Escassez Ígnea

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— E é assim que se conjura uma esfera de luz menor. Concentrem-se em esvaziar a mente, como de costume, e pensem apenas em uma fonte luminosa surgindo a sua frente, ajuda se vocês mentalizarem o sol do meio dia, a chama de uma vela, metal incandescente e coisas do tipo. — o sino da última aula tocou após Ehdras finalizar os conceitos básicos de Fotomancia. O mago tinha altas expectativas acerca do desempenho dessa turma, que já mostrava mais da metade dos alunos conjurando suas primeiras esferas de luz, mesmo que por alguns segundos — Turma Esmeralda, estão dispensados. Obrigado por hoje. — acenou positivamente com a cabeça e depois de alguns gestos com a mão direita, apontou para a porta que se abria através de um de seus feitiços de telecinese. Ehdras estava cansado e já não via a hora de almoçar. Havia preparado sua refeição da semana toda no dia anterior, separando em várias trouxas de tecido o almoço que seria composto de pão, potinhos de vidro com compota de pimentão e cebolas azuis assadas e maceradas com ervas e sal, queijo azul das montanhas de Erondraz, uma iguaria dos anões que lhe custou fatia considerável de seu salário como professor de Arcana, e frutas vermelhas cristalizadas para a sobremesa. Ehdras não fazia desfeita para as refeições generosas servidas no Campus Arcano de Ifradia, mas essa era a semana de seu aniversário e se sentiu confortável em satisfazer suas vontades mundanas com uma das coisas que mais gostava de fazer: comer. Claro que Ehdras amava a magia, mas como o próprio mago costumava dizer: "Sem comida no bucho, você não é bruxo!".

Após caminhar por cinco minutos pelo Campus Arcano de Ifradia chegou na sala de vivência, foi em seu armário e apanhou uma trouxa de pano que envolvia uma caixinha retangular feita de barro branco, uma alternativa mais econômica à porcelana e muito mais resistente à choques térmicos. Com sua refeição, que carecia de aquecimento, nas mãos, recebeu um alerta telepático, e sabia que poucos magos no campus possuíam tal perícia. A mensagem que se destinava a todos os professores de Arcana do campus dizia o seguinte:

— Dirijam-se ao anfiteatro número dois. É uma emergência. Por favor, dirijam-se ao anfiteatro dois o quanto antes. — Ehdras recebeu a mensagem telepática com grande pesar. Passou a manhã toda pensando em suas fatias de pão, besuntadas com a compota de legumes espalhada e no queijo erondraziano fresco. Mesmo assim, foi desembrulhando seu almoço do dia, apanhou uma fatia de pão, embrulhou de volta e dirigiu-se ao anfiteatro localizado na segunda quadra do campus o mais rápido possível. Enquanto caminhava mordiscando uma fatia de pão viu esferas cadentes de luz lhe cruzarem sobre a cabeça, deixando uma trilha de fagulhas coloridas no ar a uns cinco metros do chão. Eram os magos magos utilizando portais arcanos. O Campus Arcano de Ifradia era muito amplo, tinha aproximadamente vinte mil metros quadrados e esses portais foram projetados para conectar todos os pontos de interesse que tenham distância maior que dois mil passos, facilitando assim o trânsito dos conjuradores lá e cá dentro do campus. Ehdras engoliu suas últimas mordidas da fatia solitária do pão que apanhou em seu armário, uma meia refeição feita às pressas a caminho do anfiteatro dois e agora estava prestes a acessar um dos portais que o deixaria em frente ao local. Ao se aproximar do totem encantado que o teletransportaria para a Praça dos Anfiteatros, ouviu uma voz feminina:

— Ei comilão, espera aí!

— Oi, Gindri. Espero, sim. Já sabe alguma coisa desse alerta? Parece coisa grande. — Gindri era uma maga recém formada. Auxiliava a professora titular de alquimia e estava terminando seus trabalhos pós curso. Todas as pessoas que terminassem seus estudos como alunos do Campus Arcano deveriam desenvolver um trabalho final, um Tomo Arcano, cujo tema deveria abordar diversos usos da magia visando melhorar a vida das pessoas desse mundo.

— Não mais que você, mas estávamos tendo alguns problemas no laboratório de alquimia pela manhã. Toda vez que conjurávamos alguma coisa para acelerar uma reação por calor ou aquecer substâncias, o feitiço demandava mais esforço que o usual. Perguntei para Tamia se deveríamos ajudar os alunos na aula de hoje pois nós duas mal conseguimos aquecer uma xícara de chá sem utilizar todos os nossos poderes. A disciplina de alquimia já sofre de um baita desfalque de Tomos Arcanos no pós curso e a senhora Tamia ainda me proibiu de ajudar um aluno sequer. Ela faz questão de deixar a alquimia ter essa má fama, a turma saiu bem chateada por não conseguir acelerar a fermentação de vinte mililitros de suco de maçã.

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⏰ Última atualização: Apr 22, 2021 ⏰

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