Annabeth enfrenta um monstro imortal

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 Uma sensação gélida e incrivelmente consistente atravessou meu corpo como uma navalha. Um arrepio fez os pelos da minha nuca se ouriçarem. Era tão intenso e surreal que pensei ser algum tipo de consequência por ainda estar meio grogue, então o pensamento foi interrompido pelo impacto do meu corpo contra o chão. Era a segunda vez naquela ultima hora e, ainda contando.

 Rachel encaixou a chapa de volta no lugar e a passagem selou quase que instantaneamente. O rosnado da imensa onda assassina silenciou. Fomos cercados por uma escuridão absoluta. Devia estar fazendo em torno de dezesseis graus, o que era um tremendo choque térmico depois do túnel húmido e quente de onde saímos.

- Percy! O que você tem na cabeça?! - eu quase pude visualizar seu semblante carregado. 

 Senti alguém se remexer ao lado e um golpe acompanhado de um baque surdo atingir com precisão a parte de trás do meu crânio. O zumbido agudo preso aos ouvidos ficou um pouco pior do que antes.

- Será que da para parar com isso?! - a voz de Rachel Elizabeth Dare ecoou pelo lugar mais raivosa do que nunca antes - Se querem culpar alguém por estarmos presos nesse lugar, tomem responsabilidade os dois! Foi por causa dessa briga estupida que fomos direto para a armadilha e vocês ainda não aprenderam nada com isso? Quer dizer, tenha dó! 

 O silêncio depois daquelas últimas palavras deixou um ar pesado para trás e, com nada além do imperceptível som de respirações, ficamos ali encarando as trevas. 

 - Vamos seguir, a partir daqui. E apenas eu desta vez, caso contrário, esqueçam! - concluiu.

 - Que seja, então. - Annabeth deu de ombros.

 Ouvimos o tilintar de algo a frente e a escuridão se mostrou ameaçadora outra vez. Apertei o punho em volta da caneta esferográfica em meu bolso, pronto para destampa-la e transforma-la em uma espada reluzente de bronze. Ouve um pausa, depois, uma serie de trincolejos ecoou por uma reta que parecia se estender infinitamente. De alguma forma, ressoando para cada vez mais longe de nós.

 - O que foi aquilo? - perguntei.

 - Uma moeda.

 Uma moeda? Como podia aquele horroroso som ser de uma simples e minúscula moeda sendo jogada? Meu coração ainda tentava manter as batidas controladas quando alguns passos se iniciaram. Senti o toque de uma mão fria no meu joelho esquerdo e em resposta puxei o ar pelos dentes cerrados. A perna envenenada fazia com que eu sentisse como se alguém tivesse esquecido meus músculos fritando em óleo quente.

 - Desculpe. - Annabeth murmurou enquanto me ajudava a ficar de pé.

 - Estamos em uma espécie de corredor. É difícil dizer desta vez, mas posso sentir as paredes dos dois lados então... Não temos escolha a não ser seguir em frente.

O barulho de passos recomeçou. Annabeth se aproximou novamente, apoiando meu braço em volta de seu pescoço outra vez. Dois minutos atrás, quando eu ainda estava sentado no chão, pensei não ter sentido a presença de ninguém por perto. Entretanto, de alguma forma, com alguns poucos passos ela havia me alcançado sem esforço. Pensando agora, também não fazia sentido. Ela sabia onde eu estava? Provavelmente. Mas, como era possível? Não havia o menor resquício de luz vindo de qualquer lugar, o que tornava nossos olhos incapazes de enxergar qualquer coisa, então como alguém conseguiria encontrar algo - não apenas uma vez, mas duas - naquelas condições?

 Coberto pela escuridão e silêncio, meu cérebro era incapaz de ficar quieto. Eu sei, parece um saco. Na maior parte do tempo é mesmo, mas, quando se nasce desse jeito, você acaba pegando o jeito. Minha mente super ativa estava sempre me prendendo a necessidade de fazer algo e desta vez, aquilo parecia mil vezes pior. Devo ter feito algum movimento extremo sem perceber porque depois de um tempo Annabeth estalou a língua.

Percy Jackson e os corredores do labirintoOnde histórias criam vida. Descubra agora