.uma família de três agora

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1 ano

— á-água — Keiko pediu no banco de trás do carro. — águaaa.

— Tobio, ela disse que quer água. — Shouyou repetiu. Enquanto manobrava o carro na vaga do estacionamento do shopping.

— Eu sei. — soprou Tobio, pegando uma mamadeira com água na bolsa. Tirou seu cinto e esticou o corpo, dando a pequena garrafinha nas mãos da menina. — Toma, Keiko. Água. Diga: Me dê água por favor, papai.

— Ela não vai te entender. — Shouyou resmungou. Durante toda o viagem de carro Hinata e Kageyama estavam se comunicando assim, com provocações e alfinetadas. Eles tinham discutido mais cedo. Não foi nada demais, nada importante o suficiente para se lembrarem depois de uns dias. Só que essas brigas eram quase que constantes dos últimos meses.

Adotar um bebê é muito mais que lidar com uma criança – o que já é bem difícil. Tem papeladas, tem audiências, tem assistentes sociais… principalmente quando é um casal homossexual. Não é fácil, mas eles estavam decididos, estavam mais que decididos, eles já tinham conseguido! Keiko já morava com eles integralmente há seis meses, ao mesmo tempo que era um sonho, era tanto desgaste emocional para os dois que podiam contar dos dedos quantas horas de sono que tinham dormido na última semana. Começaram a brigar por coisas tão pequenas, como esquecer de fechar a geladeira ou não dobras as roupas limpas.

Viviam cheios de bolsas com coisas de bebês, enrolados em fraudas de panos e tropeçando em ursinhos de pelúcias. Achavam que estavam prontos pra mudança brusca de rotina, mas estavam errados. Não é algo que dá pra se preparar. Quando você menos perceber já perdeu o controle e está brigando com um bebê de um ano e gritando com seu marido.

— "Por favor, papai". — Tobio repetia pausadamente olhando pra menininha, que apenas apoiava as bochechas na cadeirinha de transporte pensativa levando a mamadeira pra boca.

Kageyama estava obcecado em ajudar Keiko a falar o mais rápido possível. Repetia todas as palavras pra garota várias e várias vezes. Na verdade, Shouyou nunca viu Tobio falar tanto. Ele tinha lido em algum lugar na internet que falar com bebês ajudavam eles a desenvolver a fala mais rápido, então ele não parava de falar. Conversava com Keiko o dia inteiro, mesmo que ela só respondesse grunhidos sem significados.

Shouyou virava o volante fazendo uma baliza pra encaixar o carro na única vaga que encontrou e foi nessa hora que a pequena tirou a mamadeira da boca e tranquilamente, mirando Tobio, disse no mais límpido japonês:

— Água papai.

Os dois pais de primeira viagem travaram sua respiração e arregalaram os olhos. Kageyama tentou responder mais apenas permaneceu boquiaberto enquanto Shouyou brecou o carro mal colocado na pista, tirou seu cinto e se virou para o bando de trás.

— O quê!? Keiko, o que você disse? — exclamou balançando os ombros de Tobio.

— E-ela… — Kageyama tentava dizer algo, mas só conseguia olhar a menina que tinha semblante confuso. Até agora ela só conseguia falar "água" ou "não" e as vezes um "gatinho" se se esforçasse. Keiko era ligeramente preguiçosa quando se tratava de falar.

— Keiko, diga de novo. Diga de novo. — Shouyou abriu um sorriso e apertou sua mão no braço de Tobio.

Quando os olhos de Kageyama começaram a brilhar emocionados Keiko começou a chorar largando a mamadeira com água. O que não foi de se espantar, ele imitava Tobio em qualquer movimento. Se ele dava risada ela ria ou se ele chorava ela chorava. Principalmente nas situações que ela não entendia, quando iam a festas ou apresentavam Keiko para os amigos. Ela se enfiava do colo de Tobio e só falava quando ele dizia que estava tudo bem.  

Uma Familia de três agora - KagehinaOnde histórias criam vida. Descubra agora