#2「💌」

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As coisas estavam caminhando –bem rápido– para acabar com Mika Macklin atirando algo no chão. A garota respirou fundo, tentando controlar sua voz, e sorriu, mesmo que a pessoa com quem ela falava não pudesse vê-la. Seus pais tinham lhe ensinado a manter a educação a todo custo, mas às vezes era realmente difícil se controlar. Haviam momentos em que ela podia jurar que o amado universo de seu irmão estava tramando contra ela.

“Senhorita, vocês têm que me mandar estes pedidos. Serão meus presentes de Natal! Eu os pedi dois meses atrás!”

“Presentes de Natal? Deveria ter pedido com três meses de antecedência, você sabe, é a regra.”

“Não existe regra pra isso!”

“E é justamente por achar isso que você está sem presentes agora, mocinha.”

“Por favooor! Tem que haver algo que resolva essa situação. Não posso ser uma sem-presentes no Natal!”

“Eu realmente sinto muito, os produtos estão na transportadora, não há nada a se fazer.”

Bem, não parecia que ela sentia muito, parecia que ela sentia praticamente nada sobre sua situação…
Mika se sentou perto de sua janela, sentindo o corpo mais pesado diante de sua perda eminente.

“Não posso falar com eles?”

“Não tenho permissão para repassar o contato deles. O seu tempo no atendimento ao cliente acabou, tenha um bom dia.”

“Espere! Não…”

— Desligue.— A garota apertou o telefone, jogando uma de suas almofadas no chão.— Essa coisa de tempo limite nem deveria existir!

— Mana? Tá tudo bem?— Miles pôs a cabeça para dentro do cômodo com um olhar confuso. Ele observou sua irmã arregalar os olhos e o sorriso, chutando um travesseiro para trás ao se colocar de pé.

— Está tudo ótimo, querido!— Ela acenou. Se fosse sincera, diria que se sentia uma tartaruga com um enorme casco pesado em suas costas, um casco que poderia estar cheio de presentes, mas que estava vazio. A cacheada balançou sobre a ponta dos pés.— Definitivamente nada para se preocupar, tudo sobre controle!

— Ok…— Concordou, arrastando as sílabas em tom de estranhamento.— Chapa e eu vamos no Nacho Balls, quer vir? Acho que Bose também vai.

— Não, não, estou bem, você sabe, sem presentes! Quer dizer! Sem fome!— Ela riu nervosamente, curvando-se para frente com a mão na cintura.

— Você quem perde, nós vamos no chique.— Deu de ombros, esticando o braço para cima com um sorriso. — Tchauzinhoooo.

A dona do quarto escondeu o rosto entre as mãos, impedindo um grito –que provavelmente varreria tudo a sua frente– de escapar de sua garganta. Era inacreditável, inadmissível, que ela não tivesse presentes no Natal. Quer dizer, é o Natal! A época mágica onde todos são mais doces, felizes e dançantes…

Mika sentia que dezembro era um mês único, carregado de uma espécie de feitiço que semeava alegria. Ela sentia-se livre para sair na rua, abrir os braços, e rodopiar sem sentido. Sentia que sorrir era mais fácil com tantas decorações encantando as casas, lojas, árvores… Até pessoas, em alguns casos.

Mas o que ela sabia, afinal?
Talvez estivesse sendo apenas poética demais, otimista demais. Agora, por exemplo, ela era a única pessoa sem presentes no Natal. E isso não deveria mesmo ser grande coisa, mas pra ela era…

A Macklin também achava que o Natal era a desculpa perfeita para se aproximar mais de seus amigos. No começo, ela achava que a sensação de estar atrás a abandonaria, que era apenas sua insegurança falando mais alto, porém ela ainda não havia se livrado da sensação de ser a mais afastada do resto.
Ray era visivelmente mais próximo de Chapa, ficava bem claro quando a cacheada os via sorrindo e trocando piadas sobre acabar com pessoas. Não havia o que fazer quanto àquilo, Mika se sentia tão violenta quanto uma almofada de sua avó. Por sua vez, Chapa conseguia se conectar facilmente com Bose, e dava pra notar, mesmo que admitir a deixasse levemente invejosa, o quanto o garoto a admirava. Por fim, seu irmão conseguia sintonizar com praticamente qualquer ser humano da Terra.

¡falling for you • bomika!Onde histórias criam vida. Descubra agora