Miniconto de falha

42 6 5
                                    

Por Marina de Jesus

Era uma vez uma garota que tinha muito medo de ser abandonada, de ser esquecida. Ela tinha tanto medo, mais tanto medo, que não se perdoava por errar. Desejava e tentava acertar sempre, ser sempre a melhor, ajudar sempre, não atrapalhar jamais. Desejava e tentava ser o suficiente ou mais do que o suficiente todas as vezes, em todos os lugares. O que ela não sabia é que é impossível acertar sempre. E a garota foi crescendo e o tempo passando e cada vez mais o seu medo se tornava real, quanto mais ela lutava para ser lembrada e para não ser abandonada, mais isso acontecia com ela. Era abandonada por amigos e amigas, abandonada por possíveis pretendentes, abandonada e esquecida por professoras e professores, e vivia sempre com medo: medo de não conseguir uma boa nota, medo de ser demitida do estágio, medo de não conseguir um mestrado, medo de não passar num concurso, medo de não se destacar positivamente na vida profissional, na vida pessoal, na vida religiosa, na igreja, na sociedade. E quanto mais ela tinha medo, mais isso acontecia.
Ficava desesperada em todas as vezes que cometia um erro, se sentia extremamente culpada e inútil, mas isso acontecia até quando estava certa, e metia os pés pelas mãos, pedia mil perdões e desculpas, implorava para que não desistissem dela, procurava sempre se explicar, assumir os erros, mostrar ao mundo sua maior vergonha, suas fraquezas, o quanto sentia muito por não conseguir ser perfeita. O fantasma da imperfeição a assombrava 24h por dia, e essa garota, agora uma jovem mulher, era tão triste, tão triste, queria tanto que gostassem dela, queria tanto um amor, que sufocava os pretendentes, que ia rápido demais, que se iludia demais, queria tanto um bom emprego que ficava travada, sentia-se incapaz de ter a inteligência necessária e a dedicação necessária para isso.

Ela nunca esperava coisas boas para si, porque para ela, as coisas boas vinham junto com reconhecimento, com lembrança, com a presença das pessoas em sua vida, mas as pessoas não ficavam, elas rapidamente partiam, as pessoas não se lembravam dela, rapidamente esqueciam. E de tanto tentar e tentar ser lembrada e amada... Esqueceu-se de si mesma, não amou a si mesma.
Morreu só, com as pernas balançando no ar, pendurada pelo pescoço.

Contos de Uma Mente FértilOnde histórias criam vida. Descubra agora