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Faz muito tempo que ninguém me chama de Kimi. Era um apelido bobo que Aiwaza-sensei me deu uma vez, antes dele saber dos meus verdadeiros sentimentos, significa "a que não tem igual". Depois da minha declaração foi sempre Kimiko.

─ Tsk. Eu que deveria estar dizendo isso. Se não vai me ajudar não interfira na luta. - falo, tentando parecer o mais irritada possível.

Ele ignora meu comentário e pula do telhado da casa para o chão, leve como uma pena, me olha de frente. Consigo olhar melhor para ele, o uniforme está um pouco diferente, algumas partes em cinza. Está com cara de quem não dorme a um tempo, o que será que está acontecendo?

Ele também parece me analisar, sei que não é com más intenções mas me sinto um pouco envergonhada. Eu cresci, agora estou quase do mesmo tamanho que ele. Acho que ele percebeu que estava desconfortável e logo voltou a olhar nos meus olhos.

Sinceramente, acho que foi pior isso, mas não vou deixar que ele saiba.

─ Por que fingiu que não conseguia respirar com o gás? - ele pergunta. Sério, isso é a única coisa que ele quer saber depois de não nos vermos a quase três anos?

─ Você... - bufo levemente. - As pessoas gostam de ter a sensação que estão no controle do que está acontecendo. Principalmente quando se trata de uma mulher sendo controlada. - levanto meu rosto e o encaro de cima, tentando o atingir de alguma forma.

─ Hm... - mantém o olhar firme em mim por alguns segundos e logo desvia, olhando para o céu. - Entendo. Como você está?

Caramba, tudo que ele faz está me irritando profundamente agora.

─ Estou bem, obrigado por perguntar. - respondo com um leve toque de ironia. - É, faz muito tempo. O quê tem feito depois de tudo que aconteceu?

A Final Battle foi algo muito pesado para todos, todos ficaram marcados de alguma forma. Aiwaza perdeu All Might e Mic aquele dia, além de Gran Torino. Ele não costuma mostrar sentimentos mas naquele dia ele quase chorou com todos.

Antes que ele pudesse responder várias pessoas correm até mim, incluindo alguns policiais que não estavam algemando o homem-polvo inconsciente e limpando a área. Me parabenizam sobre meu trabalho excelente e pedem fotos.

Converso com eles e acabo esquecendo de Aizawa, quando vejo ele já saiu dali em algum momento.

Mordo meu lábio inferior. Merda, tinha tanta coisa para falar.

Fico ali até anoitecer, dando entrevistas, falando como foi meu tempo de viagem, entre outras coisas. Quando estou finalmente livre resolvo ir andando até em casa.

Pelo caminho acabo passando numa rua muito estranha, passo por um dos postes de luz que estavam piscando, ninguém nas ruas.

─ Que rua estranha... Credo.

Quando ouço um barulho atrás de mim pulo de susto. Me viro e dentre a luz piscando do poste vejo ele.

─ Agora você me segue também, Aizawa?

Ele se aproxima andando lentamente, ainda está com a roupa do uniforme. Calma, ele estava me esperando?

─ Estava te esperando. - ele diz isso quase como se lesse meus pensamentos.

Se aproxima ainda mais, o que me faz inconscientemente ir para trás, levanta a mão e passa por meu cabelo, como ele sempre fez.

─ Você tá achando que eu sou um cachorro? - me afasto dele e de sua mão estranhamente sensual. - Que basta dar um carinho que volta com se nada tivesse acontecido?

Ele coloca as mãos dentro dos bolsos, com cara de culpado.

─ Você nem falou comigo na minha formatura! - digo ignorando a cara dele. - Tudo bem, eu sei que você só queria que eu te superasse mas, poxa, você sabe o quê tinha acontecido!

Estou realmente irritada. Quase chorando, para falar a verdade. Na minha formatura Gran Torino não pode ir, de novo tinha perdido meu pai, e o único resquício dele que eu ainda tinha era Aizawa.

─ Desculpe. - ele finalmente fala algo.

─ ... No fim, não dá pra mudar o que passou. - abro minha mão que estava fechada em um punho, como forma de derrota, e me sento num banco daquela rua estranha. Não estava mais assustada desde que Aizawa chegou.

Aizawa segue meus movimentos com os olhos e logo em seguida se senta do meu lado.

─ Te respondendo, não tenho feito nada diferente de antes. - murmurou baixinho.

Ficamos em silêncio.

─ Eu vou lecionar na U.A, ficou sabendo?

─ Sim, o diretor me contou. Você sempre foi boa em ensinar as coisas para os outros. - continuou murmurando, como quem não sabe o quê dizer.

Mais uma pausa em silêncio.

Ele ia abrir a boca para falar algo quando o interrompo:

─ Você quer beber?

Off Kimiko.

Aizawa SenseiOnde histórias criam vida. Descubra agora