Jack - Português

Será um prazer

Clara está internada há seis meses.

Arthur está vivo

— Clara, podemos falar com você?

Clara se balança para frente e para trás.

Arthur está vivo

— Clara? – o médico insiste – Precisamos de você sã para o advogado. Ele diz que você tem uma chance de sair do hospital e voltar pra sua casa.

Clara não responde.

— Você não quer voltar pra casa?

— Arthur? Você não é Arthur! Eu quero falar com Arthur!

Clara joga a primeira coisa em que suas fracas mãos tocam – um travesseiro.

— Clara, com quem você está falando? – pergunta o médico.

O travesseiro vai em uma direção aleatória, sem acertar alguém.

— EU NÃO ESTOU LOUCA!! Por que você...

— Clara?

— Doutor?

— Vai tomar os remédios?

— Não. Eu não estou louca.

Então Clara se fecha para o mundo.

Arthur está vivo

Clara tem que vestir uma camisa de força, pois começou a arrancar seu cabelo e, quando o cabelo de foi, passou a ferir a própria pele.

Clara está numa sala almofadada, pois ela se jogou contra as paredes e deslocou um ombro.

Clara, por falta de opções, é diagnosticada com esquizofrenia.

Clara não tem volta.

— Arthur? – faz tempo que Clara não está consciente. Os remédios lhe tiram os sentidos.

Outros pacientes da ala 7, onde Clara está, começam a ouvir vozes. Aliás, vozes não. Uma voz.

E os pacientes repetem um coro perpétuo e sem sentido.

E os pacientes cantam uma música que nunca tocou no hospital.

E os pacientes falam sobre as ondas de um mar que nunca viram.

E nos grandes e pequenos jornais sai uma manchete digna de grandes letras na primeira página:

"Há suspeitas de maus tratos em sanatório estadual"

E entre os médicos, enfermeiros e suas famílias, todos repetem o mesmo coro:

"Tudo começou com uma paciente chamada Clara."

E no fundo da mente de todos eles, uma voz sussurra histórias de terror e sorri, maligna. Há muito tempo ele não se divertia tanto.