse marcado em sua memória? E se eu não passasse tantas horas na frente do espelho tentando ficar bonita para você? E se eu te dissesse que borrifei meu perfume em suas roupas, seu travesseiro, por todo o seu apartamento só para ser lembrada? E se eu te dissesse que vou a balada, ao cinema e ao parque na esperança de te ver? E se eu te dissesse que sem você a rotina voltou a ser a mesma do antes e simplesmente não faz mais sentido? E se eu te dissesse que foi você quem me ensinou a amar? E se eu te dissesse que, apesar de tudo o que eu lhe fiz passar, eu ainda quero voltar? Olho para o relógio. 10 h e 15 min. Caio de joelhos e choro. Falhei com você. Falhei comigo mesma. Ao invés de te esquecer, ao invés de simplesmente deixar as memórias irem embora, eu apenas as juntei e as guardei em meu coração. Não há formas de me livrar de você. Todos os métodos que utilizei apenas me fizeram te amar ainda mais. Em um momento de desespero pego o celular, ignoro uma mensagem recém recebida e lhe envio uma: E se eu te dissesse que sem você não vejo motivos para continuar vivendo, pois foi você que me ensinou o verdadeiro significado de amar?
VOCÊ ESTÁ LENDO
E se eu te dissesse (aos olhos dela)...
De TodoToda história de amor tem dois lados e em "E se eu te dissesse (aos olhos dela)...", nós, As Herdeiras, narramos o outro lado da história da obra publicada anteriormente, "E se eu te dissesse...".