O Império de Sangue (Escrevendo)

1 ✨ As vantagens da imortalidade

A humanidade viveu sob o medo por muitos anos, submetida as exigências da minha raça e dispostos a ceder as maiores crueldades para preservar a vida de seus entes queridos.
No meu mundo, existe líderes poderosos disputando pelo poder. O vencedor decide o percurso da humanidade, se ela morre ou se ela vive. Atualmente o nosso líder é um aliado bondoso dos mortais, vivendo sob um rígido códico moral que nos impede de beber sangue humano. No entanto ele está prestes a sucumbir a pressão do segundo ao comando --- Eremel Bloode, meu irmão. E para piorar, ele é o preferido da família.
Por décadas Jace Bloode conseguiu manter a paz entre vampiros e humanos, se tornando um símbolo de resistência para o clã. Mas quando meu irmão resolveu duvidar da soberania do próprio líder e a questiona-lo, gerou uma divisão entre os membros da própria família para apóia-lo.
Eu, Kélida Bloode, sou a única vampira a seguir cegamente o códico moral imposto por Jace. Faço de sua causa o meu escudo e de suas palavras o meu firmamento.

***

--- Kélida Bloode... --- murmurou Eremel --- vagando nos próprios pensamentos outra vez.
--- O que você quer? --- perguntei a ele sem tirar meus olhos da janela da catedral, enquanto o rastro da chuva descia pelo vidro.
--- Amanhã irei realizar uma festa de gala em homenagem a boa liderança de Jace. Coloque um vestido, fique bonita.
--- E por que eu faria isso?
--- Porque pode haver alguns vampiros solteiros e você sempre foi a mais cobiçada da família...
Na verdade eu era cobiçada por ele. Meu próprio irmão de linhagem sonhava em governar o clã para ditar novas leis. Dentre elas, reescrever a posse de mulheres na própria família. Eu o desprezava por essa sua fantasia doentia. Como vice líder ele tem todas as mulheres na palpa de sua mão, mas nada é o bastante enquanto ele não me tem.
--- Não. --- respondi.
--- Nem pra se divertir? --- questionou com malícia --- a quanto tempo você não bebe sangue? Hein? --- pressionou.
Meu coração acelerou. Não pela palavra mas pela sensação que ela me trás, das lembranças de quando caçávamos em bando na superfície. Eu ainda sentia o gosto ácido em meus lábios descendo pelo queixo como uma vaga lembrança.
--- Você sente falta, assim como todos nós. --- afirmou --- pare de seguir as idéias antigas do Jace. É um novo começo. Quero que venha comigo, Kélida.
Levantei e me aproximei dele, fixando meu olhar ao seu. Seus olhar negro e intimidador era associado a um vampiro forte. Suas vestimentas remotas do século XIX marcavam seu estilo. Estilo esse a qual todos os vampiros adotaram até os dias atuais.
--- Jace é meu líder, minha razão. Eu não vou permitir que assuma o controle e coloque essa família sob seu poder.
Eremel passou a mão aos meus cabelos enquanto alisava os fios e refletia em uma resposta a altura.
--- Não fique no meu caminho, Kel. Você não me quer como inimigo. --- ameaçou --- eu vou tirar Jace do caminho e não vou pensar duas vezes para expulsa-la com ele. Pense nisso.
Eremel se retirou do quarto e bateu a porta atrás de si. Ele tinha uma visão diferente do mundo. Pensava em controlar pelo medo, assim como os antigos líderes fizeram antes de Jace. Se isso acontecer de novo tudo o que construímos nessa revolução sucumbirá, e seria uma questão de tempo para levarmos a humanidade em extinção conosco.

