Intelúdio

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A alma lhe foi arrancadas das mãos. Aquela que lhe pertencia, que lhe fora prometida, a única que lhe trazia paz. Ele gritou em desespero ao ver a luz se apagar daqueles olhos e a raiva acumulada por séculos rasgou sua garganta.

Estúpido.

Burro.

Ingênuo.

Sua casa lhe fora extirpada. Sua família extinguida. Mais uma vez as mãos que lhe destruíram a vida brincavam com sua sanidade exterminavam tudo o que ele um dia amou. Ele achou que poderia ser feliz... que a dívida estava paga. A dívida que não era dele, mas que fora liquidada com seu sangue, de novo e de novo e de novo...

A dor tomava seu peito da mesma forma que o frio daquela mão tomava seu corpo. Ele nunca seria feliz. Ele nunca voltaria para casa. Talvez o universo pudesse quebrar as próprias regras, mas jamais o faria por ele. A marca que queimava em seu peito o dizia imundo, imerecível de misericórdia. Maldito.

O ar escapava de seus pulmões, sem volta, e seus olhos estavam vidrados no teto. As mãos viriam para ele mais uma vez. Elas sempre extinguiam sua vida e o entregavam a uma ainda mais deplorável. "Se eu puder esquecer... apenas uma vez..." ele pensou, enquanto seus olhos se fechavam para nunca mais abrirem.

Naquele corpo, pelo menos.

Jack - PortuguêsOnde histórias criam vida. Descubra agora