***

Os humanos tem colecionado inimigos ao longo das décadas, não somente os vampiros do meu clã como os próprios governantes de suas terras. Para muitos de nós a humanidade é considerada ultrapassada e lenta, no entanto, suas tecnologias tem se mostrado em evolução depois da última revolução industrial.
Diferente de todos eu tenho grande simpatia e apreço por eles. Conquistei a confiança de Jace a cinco anos atrás quando entrei para o departamento de polícia como detetive. Pela primeira vez em séculos um vampiro foi visto atuando diretamente com os humanos. Houve um confronto dentro do clã pressionando Jace para me punir. E quando fui condecorada pelo departamento gerou em meu irmão Eremel o sentimento de inveja.
Hoje são águas passadas e meu objetivo é manter um acordo entre as duas raças. Em troca desse acordo, os vampiros devem viver em um território demarcado pelo próprio povo. Sou a única que pode sair. Eles confiam em mim, portanto devo honrar isso.
Todos os dias eu tenho um serviço a zelar, participando ativamente das investigações policiais e qualquer caso suspeito. Atuo como investigadora e defensora da lei. Fazer isso me torna útil, e conviver com os humanos me torna forte o suficiente para encarar a sede de perto e saber controla-la.
No escritório encontro o chefe de polícia em uma reunião com os policiais, tanto os mais experientes quanto os novatos, dividos em grupo enquanto ouviam apreensivos as palavras de Kevin.
--- ... e se não descobrirmos logo isso acontecerá de novo. É preciso manter cautela porque quem fez isso vai fazer de novo. Dispensados.
--- Aconteceu alguma coisa? --- perguntei a ele. Havia fotos de um assassinato brutal no mural e sobre a mesa. Um corpo com o pescoço aberto e as vísceras do estômago amontoadas fora do corpo.
--- Chegou bem a tempo. Houve um assassinato. Mas esse é diferente.
--- Diferente como?
--- O corpo foi encontrado sem os órgãos. Como pode ver, quem fez isso conseguiu retirar a espinha com um único puxão. --- Kevin gesticulou com as mãos o ataque a vítima --- Em seguida parece ter removido os órgãos do corpo. Só sobrou o intestino.
--- Um vendedor de órgãos?
--- Possivelmente. Mas pelo estado do corpo tenho minhas dúvidas.
--- Qual seu palpite?
--- Nenhum. Eu só sei que meus policiais estão sob cautela e vão vigiar cada canto dessa cidade. E eu preciso de você nesse caso, Kélida.
Kevin discou um número ao ramal do telefone e chamou alguém.
--- Um detetive do Brasil foi transferido recentemente para cá. Ele tem bons antecedentes. Carta de recomendação e tudo. Vai gostar dele.
Franzi o cenho tentando compreender o sentido daquilo. A porta se abriu e um homem de 1,80 e óculos escuros surgiu na sala. Musculatura forte, ombros largos e de postura arrogante. Cheirava a testosterona e masculinidade frágil.
--- Senhor Kevin? --- a voz era um rouco forçado. Como eu disse, masculinidade frágil.
--- Kélida esse é o detetive Diego. Seu novo parceiro.
Olhei surpresa para meu superior enquanto negava com a cabeça.
--- Parceiro?!
--- Então os rumores eram verdadeiros. Você é uma vampira. --- Diego riu em ironia enquanto me analisava. Sua postura me enojou --- Como chegou aqui? Tem um sol radiante lá fora.
--- Século XXI, idiota. Sou uma nova espécie. --- avancei nele com minhas presas na intenção de assusta-lo --- Eu trabalho sozinha. Não preciso de um parceiro. --- Me retiro da sala e aguardo mais instruções do lado de fora.
Minutos depois Diego se aproxima. Retira um cigarro do bolso e acende com um isqueiro. Ele se escora a parede e me observa.
--- É a primeira vez que vejo uma vampira. Pensei que fossem assustadores. Mas o que vi foi uma mulher com presas com medo de perder seu emprego.
Aquilo era o ápice da tortura. Metido e cheio de arrogância. Como Kevin poderia nos unir na mesma equipe?
--- Acho melhor você guardar as suposições pra você. --- comentei --- não vai querer me conhecer de verdade.
Diego encarou aquilo como um desafio. Se aproximou de mim e se inclinou sobre o meu corpo, me olhando enquanto apaga o cigarro na parede, me encurralando com as duas mãos.
--- Suportando ou não, o trabalho é em equipe. --- sussurrou --- Não me interessa de onde você é nem a sua espécie. Não fique em meu caminho. ---
Diego tirou as mãos da parede e sorriu. Foi em direção a viatura e sentando no banco do motorista com o peito estufado.
--- Você não vem?
Refleti se valeria a pena retroceder no meu auto controle beber cada gota de seu sangue mas respirei fundo e entrei no carona, batendo a porta com raiva.

Chegando na cena do crime, o corpo já havia sido removido pelos médicos legistas e os peritos estavam apurando os vestígios do local e recolhendo amostras para análise. Diego logo foi bancar o policial 5 estrelas se apresentando aos envolvidos, e eu comecei a verificar o local.

(Aguarde para continuação)
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